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Brasil firma acordos com a China e abre mercado para exportação de DDG

Expectativa é que autorização impulsione significativamente as exportações brasileiras e consolide o país como fornecedor relevante no setor

Boi confinado se alimentando de DDG como suplemento nutricional
Foto: FS Bioenergia

Entre os dias 12 e 13 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em viagem oficial à China com o objetivo de fortalecer as relações comerciais entre os dois países, especialmente no setor do agronegócio. Após dois dias de reuniões e negociações com autoridades chinesas, Lula e o presidente Xi Jinping assinaram dois protocolos bilaterais e um memorando de entendimento voltado ao desenvolvimento da agropecuária brasileira. As tratativas foram lideradas pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.

Como resultado, o Brasil conquistou a abertura do mercado chinês para cinco novos produtos: carne de pato, carne de peru, miúdos de frango (coração, fígado e moela), farelo de amendoim e, em especial, os subprodutos do processamento de milho para fabricação de etanol, conhecidos como DDG e DDGS.

Além disso, foi firmado um acordo entre o governo brasileiro e a Administração Nacional de Energia da China (NEA) que prevê o aumento das exportações de etanol brasileiro ao país asiático.

Para Guilherme Nolasco, presidente executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), e Andréa Veríssimo, diretora de Relações Internacionais e Comunicação da entidade, a abertura do mercado chinês representa “uma oportunidade estratégica para o Brasil diversificar seus destinos de exportação de DDG/DDGS e reduzir a dependência de mercados tradicionais”. A expectativa é que a nova autorização impulsione significativamente as exportações brasileiras e consolide o país globalmente como um fornecedor relevante no setor.

Produção em alta e parcerias estratégicas

Desde 2021, o Brasil vem ampliando sua presença internacional no mercado de DDG/DDGS, impulsionado pelo crescimento da produção de etanol de milho. Segundo dados da consultoria DATAGRO, o país consumiu 18,184 milhões de toneladas do cereal para produção do biocombustível na safra 2024/25, frente aos 6,013 milhões de toneladas utilizadas em 2020/21.

A produção de DDGS acompanhou esse avanço, saltando de 1,38 milhão de toneladas para 4,25 milhões de toneladas no período. Só em abril de 2025, início do ano comercial 2025/26, o país produziu 370 mil toneladas — superando com folga tanto o volume do mesmo mês em 2024 (295 mil t) quanto a média dos últimos cinco anos (177 mil t).

Esse crescimento, que tem como consequência um excesso de oferta no mercado interno, tem incentivado os produtores a buscarem novos mercados. Nesse contexto, destaca-se a parceria estabelecida entre a ApexBrasil e a Unem para promover o DDG/DDGS no exterior. O acordo, com duração de dois anos, inclui ações como missões empresariais, desenvolvimento de marca, projetos de imagem e rodadas de negócios.

Entre janeiro e abril deste ano, o Brasil exportou 385 mil toneladas de DDGS, aumento de 64,3% em relação ao mesmo período de 2024. A Turquia (44%) e o Vietnã (28%) foram os principais destinos, respondendo juntos por 72% das compras. No acumulado de 2024, o país exportou 792 mil toneladas, o equivalente a 15% da produção da safra 2024/25.

Concorrência com os EUA e cenário geopolítico

A entrada do Brasil no mercado chinês de DDG/DDGS representa também uma alternativa estratégica para Pequim, que atualmente depende quase exclusivamente dos Estados Unidos para suprir essa demanda. Em 2024, a China importou cerca de US$ 65 milhões em DDG/DDGS, sendo 99,6% desse volume originário dos EUA (331 mil toneladas), segundo a DATAGRO.

Diante das crescentes tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo e da adoção de políticas protecionistas por Washington, como as tarifas sobre produtos chineses, a China busca diversificar seus fornecedores. Para a Unem, o Brasil se apresenta como uma alternativa viável e atrativa, especialmente diante da vantagem tarifária de aproximadamente 10% em relação aos EUA.

Contudo, a entidade ressalta que será necessário preparo do setor agroindustrial brasileiro para atender às exigências técnicas e sanitárias do mercado chinês. Investimentos em infraestrutura logística e certificação são considerados cruciais para consolidar essa nova posição comercial.

Demanda chinesa e potencial brasileiro

O forte crescimento da produção de proteína animal na China, especialmente de carne suína — com 57 milhões de toneladas produzidas em 2024 — também contribui para o aquecimento da demanda por DDG/DDGS. A DATAGRO destaca que o subproduto do etanol tem papel importante na diversificação da matriz alimentar da suinocultura chinesa, ajudando a reduzir a dependência de soja e milho in natura.

Embora o novo acordo represente uma conquista para o Brasil, os EUA ainda são o maior player global de DDGS. Em 2024, os norte-americanos aumentaram suas exportações em 13%, atingindo 12,22 milhões de toneladas — a segunda maior marca da história do setor — com México (27%), Coreia do Sul (16%) e Vietnã (11%) entre os principais compradores.

Protagonismo do Mato Grosso e desafios logísticos

A produção de DDG/DDGS no Brasil está diretamente ligada ao desempenho da safra de milho. A previsão da DATAGRO para 2024/25 é de 132,6 milhões de toneladas — sendo 107,4 milhões da segunda safra e 25,2 milhões da primeira —, o segundo maior volume da história. O Mato Grosso, maior estado produtor, deve responder por 50,8 milhões de toneladas, ou 38,3% do total nacional.

Segundo a Unem, o estado está estrategicamente posicionado para se beneficiar da abertura do mercado chinês. Já consolidado como exportador agropecuário, o Mato Grosso vem investindo em infraestrutura e consolidando sua atuação na produção de etanol de milho, o que permite previsibilidade ao produtor e valoriza os grãos cultivados ao longo do ano. A abertura para a China fortalece os investimentos existentes e projeta o estado como referência em bioenergia e alimentos.

Apesar das boas perspectivas, o setor brasileiro ainda enfrenta desafios para consolidar-se como fornecedor global. Entre os principais obstáculos estão a necessidade de melhorias logísticas, adequações sanitárias e desenvolvimento de inteligência comercial. A expansão da produção de DDG/DDGS está também vinculada à demanda crescente por etanol — tanto no mercado interno quanto em novos segmentos como o SAF (combustível sustentável de aviação) e o combustível marítimo.