Um estudo inédito revelou que o mel produzido a partir do néctar das flores do açaizeiro (Euterpe oleracea) possui elevadas propriedades bioativas, benéficas para a saúde humana.
Conduzida pelo Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (Cvacba), entidade vinculada à Universidade Federal do Pará (UFPA), a pesquisa destaca entre os benefícios do produto: a alta capacidade antioxidante e os efeitos anti-inflamatórios, antibacterianos e antitumorais.
O estudo, que contou com apoio da Embrapa Amazônia Oriental e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), foi publicado na revista científica internacional Molecules.
Detalhes do mel de açaí
O mel de açaí analisado é produzido por abelhas africanizadas (Apis mellifera) e apresentou capacidade antioxidante até quatro vezes maior do que outros méis brasileiros, que são considerados os mais potentes do país.
Foram analisadas amostras coletadas nos municípios paraenses de Breu Branco e Santa Maria, comparadas a méis monoflorais de outras regiões do Brasil, como mel de aroeira (MG), cipó-uva (DF), timbó (RS) e mangue (PA).
Além dos benefícios terapêuticos, o mel de açaí se destacou por suas características sensoriais únicas: coloração entre âmbar e escura, menor dulçor e notas de sabor que lembram café.
Segundo o professor Nilton Muto, coordenador do estudo, a composição química diferenciada do mel de açaí está relacionada à presença de flavonoides, ácidos fenólicos, batilol e heptacosanol, compostos com ação comprovada contra processos oxidativos. “O mel de açaí se destaca como um produto genuinamente amazônico, com valor funcional e nutricional agregado”, afirma Muto.
Produção sustentável
A pesquisa também destaca o papel estratégico desse produto na valorização da biodiversidade da Amazônia e no fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis. A presença das abelhas melhora significativamente a polinização do açaizeiro, podendo aumentar em até 30% a produtividade dos frutos.
Os compostos bioativos identificados abrem caminho para o desenvolvimento de fitoterápicos, cosméticos naturais e alimentos funcionais, embora ainda sejam necessários testes clínicos para validar sua eficácia. “Estamos preparando propostas de parcerias com empresas para transformar esse conhecimento em inovação acessível ao mercado”, adianta Muto.
O estudo também reforça a importância de fomentar a meliponicultura, com a criação racional de abelhas nativas sem ferrão, como as espécies Melipona e Scaptotrigona, que produzem méis de alto valor nutricional e medicinal.