A ferrugem asiática – causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi – é uma das doenças mais severas que afetam a cultura da soja na América do Sul. A enfermidade foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2001, e desde então é monitorada e pesquisada por vários centros públicos e privados. Segundo o Consórcio Antiferrugem da Embrapa, a doença pode causar perdas de até 90% se não for controlada corretamente.
Uma das medidas de combate à doença é o vazio sanitário que, de acordo com a Portaria nº 1.124 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), de junho de 2024, é o “período definido e contínuo em que é proibido cultivar, manter ou permitir, em qualquer estágio vegetativo, plantas vivas emergidas de uma espécie vegetal em uma determinada área”.
Nesse intervalo de 90 dias, que varia de um estado para o outro, conforme calendário estabelecido pelo Mapa, o qual considera os diversos microclimas regionais, as plantas voluntárias de soja devem ser eliminadas. O objetivo, no caso da ferrugem asiática, é reduzir a população do fungo no ambiente na entressafra e assim atrasar a ocorrência da doença na safra. Sem plantas vivas em campo, o ciclo de vida do fungo é interrompido, reduzindo a incidência da ferrugem.
Essa medida fitossanitária é uma das mais importantes para o controle da doença, minimizando os impactos negativos durante a safra seguinte”, destaca a diretora do Departamento de Sanidade Vegetal do Mapa, Edilene Cambraia.
Segundo a especialista, o fato da medida adiar a ocorrência da doença reduz também a necessidade de aplicações de fungicidas, além de auxiliar na manutenção da eficácia desses produtos para o controle da ferrugem.
“A medida sanitária somente será efetiva com o monitoramento de todos os locais que possam conter plantas vivas de soja e a eliminação imediata caso alguma seja detectada”, afirma Edilene, alertando, além das lavouras, para áreas em beiras de rodovias e estradas de acesso às propriedades.
Mais estratégias de combate à ferrugem asiática
Além do vazio sanitário, que já está institucionalizado no agronegócio brasileiro, existem outras técnicas de manejo que podem ajudar no combate à ferrugem asiática.
O diretor de biológicos da Indigo Agricultura, Reinaldo Bonnecarrere, detalha que um esforço mais amplo, de manejo integrado, tem ganhado protagonismo por reunir um conjunto de práticas que também visam quebrar o ciclo do patógeno no ambiente agrícola, diminuindo a pressão de inóculo e aumentando a eficiência de outras estratégias de controle, como o uso de fungicidas.
Segundo o executivo, outro ponto estratégico é trabalhar com janelas de plantio bem definidas e alinhadas com a recomendação fitossanitária local, priorizando materiais genéticos com maior tolerância à ferrugem e evitando a sobreposição desnecessária de ciclos produtivos.
Além disso, frisa Bonnecarrere, é altamente recomendado integrar essas ações com outras práticas do manejo integrado de doenças (MID), como a rotação de culturas, o uso de cultivares resistentes e a aplicação de fungicidas com mecanismos de ação diferentes, sempre dentro de uma estratégia de rotação e mistura de ingredientes ativos.
Utilização de bioinsumos
O executivo da Indigo Agricultura acentua, ainda, que a ferrugem asiática tem apresentado, nos últimos anos, resistência crescente a diversos fungicidas, especialmente os do grupo das estrobilurinas. Nesse sentido, afirma, os bioinsumos já são uma opção concreta e promissora no manejo da ferrugem asiática da soja, especialmente dentro de uma estratégia integrada de controle.
“Embora o combate direto ao fungo com produtos biológicos ainda enfrente desafios técnicos, os avanços recentes consolidam seu papel na prevenção, na redução da severidade da doença e na sustentabilidade do sistema produtivo”, afirma.
Bonnecarrere explica que a pesquisa evolui com formulações que buscam ampliar a eficácia dos bioinsumos, seja por meio do controle direto, seja pelo potencial de sinergia com fungicidas químicos.
“O futuro aponta para um manejo cada vez mais integrado, com plantas mais resistentes e produtivas. Os bioinsumos se mostram aliados valiosos ao fortalecer as defesas da planta e complementar outras práticas, mas sem substituir a importância do vazio sanitário e do uso de fungicidas em situações de alta pressão da doença”, finaliza.