
A escassez de água é um desafio crescente no Brasil, tornando a busca por culturas adaptadas à seca cada vez mais necessárias aos produtores rurais. Além disso, as mudanças climáticas têm impactado diretamente a agricultura, exigindo soluções inovadoras para garantir a produção de alimentos mesmo em condições adversas.
Nos últimos anos, o Brasil atravessou períodos severos de seca, afetando mais de dois mil municípios em sete estados. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre as safras 2014/15 e 2023/24, cinco dos principais estados produtores de soja no Brasil deixaram de colher cerca de 160 milhões de toneladas do grão, resultando em um prejuízo estimado de US$ 80 bilhões.
A seca histórica também elevou os preços globais, impactando diretamente culturas como café e cana-de-açúcar.
A busca por alternativas se torna cada vez mais urgente. Neste artigo, vamos explorar os impactos do clima na produtividade agrícola, as culturas resistentes à seca e ao calor, estratégias para aumentar a resiliência das plantações e inovações que prometem transformar a agricultura em regiões áridas.
Como o clima afeta a produtividade agrícola?
A agricultura é um setor que depende diretamente das condições climáticas, já que as circunstâncias da natureza podem impactar diretamente no desenvolvimento e produtividade das lavouras. Temperaturas elevadas podem acelerar o ciclo de vida das plantas, levando a colheitas precoces e tornando-as mais suscetíveis a pragas e doenças.
Além disso, a escassez de água compromete o crescimento das plantas, dificultando a fotossíntese e a absorção de nutrientes. Eventos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas, aumentam a vulnerabilidade das lavouras, reduzindo tanto a qualidade quanto a quantidade da produção agrícola. Por outro lado, o excesso de água também pode trazer prejuízos para o desenvolvimento das culturas.
Principais culturas adaptadas ao calor e à seca
Selecionar culturas resistentes à seca e adaptadas a períodos de estiagem é uma das principais estratégias para garantir produtividade em climas secos. Para isso, é fundamental entender as necessidades de cada região e adequá-las ao cultivo em cada propriedade. Agora, conheça as principais opções para driblar a seca.
Milho
O milho é cultivado globalmente para alimentação humana e animal. Essa cultura exige solos férteis e boa disponibilidade hídrica, mas também possui variedades adaptadas a diferentes climas, graças a técnicas de seleção genética e ao uso de milho transgênico.
Confira, em seguida, algumas características que tornam esse grão uma das culturas resistentes à seca:
- Possui um sistema radicular profundo, permitindo que acesse reservas de água em camadas mais profundas do solo, mesmo durante períodos prolongados de seca;
- Variedades geneticamente modificadas projetadas para apresentar maior tolerância à deficiência hídrica e manter a produtividade em condições adversas;
- Ciclos de vida mais curtos, que possibilitam seu desenvolvimento antes dos momentos mais críticos da estiagem, minimizando perdas e garantindo colheitas mais seguras.
Sorgo
O sorgo possui variedades graníferas e forrageiras, sendo também matéria-prima para a produção de biocombustíveis. Veja algumas características que tornam esse cereal como uma boa opção de cultivo em climas secos:
- Alta resistência à seca, com mecanismos que reduzem a transpiração, garantindo sobrevivência em ambientes com baixa disponibilidade hídrica;
- É um alimento rico em proteínas, fibras e minerais, utilizado tanto na nutrição humana quanto em rações para animais;
- O cereal possui folhas com camadas de cera protetoras, que contribuem para a conservação da umidade.
Feijão-caupi (feijão-de-corda)
O feijão-caupi é uma leguminosa nutritiva e adaptada a solos pobres e climas quentes, com origem no continente africano. Sua resistência à seca o torna fundamental para a agricultura familiar, principalmente na região semiárida nordestina, onde sua produção se manteve concentrada por anos. Veja como o feijão-caupi se torna uma boa opção em ambientes mais quentes:
- Adaptado a climas quentes e solos pobres, o feijão-caupi é uma das maiores culturas resistentes à seca;
- Assim como o milho, também possui um sistema radicular profundo, que permite absorver água em camadas inferiores do solo, mesmo em longos períodos de estiagem;
- Possui mecanismos fisiológicos especializados, que regulam a transpiração e aumentam a eficiência no uso da água.
Amendoim
O amendoim é uma planta oleaginosa rica em proteínas e gorduras saudáveis. Seu cultivo é favorável em solos arenosos, que facilitam a colheita. Apresenta boa fixação de nitrogênio, beneficiando a rotação de culturas. Veja a seguir como o amendoim é uma alternativa para a produção em ambientes secos:
- Adapta-se bem a solos secos e climas quentes, especialmente após a fase inicial de enraizamento;
- Apresenta resistência hídrica, embora seja sensível à falta de água no período de florescimento;
- Capaz de fixar nitrogênio no solo, favorecendo práticas de rotação de culturas.
