O setor brasileiro do algodão quer se espelhar no exemplo de sucesso do etanol – que trabalha junto à opinião pública a mensagem de sustentabilidade ante os combustíveis fósseis – para mudar o jogo competitivo global com os materiais sintéticos, saindo da disputa por preço – esta considerada perdida – para o embate por valor.
Essa foi a principal pauta discutida na 22ª edição do ANEA Cotton Dinner Golf & Tournament, tradicional evento que reuniu os principais representantes do mercado de algodão brasileiro, nesta segunda (30) e terça-feira (1ª), no Rosewood Hotel, em São Paulo (SP).
Nos últimos anos, as fibras sintéticas, fabricadas a partir de produtos derivados do petróleo, vem ganhando cada vez mais espaço na indústria têxtil mundial, sobretudo pelo quesito do custo mais baixo. No entanto, a questão ambiental relacionada à utilização de fontes não-renováveis – e consequentemente emissoras de gases do efeito estufa – em sua produção passa batida pela percepção do consumidor e da sociedade como um todo.
É nesta trincheira que o segmento algodoeiro quer atuar a partir de agora.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gustavo Piccoli, o desafio é mostrar, por exemplo, que a escolha de roupas à base de fibras sintéticas tem correlação com o aquecimento global.
Na mesma linha, Fernando Pimentel, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), assinalou: “precisamos de uma comunicação positiva, como vem fazendo o segmento do etanol, que exalta suas respectivas entregas ambientais frente à gasolina, e trazer isso para o algodão no tocante às fibras sintéticas“.
De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, uma das iniciativas neste sentido é buscar internacionalizar a campanha “Sou de Algodão“, que em nível doméstico vem aproximando o segmento da cotonicultura ao universo da moda.
Para o diretor de relações internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, um dos caminhos é comunicar o conceito de “BIOfibra” – e tudo de positivo que se associa à palavra “bio” – na competição com os materiais sintéticos.
Brasil mudou o mercado mundial de algodão
Também presente no evento, o head global de negócios de algodão da Louis Dreyfus Company (LDC), Joe Nicosia, ressaltou que o Brasil está mudando o mercado mundial de algodão.
No ano comercial 2023/24, encerrado em julho do ano passado, o país exportou 2,7 milhões de toneladas da fibra, alta de 85% frente à temporada anterior, assumindo a liderança global nos embarques, desbancando assim os Estados Unidos.
“Desde 2006, a área cultivada com algodão no Brasil cresceu 146%, mas a produção aumentou 283%“, disse Nicosia, acrescentado, ainda, o registro de avanço de qualidade da fibra brasileira.
Números apresentados pelo executivo mostram que o Brasil tem hoje aproximadamente 32% de “share” do mercado global de algodão, seguido pelos EUA (28%) e Austrália (11%). “A despeito de ser o maior produtor e importador mundial, o consumo de algodão na China está se estabilizando“.
Para entender como está o mercado global de algodão atualmente e como os programas desenvolvidos pela Abrapa ao longo dos anos ajudaram a posicionar o Brasil no centro do comércio global, acompanhe o Broto Notícias e leia a segunda parte desta reportagem, que será publicada em breve.