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Pastagens degradadas apresentam enorme potencial para se tornarem novos ativos socioeconômicos e ambientais 

Estudo mapeia extensão de aproximadamente 27,7 milhões de hectares de pastos deteriorados aptos à conversão em áreas produtivas 

Pastagens degradadas apresentam enorme potencial para se tornarem novos ativos socioeconômicos e ambientais 

Entre os acordos firmados entre Brasil e Japão em março de 2025, durante missão oficial ao país asiático, destaca-se a Carta de Intenções, que tem como objetivo fortalecer a cooperação na recuperação de pastagens e terras agrícolas degradadas no Brasil.

Pastagens deterioradas, antes vistas como um passivo, têm grande potencial para se tornarem ativos valiosos, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto ambiental. A reimplantação de atividades agropecuárias nessas áreas gera emprego e renda, enquanto o manejo adequado do pasto contribui para a mitigação de carbono, atuando como um sumidouro natural. Esse é justamente o propósito do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD), do governo federal: transformar áreas degradadas em sistemas produtivos sustentáveis.

Recente estudo, intitulado “Conversão de pastagens degradadas em sistemas de produção agropecuários e florestais sustentáveis: Plano de Priorização de áreas e estimativas de investimentos”, procurou identificar a extensão territorial de pastagens deterioradas com aptidão para serem convertidas em áreas produtivas. 

De acordo com a pesquisadora Leila Harfuch, sócia-gerente da think thank Agroicone, uma das instituições que participou da elaboração do documento, mapeou-se que o Brasil tem aproximadamente 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas com potencial para conversão em áreas produtivas, distribuídos em 1,02 milhão de imóveis rurais privados. “Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Tocantins, Rondônia, São Paulo e Pará concentram 79% dessas áreas”, informa.

Segundo Leila, 25,1 milhões de hectares apresentam potencial para a intensificação da pecuária de corte, 16,9 milhões para a pecuária de leite, 11,5 milhões para a silvicultura, 8,8 milhões para a agricultura, 7,1 milhões para sistemas agroflorestais e 2,6 milhões para sistemas integrados, que contemplam também o componente de florestas plantadas, sobretudo eucaliptos. 

Além da Agroicone, o relatório é resultado de parceria entre o Departamento de Reflorestamento e Recuperação de Áreas Degradadas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Instituto Clima e Sociedade (iCS), o Grupo de Políticas Públicas (GPP-ESALQ), o CITE (Centro de Inteligência para Governança de Terras e Desenvolvimento Sustentável) e o Imaflora.

Leila explica que o primeiro passo para a recuperação da área requer, impreterivelmente, a  tarefa de correção do solo com calcário. “Já a identificação de qual atividade implantar demandará análise caso a caso por propriedade, considerando localização, condições edafoclimáticas, que incluem solo e clima, e, claro, a questão de recursos financeiros”, explica. Nesse quesito, a especialista pontua que o relatório indica um gasto médio de recuperação da pastagem entre R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo das variáveis descritas acima. 

No que diz respeito ao sequestro de carbono, o documento aponta o potencial de remoção de gases de efeito estufa com a recuperação das pastagens identificadas na faixa entre 3,6  MtCO₂ e 65,9 MtCO₂, o que corresponde a cerca de 0,6% e 10,4%, respectivamente, de redução das emissões brutas do setor agropecuário em 2023.

Converter todos os pastos degradados do Cerrado em áreas aptas à atividade rural e intensificar as práticas regenerativas na agricultura do bioma exigiriam US$ 55 bilhões em investimentos até 2050, indica outra pesquisa, do Boston Consulting Group (BCG). 

Esses investimentos, afirma a consultoria, dependem em parte de capital concessional — que assume mais riscos e tem menos retorno em prol de objetivos sustentáveis — para destravar aportes privados.

Este estudo calcula, ainda, que seriam necessários US$ 5 bilhões (9% do total, ou R$ 28 bilhões na cotação atual) em capital concessional para alavancar o capital privado, que poderia contribuir com US$ 24 bilhões do valor necessário para os investimentos nos próximos 25 anos. Os demais US$ 26 bilhões seriam ofertados em linhas subsidiadas do Plano Safra.