Mandioca
A mandioca é uma raiz altamente energética. Resistente a pragas e variações climáticas, tem grande importância econômica, estando presente no dia a dia da população brasileira. Graças às suas características rústicas, a mandioca demanda menos fertilidade do solo e consegue enfrentar períodos de seca. Confira abaixo os benefícios do cultivo de mandioca em condições mais secas:
- Reconhecida como uma das melhores culturas resistentes à seca no Brasil, sendo cultivada em diversas regiões do semiárido;
- É um alimento rústico, menos exigente de solos mais férteis.
- Por se tratar de um tubérculo, os solos preferidos são os arenosos profundos e soltos;
- No campo da inovação, iniciativas como o Programa Reniva, da Embrapa, garantem mudas adaptadas ao clima semiárido e livres de doenças, ampliando a produtividade de pequenos agricultores.
8 estratégias para aumentar a resiliência das plantações
A resiliência agrícola refere-se à capacidade das lavouras de se adaptarem e se recuperarem após períodos de seca ou calor extremo. Para aumentar essa resiliência, algumas estratégias são essenciais:
1. Melhoramento genético e de biotecnologia
- Desenvolvimento de cultivares mais resistentes à seca e ao calor;
- Uso de engenharia genética, como edição genética CRISPR, para criar variedades mais adaptadas.
2. Sistemas agroflorestais
- Integração de árvores e cultivos para melhorar a retenção de umidade;
- Redução da evaporação da água do solo.
3. Técnicas de conservação do solo
- Cobertura morta e plantio direto para evitar a perda de umidade;
- O Sistema de Plantio Direto (SPD) reduz a erosão e melhora a estrutura do solo.
4. Irrigação eficiente
- Uso de gotejamento e irrigação subterrânea para evitar desperdícios;
- Técnicas adaptadas a diferentes tipos de solo.
5. Uso de biofertilizantes
- Retêm umidade no solo, reduzindo a necessidade de irrigação constante;
6. Monitoramento climático e manejo inteligente
- Sensores de umidade e previsões climáticas para otimizar a tomada de decisões.
7. Integração de sistemas produtivos
- Incentivos para práticas sustentáveis no manejo da água e do solo.
8. Eficiência no uso da água
- Técnicas adaptadas a cada uma das culturas resistentes à seca para minimizar impactos dela.
Tendências e inovações para a agricultura em regiões secas
Com o avanço da biotecnologia e das práticas conservacionistas, é possível reduzir os efeitos da escassez de água e garantir a segurança alimentar no Brasil.
Estratégias inovadoras estão sendo implementadas para minimizar os impactos da escassez hídrica e garantir a segurança alimentar. Uma das principais abordagens envolve a captação e gestão eficiente da água, com tecnologias como cisternas para armazenamento da água da chuva e barragens subterrâneas, que permitem o acúmulo de água no subsolo para uso durante os períodos de estiagem.
Entre as soluções, a edição genética com CRISPR tem se mostrado inovadora para o desenvolvimento de plantas mais resistentes ao estresse hídrico, permitindo cultivos mais adaptados a períodos de estiagem prolongada. Além disso, inteligência artificial, sensores e drones têm sido cada vez mais aplicados na agricultura para melhorar o monitoramento do solo e otimizar o uso de recursos hídricos.
Outra inovação de destaque é o Sistema Antecipe, desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo, que permite antecipar o plantio do milho safrinha nas entrelinhas da soja em até 20 dias, possibilitando maior produtividade em regiões de clima seco.
Além disso, o governo brasileiro tem investido em programas de incentivo à adoção de novas tecnologias agrícolas. O Reniva, projeto da Embrapa para a mandioca, busca ampliar a produção de mudas adaptadas ao semiárido.
Assim como mencionado, outra estratégia essencial para a sustentabilidade da agricultura em regiões secas é a adoção de práticas de manejo sustentável, como o SPD, que contribui para a recuperação de pastagens degradadas, reduzindo a erosão e aumentando a retenção de umidade no solo. Além disso, o uso de biochar como condicionador de solo tem se mostrado eficiente na melhoria da fertilidade e retenção de água, garantindo maior produtividade agrícola em condições de estiagem prolongada.
A adoção dessas tecnologias, combinada a práticas tradicionais, pode tornar a produção agrícola mais eficiente diante de cenários desafiadores, garantindo a segurança alimentar no Brasil.
Gostou das informações? Aproveite e saiba mais sobre os tipos de grãos de milho, uma das principais culturas residentes ao clima quente e seco.