A história da Deutschips começa em 1999, no Rio Grande do Sul, em um cenário marcado pela sazonalidade e pela volatilidade do mercado agrícola. Na época, a família Auler se dedicava à revenda de batatas in natura, enfrentando desafios típicos do setor, como a oscilação de preços e a dependência das safras.
“A origem da Deutschips está na revenda de batatas in natura no Rio Grande do Sul, enfrentando sazonalidade e volatilidade do setor. Com o tempo, o negócio evoluiu, mas o cultivo próprio continua sendo uma parte essencial da operação”, relembra Eduardo Muller, gestor da empresa.
A virada começou quando os irmãos Márcio, Diego e Alan Auler, filhos do fundador Elando Auler, decidiram que era hora de dar um novo rumo ao negócio. Assim, eles saíram em busca de estabilidade, valor agregado e de uma marca própria que conectasse o campo diretamente ao consumidor.
“A transição foi uma resposta à volatilidade do mercado agrícola. Em busca de maior estabilidade, a empresa criou marcas próprias e migrou gradualmente para a produção de chips”, explica Muller.
A data exata dessa mudança não está registrada, mas o processo foi planejado e gradual, apoiado em tecnologia e na padronização da qualidade – pilares que deram sustentação à expansão que viria anos depois.
Do desafio à oportunidade
A decisão de sair da revenda e investir em produtos processados trouxe uma revolução para a Deutschips. O que antes era apenas uma operação comercial passou a se tornar uma cadeia completa, integrando produção, processamento, distribuição e venda.
“A transformação trouxe maior estabilidade ao negócio, fortalecimento da marca, ganhos de eficiência e qualidade, além da preparação para escalar o canal de franquias”, resume o gestor.
Mas a virada não aconteceu sem obstáculos. Um dos principais desafios foi interno: alinhar pessoas, cultura e propósito. “No início, os colaboradores tinham uma visão focada apenas nas metas de curto prazo; a transição para o novo modelo demandou maior clareza de papéis, fortalecimento da governança e a construção de um ambiente de trabalho mais colaborativo e positivo”, destaca Muller.
A adoção de novas tecnologias foi decisiva para sustentar esse crescimento. Máquinas modernas, processos automatizados e um olhar atento à eficiência transformaram o modelo produtivo da empresa, que passou a operar com padrões industriais e foco em escala.
Escala, inovação e eficiência
Atualmente, a Deutschips é uma potência regional em alimentos processados, com cerca de 400 colaboradores diretos entre unidades produtivas, administrativas e áreas de apoio.
Na fábrica de snacks, a produção média é de 200 toneladas por mês, com uma linha capaz de processar 400 kg de batata por hora. Já a fábrica de batatas congeladas opera com 1.600 toneladas por mês, e capacidade instalada de processamento de 3 toneladas por hora – números que impressionam, mas que estão longe de ser o limite.
Para 2026, a empresa projeta implantar uma nova linha de produção de batatas congeladas, com capacidade de processar 15 toneladas por hora, o que deve multiplicar a eficiência operacional e ampliar a presença da marca no mercado.
Esse crescimento, segundo Muller, é fruto de uma gestão estruturada e baseada em governança, com atenção à cultura organizacional. “O fortalecimento da governança e o alinhamento cultural foram essenciais para sustentar a expansão”, afirma.
A entrada da Auddas
O salto mais recente da Deutschips veio em 2023, com a chegada da Auddas, consultoria especializada em gestão e franquias. A parceria marcou o início de um novo capítulo: a estruturação do canal de franquias, que transformou o modelo de comercialização da empresa.
“A gente ampliou a visão estratégica do negócio, estruturou o canal de franquias como uma nova frente de expansão e ajudou a consolidar a rede por meio de uma estratégia clara de crescimento”, explica Rodrigo Chiavenato, diretor de franquias da Auddas.
A atuação da consultoria também fortaleceu o senso de dono entre os colaboradores e trouxe clareza sobre papéis e responsabilidades, preparando a empresa para crescer com consistência.
Um modelo de franquia sobre rodas
O modelo criado pela Auddas para a Deutschips é inovador e único no setor de alimentos processados. Diferente do formato tradicional de lojas físicas, as franquias funcionam em caminhões adaptados, que operam como “lojas móveis”.
Esses veículos têm rotas geográficas definidas, nas quais o franqueado atua como responsável comercial e pela prospecção de clientes. “O formato elimina a cobrança de royalties sobre as vendas, exige investimento inicial reduzido e conta com o apoio da franqueadora para a construção de patrimônio, seja por meio da aquisição ou do financiamento do caminhão”, explica Chiavenato.
A proposta é simples e poderosa: aproximar o produto do consumidor, reduzir custos fixos e levar a marca até onde o público está.
Outro ponto atrativo é a rentabilidade. Segundo o diretor da Auddas, a margem do franqueado é quase o dobro do que ele teria como colaborador CLT. Além disso, a operação é ágil e eficiente, com suporte logístico de um centro de distribuição físico e uma frota volante de reabastecimento.
Crescimento acelerado e expansão geográfica
O modelo de franquias foi oficialmente lançado em 2024, e os resultados superaram as expectativas. A meta inicial era atingir 12 franqueados, mas o número chegou a 23 no primeiro ano – quase o dobro do planejado.
Para 2025, a expectativa é crescer 35% e alcançar 60 franqueados, consolidando a presença da marca nos estados do Paraná e de Santa Catarina.
A expansão vem acompanhada de números robustos: a Deutschips encerrou 2024 com crescimento de 40% em relação a 2023 e aumento de 20% nas vendas totais. A expectativa para 2025 é atingir R$ 200 milhões de faturamento, impulsionada pela sinergia entre os diferentes canais de atuação.
“O foco agora é sustentar o crescimento com inovação e governança, ampliando a presença geográfica e reforçando a combinação de tradição e inovação que sustenta o modelo de franquias”, afirma Chiavenato.
Da fazenda ao consumidor: um ciclo completo
O grande diferencial da Deutschips é a integração total da cadeia produtiva. A empresa domina todas as etapas – do plantio à venda final – o que garante qualidade, rastreabilidade e eficiência.
Esse modelo verticalizado não só reduz riscos, como também amplia o potencial de inovação. A empresa tem investido em soluções sustentáveis, novas tecnologias e processos que unem o melhor do campo e da indústria. “Seguimos cultivando, produzindo e vendendo, mas agora com uma estrutura que garante estabilidade e visão de longo prazo”, resume Muller.
Mais do que um caso de sucesso empresarial, a história da Deutschips representa um exemplo de transformação no agronegócio brasileiro. A trajetória da família Auler mostra que é possível romper com a lógica puramente agrícola, agregando valor e construindo marcas fortes a partir do campo.
Em um mercado cada vez mais competitivo, o segredo da Deutschips parece estar na combinação entre tradição e ousadia, entre o legado familiar e a capacidade de inovar.
“Acreditamos que o campo pode gerar muito mais do que commodities: pode gerar marcas, empregos e propósito. Nosso papel é provar isso na prática”, finaliza Muller.