Especial

El Niño e La Niña: o que são, diferenças e impactos na agricultura brasileira

Conheça os fenômenos e como eles impactam nas safras brasileiras

Fenômenos causam mudanças climáticas que impactam na produção
Créditos: Freepik

El Niño e La Niña são ocorrências atmosféricas que alteram as condições climáticas de forma significativa. Os impactos dos fenômenos podem variar dependendo da região afetada. No entanto, produtores agrícolas precisam sempre estar atentos com a chegada desses dois eventos, para reduzirem os possíveis prejuízos que eles podem causar. 

Qual a diferença entre El Niño e La Niña?

Tanto El Niño quanto La Niña são fenômenos que se formam com a interação do oceano com a atmosfera. O resultado desse encontro gera anomalias nas temperaturas da superfície da água e da circulação atmosférica, que consequentemente geram eventos climáticos extremos em todo o planeta.

El Niño é responsável pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico, enquanto La Niña causa o resfriamento – atualmente, ambos são classificados como fases opostas do conceito de “El Niño-Oscilação Sul (ENOS)”, descrito pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), órgão dos Estados Unidos que monitora eventos climáticos de larga escala. 

De acordo com um relatório da NOAA, os fenômenos podem variar de dois a sete anos para acontecer, com cada um podendo durar mais de um ano após chegarem ao país. Um dos episódios mais recentes de La Niña, por exemplo, começou em julho de 2020 e terminou apenas em fevereiro de 2023.

Quando El Niño e La Niña foram descobertos?

Não há um registro claro de quando ocorreram as primeiras observações dos eventos. Contudo, é descrito na Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) que El Niño foi identificado por volta do século XIX, por pescadores na costa norte do Peru. Após isso, na década de 1920, o meteorologista britânico, Sir Gilbert Walker, classificou uma oscilação na pressão atmosférica entre o oceano pacífico oriental e ocidental, chamando de “Oscilação Sul”. 

Nos anos 1960, o nome “El Niño-Oscilação Sul (ENOS)” foi utilizado, quando pesquisadores estabeleceram uma relação entre o evento observado pelos pescadores peruanos com as anotações de Walker. Apenas na década de 1980 foi identificado um fenômeno oposto a El Niño, que, posteriormente, daria origem ao conceito de La Niña. 

O que é El Niño?

Em anos de El Niño, os ventos de superfície na região equatorial do planeta, conhecidos como alísios, ficam enfraquecidos. Com o evento, todo o Oceano Pacífico Equatorial fica mais quente, o que causa evaporação e formação de nuvens de chuva. O fenômeno causa uma mudança na circulação atmosférica, o que altera os padrões pluviais e modifica a temperatura.

O evento foi chamado de “El Niño” devido a presença de águas quentes na costa do Peru na época de Natal. Dessa maneira, os pescadores da região e do Equador batizaram o fenômeno com esse nome em referência ao “menino Jesus”. 

Quais os efeitos de El Niño no Brasil?

Como El Niño é um fenomeno que aquece as águas do pacífico que causam a evaporação e formação de nuvens de chuva, o padrão das alterações climáticas deste evento são:

  • Queda no percentual de chuvas na região Norte; 
  • Secas de diferentes intensidades na região Nordeste; 
  • Tendências de chuvas acima da média e temperaturas mais quentes no sul do Mato Grosso do Sul; 
  • Aquecimento do clima além do padrão na região Sudeste;
  • Monções abundantes acima da média histórica e aumento da temperatura na região Sul. 

O que é La Niña? 

Por outro lado, La Niña fortalece os ventos alísios, empurra ainda mais as águas quentes para o oeste e intensifica a ressurgência na costa sul-americana. Como resultado, há resfriamento das águas do Pacífico e mudanças climáticas significativas.

O evento foi chamado de La Niña para ser o oposto de El Niño. Contudo, alguns especialistas também deram outras nomenclaturas ao fenômeno, como: “El Viejo” (o velho, em espanhol) e anti-El Niño. 

Quais os efeitos de La Niña no Brasil?

La Niña é um fenômeno que esfria as águas do pacífico, através do afastamento dos fluxos mais quentes para o oeste, os efeitos desse evento são: 

  • Aumento na intensidade da estação de chuva na Amazônia e na região Norte; 
  • Chuvas acima da média na região Nordeste; 
  • Tendência de estiagem nas regiões Centro-oeste e Sul.

Impactos de El Niño e La Niña na agricultura brasileira

Os dois fenômenos afetam significativamente a produção dos agricultores brasileiros, causando prejuízos em diferentes culturas e regiões de formas diversas. É importante para o produtor rural se orientar para os seguintes impactos:

El Niño:

  • Cana-de-açúcar: nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o crescimento da cultura pode ser prejudicado pelo aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas, reduzindo a produtividade e a qualidade da matéria-prima;
  • Milho e feijão: a escassez de chuvas no Nordeste e no Norte durante o evento afeta de maneira negativa os grãos, que precisam de umidade adequada para o desenvolvimento.

La Niña: 

  • Soja: no Sul do Brasil, a redução das chuvas durante o fenômeno pode causar estiagens que impactam na produtividade da leguminosa;
  • Milho safrinha: a estiagem prolongada no Sul e Sudeste durante o evento pode afetar o milho segunda safra, levando a perdas significativas na produção; 
  • Café: no Sudeste, especialmente em Minas Gerais, podem ocorrer temperaturas mais baixas e geadas, o que causa impactos negativos no desenvolvimento da cultura. 

Como os produtores podem minimizar os efeitos desses fenômenos?

Os produtores rurais podem adotar uma série de estratégias para amenizar os impactos dos eventos. Entre elas:

  • Monitorar o clima através de previsões meteorológicas com foco em planejar as atividades de forma mais assertiva; 
  • Diversificar culturas no cultivo para reduzir os riscos relacionados às variações climáticas, o que garante produtividade mesmo em condições adversas;
  • Investimento em tecnologias de irrigação que otimizem o uso de água, principalmente em períodos de seca;
  • Implementação de técnicas de conservação do solo e da água, como plantio direto e terraceamento, para manter a umidade e reduzir a erosão.

Previsões climáticas para 2025

Diversos especialistas avaliam que o Brasil passa por condições climáticas que seguem o padrão de La Niña, principalmente por conta da estiagem no Centro-Sul do país e na região norte da Argentina, o que afeta a produção de soja. Contudo, os principais centros de pesquisa meteorológica do planeta divergem sobre a intensidade do fenômeno.

Apesar da previsão esperada para 2025 de que as condições climáticas sejam neutras, os produtores devem se manter informados com os boletins meteorológicos para protegerem suas safras.