Nesta última quarta-feira (10), o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) divulgou a primeira reestimativa para a safra de laranja 2025/26 no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, projetando uma produção de 306,74 milhões de caixas de 40,8 kg. O número representa queda de 2,5% em relação à previsão inicial de maio (314,60 milhões de caixas).
O principal fator para a revisão é o aumento da taxa de queda de frutos, agora projetada em 22%, contra 20% na estimativa anterior, reflexo do avanço do greening.
Greening e falta de chuvas preocupa os produtores
De acordo com o levantamento anual do Fundecitrus, em 2025, o greening já alcança 47,63% das laranjeiras do cinturão citrícola, equivalente a 100 milhões de árvores de um total de 209 milhões. O índice representa crescimento de 7,4% frente a 2024, quando a doença atingia 44,35%.
Apesar da alta, foi o segundo ano consecutivo de desaceleração no avanço: de 2023 para 2024, a incidência cresceu 16,5%, bem abaixo da expansão de 55,9% registrada de 2022 para 2023.
Segundo a DATAGRO Consultoria, “o greening, também conhecido como Huanglongbing (HLB), é hoje o maior desafio da citricultura. A doença compromete a maturação dos frutos, provoca queda prematura e pode levar à morte das plantas, trazendo prejuízos significativos para a produtividade e para a qualidade da safra brasileira”.
Além do avanço da doença, a Fundecitrus destacou que, entre maio e agosto, o cinturão citrícola recebeu apenas 94 mm de chuva, volume 33% abaixo da média histórica para o período. A única exceção foi a região de São José do Rio Preto, que registrou precipitações 21% acima da média.
A irregularidade climática preocupa em relação à qualidade da fruta. Chuvas abaixo da média entre janeiro e março, somadas ao inverno mais frio, atrasaram a maturação e mantiveram os índices de Brix/acidez em patamares baixos, reduzindo a atratividade para indústria e exportação.
Apesar do avanço da irrigação nos últimos dez anos – de 25% para 45% da área total de pomares –, a adoção não é homogênea. No Triângulo Mineiro e em regiões do interior paulista, como Bebedouro e Votorantim, mais de 80% da área já conta com sistemas de irrigação. Já em áreas centrais do Estado de São Paulo, como Limeira e Brotas, a taxa não passa de 17%.
Esse contexto tem afetado o ritmo da colheita: até meados de agosto, apenas 25% da safra havia sido colhida, contra cerca de 50% no mesmo período do ciclo anterior.
“A nova estimativa da Fundecitrus acende um sinal de alerta para o mercado. A combinação de greening e adversidades climáticas aumenta a preocupação com a oferta, o que pode influenciar a formação de preços ao longo da temporada”, afirma a DATAGRO.
Mercado internacional e exportações
No cenário externo, o setor enfrentou turbulências em julho, quando o governo dos Estados Unidos anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A decisão gerou forte volatilidade e alta nas cotações. No entanto, esse movimento rapidamente perdeu força, após a confirmação da isenção das sobretaxas, o que trouxe alívio ao mercado em agosto.
Ainda assim, a DATAGRO avalia que o cenário exige cautela: mesmo com a diminuição da ameaça tarifária, o mercado trabalha com a perspectiva de oferta restrita, o que pode manter os preços firmes para a fruta no médio prazo”.
Quanto aos volumes de embarques, o Brasil exportou 41,59 mil toneladas de suco de laranja nos primeiros cinco dias úteis de setembro, o equivalente a 20,14% do volume total exportado em setembro de 2024. Em receita, as vendas renderam US$ 58,61 milhões ou 18,27% do faturamento obtido no mesmo mês do ano passado.
Na comparação diária, os números apontam retração de 15,41% no volume e de 23,27% na receita frente a setembro de 2024, reforçando sinais de desaceleração nos envios internacionais.
Diante desse cenário, o setor citrícola brasileiro entra em um ciclo marcado por incertezas, em que fatores fitossanitários e climáticos se somam às pressões de mercado. Para a DATAGRO, “a safra 2025/26 será um divisor de águas para a citricultura brasileira. O produtor terá de lidar ao mesmo tempo com o desafio do greening, a irregularidade climática e a volatilidade do mercado internacional. O resultado da temporada vai depender da capacidade de adaptação e de gestão dos pomares nos próximos meses”.