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Curvas de nível na agricultura: o que são, como funcionam e benefícios

Técnica milenar de conservação do solo ganha cada vez mais relevância na agricultura moderna, aliando produtividade e sustentabilidade

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Foto: pexels
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As curvas de nível são linhas imaginárias traçadas sobre o terreno que ligam pontos de mesma altitude. Na prática agrícola, transformam-se em práticas de manejo que orientam o plantio, a construção de carreadores e até a disposição de culturas de acordo com a declividade natural do solo.

Essa técnica é considerada uma das formas mais antigas e eficientes de conservação do solo e da água, sendo utilizada há séculos em diferentes regiões do mundo. No Brasil, ganhou força a partir da década de 1970 como medida de combate à erosão, especialmente em áreas de relevo ondulado ou montanhoso.

Ao seguir as curvas de nível, o produtor impede que a água da chuva escorra de forma acelerada morro abaixo, reduzindo a perda de nutrientes e evitando o assoreamento de rios e represas. 

Por que utilizar curvas de nível na agricultura

A principal razão para adotar curvas de nível está na conservação do solo. A erosão hídrica é um dos maiores inimigos da produtividade agrícola, especialmente em regiões tropicais, onde as chuvas intensas são frequentes.

Segundo estimativas da Embrapa, a erosão pode levar embora até 20 toneladas de solo fértil por hectare/ano em áreas sem práticas conservacionistas. Esse desgaste prejudica não só a lavoura atual, mas também a sustentabilidade da propriedade a longo prazo.

Além disso, as curvas de nível:

  • Aumentam a infiltração de água no solo, favorecendo o armazenamento hídrico;
  • Diminuem a necessidade de insumos, já que evitam a perda de nutrientes por lixiviação;
  • Protegem áreas de preservação permanente (APPs) ao reduzir o carreamento de sedimentos;
  • Contribuem para o equilíbrio ambiental, diminuindo o assoreamento de mananciais.

Como funcionam as curvas de nível no campo

O princípio de funcionamento é simples: quando a água encontra barreiras no mesmo nível de altitude, perde velocidade. Dessa forma, infiltra-se no solo, em vez de escorrer superficialmente.

Em um terreno preparado com curvas de nível, os sulcos de plantio, estradas internas e até mesmo cercas são planejados para acompanhar as linhas do relevo. Isso transforma o fluxo de água em um processo mais lento e controlado, que nutre o solo em vez de degradá-lo.

Na prática, o efeito é semelhante a criar uma série de degraus invisíveis na paisagem, capazes de reter água, sedimentos e nutrientes.

Como fazer curvas de nível na prática

A implantação de curvas de nível envolve etapas técnicas que exigem planejamento. Veja o passo a passo:

  1. Levantamento topográfico. O primeiro passo é identificar a declividade do terreno. Isso pode ser feito com equipamentos como nível de mangueira, teodolito ou até drones e softwares de mapeamento.
  2. Traçado das linhas de nível. Com base nos pontos de altitude, traçam-se as linhas no terreno. Elas devem ser paralelas entre si, respeitando sempre a topografia local.
  3. Marcação no campo.  As curvas são marcadas com estacas ou piquetes, que servirão de guia para máquinas agrícolas e operações de preparo de solo.
  4. Execução. O preparo mecanizado do solo, a construção de sulcos ou mesmo a instalação de barreiras vegetais (como faixas de capim ou adubação verde) são feitos de acordo com a marcação.
  5. Manutenção. Com o tempo, as curvas podem sofrer alterações devido a chuvas fortes ou operações agrícolas. É importante revisar periodicamente o alinhamento e corrigir eventuais falhas.

Benefícios das curvas de nível para o solo e para a produção

O uso das curvas de nível gera ganhos expressivos, tanto ambientais quanto econômicos. Entre os principais benefícios, destacam-se:

  • Redução da erosão: menor perda de solo fértil e menor formação de ravinas;
  • Maior fertilidade: retenção de matéria orgânica e nutrientes essenciais;
  • Melhor infiltração de água: maior recarga do lençol freático e disponibilidade hídrica para as plantas;
  • Aumento da produtividade: lavouras mais saudáveis e menos sujeitas a estresses climáticos;
  • Menor assoreamento: preservação de rios, lagos e represas próximos à propriedade;
  • Menor custo de produção: uso mais eficiente de corretivos e fertilizantes, já que não são levados pelas enxurradas.

Quais culturas se beneficiam mais das curvas de nível?

As curvas de nível podem ser aplicadas em praticamente todas as lavouras, mas algumas culturas se destacam pela resposta positiva ao manejo. 

Isso ocorre porque são mais sensíveis à erosão ou porque exigem maior conservação da umidade no solo. Entre as principais estão:

  • Soja e milho: duas das culturas mais importantes do Brasil, ambas se beneficiam da retenção de nutrientes e água no solo proporcionada pelas curvas de nível. O sistema contribui para lavouras mais uniformes e produtivas, reduzindo perdas em áreas declivosas.
  • Café: muito comum em terrenos de relevo ondulado, o café apresenta bons resultados quando cultivado em curvas de nível, já que a prática reduz erosões em talhões e ajuda a conservar a fertilidade por mais tempo.
  • Cana-de-açúcar: cultura de ciclo longo e grande exigência em nutrientes, a cana demanda cuidados extras contra a erosão. O plantio em curvas de nível auxilia na preservação do solo durante vários cortes.
  • Pastagens: fundamentais para a pecuária, as pastagens também sofrem com degradação causada pelo escoamento superficial da água. O manejo em curvas de nível evita formação de sulcos e ravinas, garantindo forragem de melhor qualidade para o rebanho.

A técnica ajuda a manter a rentabilidade da lavoura e prolonga a vida útil das áreas de produção.

Curvas de nível e terraceamento: qual a diferença?

Embora muitas vezes confundidos, curvas de nível e terraceamento são práticas distintas.

  • Curvas de nível: são linhas de plantio ou de manejo feitas para seguir a topografia natural. Seu objetivo principal é diminuir a velocidade da água e aumentar a infiltração.
  • Terraceamento: consiste na construção de estruturas físicas no terreno, como degraus ou canais, capazes de reter grandes volumes de água. É uma medida mais robusta, indicada para áreas de declive acentuado ou com alto risco de erosão.

Enquanto as curvas de nível são mais acessíveis e menos onerosas, o terraceamento demanda maior investimento em máquinas e manutenção. Na prática, ambas podem ser usadas de forma complementar, de acordo com as características da propriedade.

Curvas de nível podem ser aliadas da agricultura sustentável

No cenário atual, em que a sustentabilidade é um dos principais pilares da agricultura, as curvas de nível se apresentam como uma solução simples, de baixo custo e alto impacto positivo.

Essa prática contribui diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ao:

  • Proteger recursos hídricos;
  • Conservar solos agrícolas;
  • Reduzir emissões indiretas de carbono ligadas à degradação do solo;
  • Apoiar a segurança alimentar ao garantir maior estabilidade produtiva.

As curvas de nível são indispensáveis no campo

As curvas de nível são muito mais do que uma técnica de conservação de solo: representam um investimento estratégico para a produtividade e a longevidade da atividade agrícola. Aliando simplicidade, baixo custo e eficácia comprovada, elas se consolidam como uma prática essencial para pequenos e médios produtores que buscam sustentabilidade, rentabilidade e respeito ao meio ambiente.

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