
Resumo da notícia
- Bicudo e broca da cana são as principais pragas que afetam a produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar no Brasil.
- O bicudo danifica as touceiras por meio de galerias no colmo, enquanto a broca compromete o teor de sacarose e o rendimento industrial.
- As doenças fúngicas e bacterianas, como ferrugem e raquitismo, agravam os prejuízos e exigem manejo integrado.
- O controle biológico, com Cotesia flavipes (para a broca) e nematoides entomopatogênicos (para o bicudo), é uma alternativa sustentável.
- Monitoramento constante, uso de armadilhas e boas práticas agrícolas garantem prevenção eficaz e maior sustentabilidade na produção.
A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes do Brasil, base da produção de açúcar, etanol e energia. Mas, assim como outras lavouras, está sujeita a uma série de pragas e doenças que afetam diretamente a produtividade e a qualidade da matéria-prima.
Entre as principais ameaças estão o bicudo da cana (Sphenophorus levis) e a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), dois insetos que podem causar prejuízos severos se não forem identificados e controlados a tempo.
A boa notícia é que, com o avanço das tecnologias agrícolas e a adoção de práticas sustentáveis, os produtores dispõem hoje de ferramentas mais eficientes para monitorar, prevenir e combater esses inimigos invisíveis.
Principais pragas da cana: bicudo e broca
O manejo das pragas da cana-de-açúcar é um desafio histórico para o setor sucroenergético. O bicudo da cana e a broca da cana são as espécies que podem causar grandes impactos econômicos, com potencial de reduzir a produtividade, comprometer a qualidade do caldo e aumentar o custo de colheita.
Esses insetos têm hábitos e ciclos de vida distintos, mas ambos se desenvolvem dentro do colmo, dificultando o controle químico e exigindo estratégias integradas de manejo.
Ciclo e sintomas do bicudo
O bicudo da cana (Sphenophorus levis) é considerado uma das pragas mais destrutivas da cultura. O inseto adulto mede cerca de 1 cm, possui coloração escura e apresenta o típico “bico” alongado que dá origem ao nome popular.
A fêmea deposita os ovos na base dos colmos, próximos às gemas. Quando as larvas eclodem, penetram no interior da planta e iniciam a alimentação dos tecidos internos, abrindo galerias que comprometem a condução de seiva e o desenvolvimento da touceira.
Os principais sintomas do ataque do bicudo são:
- Murcha e amarelecimento das folhas;
- Retardo no crescimento das plantas;
- Quebra fácil dos colmos durante a colheita;
- Apodrecimento das touceiras e falhas no canavial.
Além dos danos diretos, o bicudo favorece a entrada de pragas secundárias, aumentando ainda mais as perdas. Em áreas infestadas, a rebrota é prejudicada, levando à necessidade de renovação precoce do canavial, o que é um custo significativo para o produtor.
Ciclo e sintomas da broca
A broca da cana (Diatraea saccharalis) é outra praga amplamente disseminada nas lavouras brasileiras. A fêmea mariposa coloca seus ovos nas folhas, e as lagartas, ao eclodirem, migram para o colmo. Lá, abrem galerias internas, alimentando-se dos tecidos e reduzindo a quantidade e a qualidade do caldo.
Os sintomas do ataque da broca incluem:
- Presença de orifícios circulares no colmo;
- Resíduos de excrementos nas perfurações;
- Colmos quebradiços e com menor teor de sacarose;
- Redução do rendimento industrial e aumento da acidez do caldo.
Estima-se que infestações graves de broca possam causar perdas superiores a 10% na produtividade, além de afetar a eficiência da fermentação e da cristalização do açúcar.
Impacto das doenças e pragas na produtividade e qualidade da cana
As doenças e pragas da cana-de-açúcar interferem no campo e na indústria. Nas plantações, o impacto se reflete em menor desenvolvimento vegetativo, falhas na brotação e aumento da mortalidade das touceiras. Na usina, o reflexo é sentido na qualidade do caldo, que apresenta menor teor de sacarose, maior acidez e aumento de impurezas.
Além do bicudo e da broca, doenças como a ferrugem alaranjada (Puccinia melanocephala), o carvão (Sporisorium scitamineum) e o raquitismo-da-soqueira (Leifsonia xyli xyli) continuam sendo desafios importantes.
Práticas culturais e controle biológico das doenças
O controle sustentável das pragas e doenças da cana-de-açúcar depende da integração de diferentes estratégias. As práticas culturais são o primeiro passo:
- Uso de mudas sadias e certificadas;
- Rotação de áreas e renovação de soqueiras em intervalos adequados;
- Eliminação de soqueiras infestadas e restos culturais;
- Preparo adequado do solo e correção da fertilidade.
Já o controle biológico tem ganhado destaque como alternativa viável e ambientalmente correta. No caso da broca da cana, o uso da vespa Cotesia flavipes, um inimigo natural da praga, é amplamente adotado no Brasil. Ela parasita as larvas da broca, reduzindo significativamente a população do inseto no campo.
Para o bicudo da cana, a aplicação de nematoides entomopatogênicos (Heterorhabditis spp. e Steinernema spp.) tem mostrado bons resultados, pois esses microrganismos atacam as larvas dentro do solo, onde o inseto completa parte de seu ciclo.
Além disso, a introdução de tecnologias como drones e sensores de imagem vem aprimorando o monitoramento e a precisão das aplicações, reduzindo custos e impactos ambientais.
Monitoramento, armadilhas e tomadas de decisão no campo
O monitoramento constante é essencial para identificar o início das infestações e definir o momento ideal de intervenção. Técnicos e produtores devem realizar amostragens periódicas nas lavouras, observando sintomas, orifícios nos colmos e presença de adultos ou larvas.
As armadilhas são ferramentas indispensáveis nesse processo. No caso do bicudo, armadilhas com feromônio sexual ajudam a detectar a presença de machos adultos, permitindo estimar a densidade populacional da praga. Para a broca, armadilhas luminosas são utilizadas para capturar as mariposas e orientar as ações de controle.
Com base nas informações coletadas, é possível aplicar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), combinando métodos químicos, biológicos e culturais apenas quando necessário. Essa abordagem reduz o uso de defensivos, preserva inimigos naturais e contribui para uma produção mais sustentável e econômica.
Prevenção e recomendações para safra sustentável
A prevenção é sempre mais eficiente e econômica do que o combate após a infestação. Por isso, a adoção de boas práticas agrícolas deve ser prioridade em todas as fases do cultivo da cana-de-açúcar.
Entre as principais recomendações estão:
- Inspeções frequentes nas áreas de produção e viveiros de mudas;
- Uso de variedades resistentes a pragas e doenças;
- Manejo equilibrado da adubação, evitando excesso de nitrogênio, que favorece ataques;
- Planejamento de corte e rebrota de forma a reduzir o acúmulo de matéria orgânica propícia à proliferação de insetos;
- Capacitação da equipe técnica e atualização constante sobre novas tecnologias de controle.
Com essas medidas, é possível minimizar as perdas e garantir a longevidade do canavial, mantendo a rentabilidade e a sustentabilidade na produção de cana-de-açúcar.
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