
A irrigação por gotejamento tem se consolidado como uma solução viável e estratégica para os cafeicultores – inclusive agricultores familiares -, garantindo produtividade, qualidade e sustentabilidade, sobretudo diante das mudanças climáticas, onde períodos de estiagem estão se tornando cada vez mais frequentes nos principais polos de produção.
O especialista agronômico da Netafim, Murilo Tosta, diz que a alta nos preços do café tem incentivado os produtores a investirem em tecnologia. “O aumento das cotações têm sido um grande incentivo para que os cafeicultores modernizem suas lavouras e adotem práticas mais eficientes. Com a irrigação, por exemplo, conseguimos garantir uma produção mais estável e de alta qualidade, independentemente das variações climáticas”, afirma.
De acordo com Tosta, o investimento em irrigação por gotejamento costuma se pagar entre dois e quatro anos, dependendo de fatores como tamanho da propriedade, manejo e condições climáticas. “Um produtor de café do Cerrado Mineiro, que aumentou sua produtividade de 25 sacas por hectare para 50 sacas/ha e começou a vender como ‘café especial’, conseguiu retorno financeiro em aproximadamente dois anos.”
Rafael Gonzaga, também especialista agronômico da Netafim, destaca que a irrigação funciona como um seguro contra a seca, garantindo que, mesmo em anos de estiagem intensa, o produtor assegure uma boa produção. Segundo Gonzaga, na cafeicultura, em particular nas regiões de topografia montanhosa, notadamente da variedade arábica, a modalidade de gotejamento é a mais recomendada – diferentemente das soluções de pivô. “Isso porque o modelo de gotejamento leva a água exatamente onde a planta precisa, nas raízes, de maneira contínua, e assertiva, sem desperdício.”
Mais produtividade
A irrigação por gotejamento pode dobrar ou até triplicar a produtividade do café. “Em áreas sem irrigação, a produtividade média varia entre 20 e 30 sacas por hectare. Com a adoção do gotejamento e um manejo adequado, esse número pode chegar a 50, 60 ou até 80 sacas por hectare”, explica Tosta. Além disso, a tecnologia reduz a bienalidade da produção, garantindo maior estabilidade ao longo dos anos.
A qualidade também melhora significativamente, pois o gotejamento mantém a umidade do solo em níveis ideais, resultando em uma florada mais homogênea e uma maturação uniforme dos frutos. “Quando a planta recebe água e nutrientes na medida certa, há menor incidência de grãos verdes ou mal formados, o que melhora a qualidade da bebida e aumenta o percentual de grãos peneira alta”, salienta Tosta.
O sistema de irrigação por gotejamento se destaca pela eficiência no uso da água, sendo essencial para a cafeicultura moderna e para a resiliência diante das mudanças climáticas. Em uma fazenda de Minas Gerais, a adoção do gotejamento reduziu significativamente o consumo de água, eliminou a erosão do solo e melhorou a saúde das plantas, reduzindo o uso de fertilizantes e defensivos. “Em resumo, a irrigação por gotejamento não só economiza água, mas também promove práticas agrícolas mais sustentáveis, preservando o solo, protegendo os recursos hídricos e reduzindo os impactos ambientais da cafeicultura”, frisa Gonzaga.
Casos de sucesso
Nos últimos anos, diversas regiões cafeeiras têm aderido ao gotejamento, incluindo Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Espírito Santo e Oeste da Bahia. “No Cerrado Mineiro, onde há uma estação seca bem definida, o gotejamento garante um suprimento hídrico contínuo, essencial para o pegamento da florada e o enchimento dos grãos”, diz Gonzaga. Já no Espírito Santo, onde predomina o café conilon, a irrigação por gotejamento é fundamental devido à alta demanda hídrica da cultura.
Os resultados obtidos nessas regiões demonstram que, independentemente das condições climáticas, a irrigação por gotejamento é uma ferramenta essencial para garantir a produtividade e a sustentabilidade da cafeicultura.
“Hoje, a imprevisibilidade climática é uma das maiores ameaças à produtividade e à qualidade do café. O gotejamento permite um controle preciso da água e, para os produtores que já adotaram essa tecnologia, a mudança foi definitiva. Com os preços do café em alta, esta é a melhor hora para investir”, assinala Gonzaga. “Quando falamos de irrigação por gotejamento, logo nos vem à cabeça que, com esse sistema, é possível também realizar a fertirrigação, ou seja, a aplicação de nutrientes via água de irrigação.”
Acesso
Gonzaga acentua, ainda, que o sistema de irrigação por gotejamento se mostra acessível para o cafeicultor familiar. “A aquisição da tecnologia via compra coletiva, por exemplo, por meio de cooperativas, tem ajudado. Além disso, outra solução, que está em fase final de validação aqui na Netafim, é o ‘Kit de Irrigação’, que estamos desenvolvendo com o intuito de reduzir custos desses pequenos projetos e otimizar o tempo de instalação no campo, tornando o acesso dos pequenos produtores à irrigação por gotejamento mais viável.”