Imagem simboliza o o Proálcool, que completa 50 anos neste ano
Foto: Wenderson Araujo/CNA

As usinas do Centro-Sul do Brasil deverão processar 625,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2026/27 – que terá início em 1º de abril do ano que vem –, aponta a primeira projeção da DATAGRO, divulgada nesta semana, durante a programação da 25ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Etanol, promovida pela própria consultoria.

Para a temporada em vigor (2025/26), a DATAGRO está projetando a moagem de 607,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Até o dia 1º de outubro, haviam sido processadas 490,9 milhões de toneladas da matéria-prima, de acordo com dados da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). “A safra atual tem sido marcada pela heterogeneidade, mas a produtividade média segue alinhada com nossa previsão”, afirmou o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari.

A consultoria prevê que 75% das usinas do Centro-Sul devem encerrar as operações de moagem da safra 2025/26 na segunda quinzena de novembro.

Voltando às atenções para a safra 2026/27, a consultoria estima que a produção média de ATR ficará em 139,5 kg/tc – ante 137,4 kg/tc na temporada 2025/26 – e o mix para açúcar em 52,0% – praticamente igual aos 52,1% projetados para o atual ciclo. Com isso, a produção de açúcar deve totalizar 43,2 milhões de toneladas na próxima safra; volume que, se confirmado, ficará 4,3% acima das 41,4 milhões de toneladas esperadas para a temporada de 2025/26.

Segundo Nastari, o primeiro terço da safra 2026/27 do Centro-Sul do Brasil deverá ser marcada pela baixa expectativa de cana bisada, melhor estande, chuvas atrasadas, alguns sintomas de seca e aumento da pressão de S. levis – o popular  bicudo-da-cana-de-açúcar, uma praga agrícola que causa danos severos aos canaviais, levantando alerta aos produtores independentes, que fornecem cana para as usinas. 

Para o segundo terço, a DATAGRO espera um melhor estande, movimento normal para o período e uma leve redução da incidência do bicudo. “Já o terceiro terço dependerá muito do clima e das chuvas de abril, que são cruciais para esta área. Além disso, temos alguns produtores projetando aumento do plantio de ano”, afirma Nastari.

Durante sua apresentação, o presidente da DATAGRO elencou alguns pontos fortes que tendem a fazer o setor sucroenergético continuar expandindo, tais quais o reconhecimento do etanol como o combustível da descarbonização e o crescimento de 0,5% a 1% ao ano do consumo mundial de açúcar

“Podemos citar também o Brasil como o único país do mundo que tem certificação individual de intensidade de carbono, através do RenovaBio, e os biocombustíveis como elementos-chave na integração de cadeias produtivas: cana, grãos e pecuária“, acrescentou.

Do lado negativo, Plinio elencou como fatores que desestimulam o setor sucroenergético o fato do plantio de cana-de-açúcar ser uma atividade de capital intensivo e o elevado custo da terra, que não para de crescer, sobretudo no estado de São Paulo.

Balanço mundial de açúcar aponta para superávit 

No evento, a DATAGRO também ajustou suas estimativas para o balanço mundial de açúcar. Para a safra 2024/25 – que foi de outubro a setembro – a consultoria revisou sua estimativa de déficit de 5,22 para 5,00 milhões de toneladas; já para a safra 2025/26, a previsão saiu de um superávit de 920 mil toneladas para um saldo positivo de 1,98 milhão de toneladas.

Essa tendência de saída para um superávit cada vez maior no mercado global de açúcar tende a pressionar ainda mais os preços da commodity no médio prazo, o que pode mudar as dinâmicas do setor sucroenergético. Além de uma maior produção brasileira esperada para o ano que vem, importantes países produtores de cana, como Índia e Tailândia, também devem registrar safras cheias

Em 10 anos, etanol de milho deve alcançar o de cana

Além da volta do sudeste asiático ao mercado internacional de açúcar, desafiando a posição do Brasil como única alternativa viável para a compra da commodity, as usinas brasileiras de cana deverão perder, em menos de uma década, o domínio da oferta nacional de etanol para as plantas que produzem o biocombustível à base de milho

A visão é da DATAGRO e também foi apresentada na conferência desta semana. De acordo com a consultoria, há atualmente 25 usinas de etanol de milho em operação no Brasil, 18 em construção e 19 em fase de projeto

Todas essas plantas deverão possuir uma capacidade instalada de produção do biocombustível à base do cereal de 24,7 bilhões de litros em 2034, volume praticamente igual ao que as usinas de etanol de cana produzem atualmente. Nesta safra, elas devem fabricar 25 bilhões de litros; e não há perspectivas de que elas aumentem sua produção nos próximos dez anos.

Em suma, daqui a nove anos, metade da produção brasileira de etanol será oriunda do processamento de milho e a outra metade de cana. Apesar de se tratar da mesma molécula e ambos contribuírem para o Brasil liderar cada vez mais a transição energética, o etanol de milho vem se apresentando mais competitivo do que o etanol de cana, principalmente por possuir subprodutos – tais quais o DDG e o óleo – de alto valor agregado