Foto: Livier Garcia/Pexels
Foto: Livier Garcia/Pexels

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) desvendaram os mecanismos químicos que explicam a atração da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) pelas lavouras de milho.

O estudo, publicado no periódico científico Journal of Pest Science, identificou 12 compostos voláteis emitidos pelo milho que funcionam como atrativos para as fêmeas da praga, abrindo novas possibilidades para o manejo integrado de pragas (MIP).

Além disso, a pesquisa comprovou que a crotalária (Crotalaria spectabilis), utilizada como planta-companheira nas bordas das lavouras, não emite os mesmos voláteis atrativos e, portanto, atua como barreira física e química natural, dificultando a chegada da praga ao milho.

Lagarta é atraída por compostos voláteis emitidos por plantas infestadas

Coordenado pela estudante de mestrado Bruna Sartório de Castro (UnB), sob orientação da pesquisadora Maria Carolina Blassioli-Moraes (Embrapa), o trabalho é resultado de uma colaboração entre universidades e centros de pesquisa da Embrapa.

A equipe utilizou técnicas avançadas de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS) para identificar os compostos liberados pelas plantas. “Conseguimos isolar os compostos químicos que o milho infestado libera e que são detectados pelas fêmeas da praga como sinal de local adequado para oviposição”, explica Blassioli.

Esses compostos foram posteriormente testados em um túnel de vento, simulando condições ambientais reais. As mariposas da lagarta-do-cartucho se dirigiram ao odor do milho e a uma mistura sintética dos compostos, mas não demonstraram atração pelo cheiro da crotalária

Crotalária: aliada de baixo custo no controle da praga

O estudo valida cientificamente o uso da crotalária como planta-companheira do milho, já adotada por produtores em sistemas agroecológicos ou de agricultura familiar. A planta forma uma barreira nas bordas da lavoura, reduzindo a infestação sem a necessidade de milho Bt ou inseticidas químicos.

Além da barreira física, a ausência de compostos atrativos torna a crotalária invisível para a praga. Essa abordagem oferece baixo custo, eficiência comprovada e pode ser replicada em diferentes escalas de produção.

“A crotalária protege o milho de forma passiva, sem atrair a praga e sem interferir no ambiente. Isso é essencial para práticas sustentáveis e orgânicas”, destaca a pesquisadora.

Novas aplicações: iscas sintéticas e plantas geneticamente aprimoradas

A identificação dos compostos atrativos também abre caminho para o desenvolvimento de bioinsumos e armadilhas atrativas. De acordo com Blassioli, a síntese dessas substâncias pode permitir a criação de iscas olfativas, reduzindo o uso de inseticidas convencionais.

“Se conseguirmos reduzir a mistura para poucos compostos-chave, podemos viabilizar economicamente um atrativo sintético para armadilhas no campo”, explica.

A longo prazo, os pesquisadores avaliam a possibilidade de usar esses compostos no melhoramento genético de outras plantas, para confundir ou repelir a lagarta, contribuindo com a agricultura de precisão.

O grupo de pesquisa planeja agora testes em lavouras comerciais, especialmente com pequenos e médios produtores, para medir o efeito da crotalária em diferentes regiões e tipos de manejo. A ideia é combinar o conhecimento de laboratório com experiência prática de campo, consolidando a estratégia como uma alternativa viável ao controle químico da praga.