A degradação de pastagens é um dos principais desafios da moderna agropecuária brasileira. Estudos mais recentes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), publicados na revista internacional Land, apontam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas, ou seja, de áreas com grande potencial de conversão para uso produtivo.
Dessa forma, a reabilitação dessas terras não apenas favorece a produtividade agropecuária, como também promove benefícios ambientais significativos, como o sequestro de carbono e a redução do desmatamento.
Por isso, se você possui uma área na sua propriedade que se encontra nessa situação e deseja revertê-la em um espaço produtivo, mostraremos, neste artigo, os principais aspectos da recuperação de pastagens degradadas, seus métodos, custos e vantagens.
O que é pastagem degradada e como identificar?
Uma pastagem degradada é caracterizada basicamente pela perda da sua aptidão produtiva, tornando-se incapaz de sustentar o crescimento das forrageiras e atender às necessidades nutricionais do rebanho nela instalada.
Além disso, essa perda de produtividade está diretamente ligada a fatores como o manejo inadequado, pastejo excessivo, ausência de adubação, erosão do solo e invasão por plantas daninhas.
Desse modo, a degradação de uma pastagem pode ser dividida em quatro diferentes graus:
- Grau 1: estágio inicial, com redução da altura, qualidade e volume da forrageira;
- Grau 2: estágio intermediário, com menor cobertura do solo e baixa emergência de novas plantas;
- Grau 3: estágio avançado, com presença de plantas daninhas e início da erosão;
- Grau 4: degradação severa, com erosão acelerada e dominação de gramíneas nativas e arbustos.
Principais sinais de degradação do solo
Identificar os sinais de degradação do solo precocemente é essencial para evitar perdas maiores. Os principais indicativos de degradação incluem:
- Redução da cobertura vegetal: com a redução da cobertura vegetal, é possível observar grandes áreas de solo exposto, falhas no estande de forrageiras e a presença de plantas indesejadas como o capim-amargoso;
- Compactação do solo: conforme o solo se compacta, a água possui dificuldade de infiltração e, então, é possível identificar a formação de poças durante períodos chuvosos;
- Erosão: além da perda da camada superficial, em casos mais agudos, a erosão do solo propicia a presença de sulcos e voçorocas;
- Baixa produtividade animal: o menor ganho de peso é um dos indicativos de baixa produtividade animal, o que pode levar a necessidade de maior uso da implementação alimentar com rações;
- Análise do solo e da forragem: a identificação de deficiências nutricionais, como o baixo teor de matéria orgânica e desequilíbrio na composição botânica, pode ser um indicativo de uma degradação do solo.
Métodos para recuperação de pastagens degradadas
A recuperação eficiente de pastagens exige planejamento e a escolha adequada das técnicas, conforme o grau de degradação e condições do solo e clima.
Adubação e correção do solo
O primeiro passo é a análise laboratorial do solo para identificar deficiências nutricionais. De acordo com os resultados, comumente, realizam-se três processos:
- Calagem: para corrigir a acidez e melhorar a disponibilidade de nutrientes;
- Gessagem: para suprir cálcio e enxofre e melhorar o ambiente radicular;
- Adubação fosfatada, nitrogenada e potássica: essencial para promover o crescimento vigoroso das forrageiras.
Sobressemeadura e renovação de pastagens
Outros dois processos utilizados na recuperação de pastagens são a sobressemeadura e a renovação total. Dessa forma, a primeira deve ser aplicada em casos de grau 1 e 2; a segunda, em grau 3 e 4.
- Sobressemeadura: é o processo de aplicar sementes de forrageiras em áreas com falhas, sem mexer no solo. Ideal para degradação leve a moderada;
- Renovação total: indicada para estágios avançados de degradação. Envolve a dessecação das plantas indesejadas, preparo do solo, semeadura e nova implantação da pastagem.
Rotação de pastagens e manejo intensivo
Alguns métodos para recuperar pastagens degradadas envolvem o manejo dos animais que se instalam sobre ela. Nesses casos, dois processos se apresentam:
- Pastejo rotacionado: consiste na divisão da área em piquetes e rotação do rebanho para permitir a rebrota e recuperar o vigor das plantas.
- Controle de lotação: adequar o número de animais à capacidade de suporte.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILP) como solução sustentável
O sistema de produção ILPF foi desenvolvido pela Embrapa na década de 1980 e até agora se apresenta como uma das melhores opções para a recuperação de pastagens degradadas do ponto de vista da sustentabilidade.
Desse modo, a ILPF é uma estratégia que visa integrar atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema
Benefícios da ILPF:
- Intensifica o uso da terra de forma sustentável;
- Promove a fertilidade do solo e reduz o uso de insumos;
- Aumenta a produtividade e diversifica a fonte de renda;
- Reduz a pressão sobre novas áreas para expansão agropecuária;
- Melhora a resiliência climática da propriedade.
Benefícios da recuperação de pastagens
Recuperar pastagens degradadas vai muito além do ganho produtivo. Assim, os principais benefícios incluem:
- Aumento da produtividade animal: de 2 para até 12 arrobas/hectare/ano;
- Redução de custos com suplementação: pastagens bem manejadas oferecem alimento de melhor qualidade;
- Melhoria da fertilidade do solo: solos corrigidos e bem manejados mantêm a capacidade produtiva por mais tempo;
- Valoração da propriedade rural: terras produtivas têm maior valor de mercado;
- Sustentabilidade ambiental: sequestro de carbono, conservação do solo e redução do desmatamento.
Quanto custa recuperar uma pastagem degradada?
O custo de recuperação de uma pastagem pode variar bastante de acordo com o grau de degradação, tipo de solo, clima e métodos adotados. Em média, os valores oscilam entre R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare.
Os principais fatores que influenciam esse custo incluem:
- Necessidade de calagem e adubação;
- Escolha e aquisição de sementes;
- Mecanização e preparo do solo;
- Mão de obra e assistência técnica.
Linhas de financiamento para recuperação de pastagens
Atualmente, existem diversas linhas de crédito disponíveis para apoiar o produtor rural na recuperação de pastagens degradadas. Entre as principais, destacam-se:
- Programa ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono): oferece financiamentos com juros reduzidos para adoção de práticas sustentáveis, como a ILPF, explicada acima;
- Pronaf e Pronamp: destinados a pequenos e médios produtores;
- Créditos de carbono: em alguns casos, a recuperação pode gerar receitas extras com a comercialização de créditos de carbono.
A recuperação de pastagens degradadas é um investimento estratégico para o futuro da agropecuária brasileira. Assim, recuperar pastagens é garantir o futuro da produção de alimentos com responsabilidade e eficiência.
Além disso, com planejamento, apoio técnico e uso de boas práticas de manejo, é possível transformar áreas improdutivas em ativos rentáveis e sustentáveis. Ao mesmo tempo, esse processo contribui para a conservação ambiental e o bem-estar animal.
Para ficar por dentro de tudo o que acontece no mercado pecuário brasileiro, desde como andam os preços até as mais novas tecnologias que auxiliam os produtores, acesse a seção Pecuária, do nosso site de notícias.