
Nesta travessia de financeirização do agronegócio brasileiro, as operações de barter vêm ganhando terreno entre agentes do setor – em particular produtores, revendas de insumos agrícolas e tradings de grãos – pela fluidez e confiabilidade das negociações, o que vem ampliando a oferta e liquidez de crédito para o campo.
Nesta modalidade, o agricultor obtém produtos e/ou serviços para a implantação e manejo da lavoura, como sementes, defensivos, fertilizantes, assistência técnica e extensão rural, junto a revendas de insumos ou tradings em troca da entrega futura da produção.
Segundo o professor universitário Eugenio Stefanelo, doutor em engenharia da produção e ex-secretário da Agricultura do Paraná, considerado um dos principais especialistas em economia agrícola do país, o barter teve seu arranque ainda na década de 90 do século passado e ganhou corpo a partir de meados dos anos 2000. “Funciona como um crédito rápido para aquele agricultor que está sem recursos no momento para a aquisição de insumos, e tem a projeção de safra futura que será usada para pagar o empréstimo. Ao mesmo tempo, fideliza este produtor à revenda ou trading”, explica.
De acordo com Stefanelo, com a expansão natural do barter, “que pegou no agro”, a operação veio se modernizando, do ponto de vista de segurança jurídica para as partes, e ganhou novo protagonismo com a incorporação da Cédula de Produto Rural (CPR) como lastro. “Com a adoção da CPR como instrumento de garantia, a transação do barter, que, ao pé da letra, se trata de um escambo propriamente dito, ganha confiança e credibilidade”, destaca.
Números da mais recente edição do Boletim de Finanças Privadas do Agro, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), destacam que os registros acumulados de emissão de CPR na safra 2024/25, de julho a fevereiro, já somam R$ 268,84 bilhões, valor 68% superior ao verificado no mesmo intervalo do ciclo passado.
Othavio Parisi, diretor da Central de Registros de Direitos Creditórios (CRDC), infraestrutura do mercado financeiro especializada no registro de CPR no Banco Central, frisa que o barter “ancorado” na CPR ganhou musculatura, tornando-se uma solução eficiente e segura para quem empresta, sendo simultaneamente uma operação desburocratizada e mitigadora de riscos para quem toma o crédito.
O executivo pontua que o caráter prático de antecipação de cenários, resultado da combinação “barter com lastro em CPR”, fornece previsibilidade à operação por completo, reduzindo, por exemplo, riscos referentes à volatilidade dos preços das commodities para todos, em especial para o produtor. O agricultor, por sua vez, diz Stefanelo, pode por meio do barter travar custos com insumos antes de uma desvalorização maior das cotações, reduzindo sua exposição às oscilações inerentes aos mercados agrícolas. Dessa forma, acentua, o barter também pode ser uma alternativa de captação de crédito segura, interessante e viável para a agricultura familiar.