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Brasil amplia uso de insumos agrícolas e reforça logística reversa de embalagens

Crescimento nas importações de fertilizantes aumenta responsabilidade do setor em relação ao descarte correto e sustentável

Leitura: 6 Minutos
A imagem apresenta uma das etapas do Sistema Campo Limpo, de logística reversa de embalagens
Foto: Divulgação/inpEV

Importantes ferramentas para o agronegócio, os fertilizantes, insumos e defensivos agrícolas são fundamentais para o controle de pragas e o desenvolvimento das lavouras brasileiras. O país, que já figura entre os principais consumidores globais, registrou em agosto um recorde de 5,24 milhões de toneladas de fertilizantes importados, volume 9,3% superior a julho e 7,1% acima do mesmo mês de 2024, conforme os dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

No acumulado de 2025, o Brasil já soma 29,44 milhões de toneladas importadas, aumento de 8,5% em relação ao ano anterior, superando o recorde de 2024 (27,12 milhões de toneladas). A tendência é de crescimento contínuo: segundo o Ministério da Agricultura, a demanda deve atingir 58,5 milhões de toneladas anuais em 2030 e 73,1 milhões em 2036.

O uso de insumos químicos exige cuidados também após a aplicação no campo. De acordo com a Embrapa, resíduos de fertilizantes podem colocar em risco a saúde humana e os ecossistemas se descartados incorretamente.

Por isso, a legislação brasileira estabelece que todos os elos da cadeia — produtores, distribuidores, indústrias e poder público — são responsáveis por assegurar o destino ambientalmente correto dos defensivos agrícolas e suas embalagens.

Diante dessa preocupação, nasceu em 2002 o Sistema Campo Limpo, referência mundial em logística reversa. A iniciativa, que antecedeu a legislação vigente, uniu empresas do setor, órgãos públicos e o governo federal para enfrentar o descarte inadequado de embalagens, antes queimadas, enterradas ou reaproveitadas de forma insegura.

O funcionamento da logística reversa é baseado em responsabilidades compartilhadas:

  • Produtores: realizam a tríplice lavagem, inutilizam e armazenam as embalagens, devolvendo-as nos pontos indicados e guardando o comprovante de entrega por um ano.
  • Distribuidores e cooperativas: recebem o material, armazenam de forma adequada, emitem comprovantes e orientam os agricultores.
  • Indústria (inpEV): retira as embalagens dos pontos de coleta, destina-as à reciclagem ou incineração e promove campanhas de conscientização.
  • Poder público: fiscaliza, licencia unidades de recebimento e apoia programas educativos.

Sustentabilidade e inovação na logística reversa

Para Marcelo Okamura, diretor-presidente do inpEV, o sistema se consolidou como uma ferramenta essencial para a sustentabilidade do agronegócio.

“O inpEV nasceu em 2002 e, desde então, já garantiu a destinação correta de milhares de toneladas de embalagens. Só neste ano vamos superar 75 mil toneladas coletadas. É um trabalho que só funciona porque envolve responsabilidades compartilhadas entre produtores, distribuidores e indústria”, destacou.

Segundo Okamura, a rede conta hoje com cerca de 411 unidades fixas de recebimento espalhadas pelo país e mais de 4.500 operações itinerantes, voltadas especialmente para pequenos produtores em regiões distantes. Essa capilaridade permite que o Brasil esteja entre os países com maior índice de retorno de embalagens do mundo.

Impactos sociais, ambientais e econômicos

A reciclagem das embalagens traz benefícios múltiplos:

  • Cada embalagem reciclada de 20 litros evita a emissão de 1,49 kg de CO₂ em comparação à produção com resina virgem.
  • A cada 500 embalagens recicladas, economiza-se mais de 4 mil litros de água.
  • O sistema gera mais de 2.500 empregos diretos em todas as regiões do país.
  • O material reciclado retorna ao mercado em forma de novas embalagens, tubos e conexões.

“O nosso sistema é o verdadeiro ESG do setor agro no Brasil”, afirmou Okamura.

Orientações práticas para o produtor

Ainda na fazenda, o produtor deve realizar a tríplice lavagem das embalagens vazias de defensivos agrícolas: ou seja, enxaguar três vezes com água, utilizando o jato dirigido no interior da embalagem para remover os resíduos. 

Depois dessa lavagem, é preciso inutilizar a embalagem (por exemplo, perfurando, cortando ou deformando, para não poder ser reutilizada indevidamente) e armazená-la em local coberto, seco e sem contato com alimentos ou água de chuva, até que possa transportá-la ou entregá-la para o recolhimento. 

Conservando também o comprovante de entrega das embalagens ao ponto de coleta, por pelo menos um ano, conforme exige o programa.

Destino das embalagens: para onde levá-las

Uma vez acondicionadas corretamente na fazenda, as embalagens devem ser levadas a unidades de recebimento fixas do Sistema Campo Limpo ou entregues em coletas itinerantes, que acontecem em determinadas datas próximas às regiões de produção. 

As unidades de recebimento são pontos estabelecidos pelo inpEV para concentrar o material. As embalagens já tratadas (lavadas, inutilizadas) são recebidas nesses locais, onde são armazenadas adequadamente e depois encaminhadas para reciclagem ou incineração, conforme o tipo e a legislação aplicável.

Como consultar pontos de coleta próximos para logística reversa

O produtor pode localizar unidades de recebimento fixas próximas ou verificar quando haverá recebimentos itinerantes usando o sistema de consulta do inpEV. 

Na página de logística reversa do portal do inpEV, existe uma seção “Unidades de Recebimento” onde é possível inserir município ou CEP para encontrar o ponto mais próximo. 

Também há a opção de “Agendamento eletrônico” para marcar a entrega, e o calendário de operações itinerantes, para quem está em regiões mais remotas. 

Selo Ouro do GHG Protocol

Recentemente, o inpEV conquistou o Selo Ouro do GHG Protocol, que reconhece a medição e gestão de emissões de gases de efeito estufa. “Além de prestar o serviço ambiental, temos que fazê-lo de forma responsável. Medimos nossas emissões, passamos por auditorias externas e mantemos projetos de redução contínua”, explicou Okamura.

Projetos futuros

Entre os próximos passos, o inpEV prevê reciclar 100% das embalagens flexíveis até 2027/2028, hoje ainda destinadas à incineração. Com isso, o índice de reciclagem no Brasil poderá chegar a 97% a 98% do total de embalagens.

Outros projetos incluem:

  • Otimização do transporte para reduzir emissões de CO₂.
  • Expansão da rede de unidades de recebimento.
  • Adoção de novas tecnologias para tornar o sistema ainda mais eficiente.
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