Um grupo de pesquisadores da Embrapa, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e o Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (Inia) do Uruguai, identificou o gene responsável pelo porte ereto das folhas do tomateiro.
A descoberta representa um avanço importante para o melhoramento genético da cultura do tomate e pode ser aplicada a outras espécies agrícolas.
A posição ereta das folhas é uma característica valiosa por:
- Reduzir estresse térmico;
- Melhorar o controle de pragas;
- Aumentar o adensamento do plantio;
- Elevar a produtividade por hectare.
Descoberta foi validada com edição genética
A equipe da Embrapa utilizou a tecnologia de edição genética CRISPR-Cas9 para confirmar a função do gene identificado.
Ao editar o gene em plantas com folhas convencionais, os cientistas observaram a transformação do fenótipo para folhas eretas — comprovação funcional direta da atuação do gene.
“Nossa equipe percorreu todas as etapas: da observação em campo à prova de conceito da edição genética”, explica o pesquisador Leonardo Boiteux, da Embrapa Hortaliças.
A identificação do gene foi possível após cruzamentos entre plantas com e sem a mutação natural, e a análise revelou a localização do gene no cromossomo 10 do tomateiro.
Benefícios agronômicos do tomate com folhas eretas
A nova arquitetura traz vantagens agronômicas relevantes:
- Menor evapotranspiração e maior conforto térmico para a planta;
- Redução do estresse oxidativo nas horas de maior insolação;
- Maior eficiência na pulverização de defensivos (especialmente no controle de oídio e mosca-branca);
- Diminuição da incidência de pragas, como a mosca-branca, que prefere a parte inferior das folhas;
- Possibilidade de cultivo mais denso, aumentando o número de plantas por hectare.
“Plantas editadas receberam até 2,5 vezes menos moscas-brancas, provavelmente por maior exposição da superfície inferior das folhas às condições ambientais e inimigos naturais”, destaca o estudante Pedro Fernandes, da UnB.
Potencial para aplicação em outras espécies
Segundo os pesquisadores, genes similares ao identificado no tomateiro também estão presentes em milho, pêssego e outras espécies.
Isso abre caminho para aplicação da mesma estratégia em outras culturas agrícolas e frutíferas.
“Agora que sabemos o gene exato, podemos explorar sua aplicação em diferentes espécies, criando plantas com melhor arquitetura foliar”, afirma Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
A descoberta fortalece o melhoramento genético no Brasil
A aplicação de marcadores moleculares e da edição genética torna o processo de desenvolvimento de novas cultivares mais rápido, eficiente e direcionado.
A técnica contribui para:
- Acelerar o ganho genético em programas de melhoramento;
- Adaptar plantas ao cultivo intensivo e às mudanças climáticas;
- Aumentar a sustentabilidade e a eficiência da agricultura.
A pesquisa reforça o protagonismo da ciência brasileira na integração de biotecnologia, agricultura e sustentabilidade.