Foto: Wenderson Araujo/Trilux
Foto: Wenderson Araujo/Trilux

Resumo da notícia

  • O uso crescente das plantas de cobertura vem fortalecendo a agricultura sustentável, com produtores adotando a técnica para proteger e melhorar o solo entre safras.
  • Espécies de cobertura, como crotalária, milheto e braquiária, ajudam na fertilidade, controle de plantas daninhas e aumento da infiltração de água.
  • A cobertura do solo reduz a erosão, estimula a vida microbiana e mantém a umidade, servindo de base para o plantio direto e sistemas integrados.
  • O manejo correto e escolha da espécie são decisivos: semeadura pós-colheita e rolo-faca antes do florescimento evitam a rebrota e a competição com a lavoura.
  • Especialistas recomendam consórcios de espécies de cobertura para aumentar a palhada, fixar nitrogênio e garantir mais produtividade nas safras seguintes.

Cada vez mais presentes nas lavouras brasileiras, as plantas de cobertura são aliadas da produtividade, da sustentabilidade e da conservação do solo. 

Especialmente em propriedades pequenas e médias, onde cada hectare faz diferença, o uso dessas espécies ajuda a melhorar a fertilidade do solo, protegê-lo contra a erosão e reduzir custos com a aplicação de insumos

A prática é simples, eficiente e pode ser incorporada a diversos sistemas agrícolas, do plantio direto à integração da lavoura e pecuária.

O que são plantas de cobertura e por que usar

As plantas de cobertura são espécies cultivadas com o objetivo principal de proteger e melhorar o solo, e não necessariamente para fins comerciais. Quando manejadas corretamente, formam uma camada vegetal viva ou de palhada que cobre o terreno, controlando o impacto direto da chuva e evitando o escorrimento superficial.

O uso dessas plantas ajuda a aumentar a matéria orgânica, melhorar a estrutura física do solo e estimular a vida microbiana. Elas também têm papel importante no sequestro de carbono, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e adaptada às mudanças climáticas.

Em resumo, as plantas de cobertura funcionam como um “seguro natural” da lavoura, uma vez que elas preparam o terreno, reduzem perdas e fortalecem o sistema produtivo para as próximas safras.

Principais benefícios agronômicos

Os benefícios da adoção de plantas de cobertura vão muito além da aparência verde no campo. Entre os principais deles, destacam-se:

  • Melhoria da fertilidade do solo: as raízes dessas plantas promovem reciclagem de nutrientes, trazendo elementos das camadas mais profundas para a superfície, onde as culturas comerciais podem aproveitá-los.
  • Controle da erosão: a cobertura vegetal reduz o impacto da chuva, evitando o carreamento de partículas e nutrientes.
  • Aumento da infiltração de água: solos cobertos absorvem mais água, diminuindo o risco de enxurradas e aumentando a disponibilidade hídrica durante períodos secos.
  • Controle de plantas daninhas: ao formar uma camada densa, dificultam a germinação de invasoras e reduzem o uso de herbicidas.
  • Ação biológica: as raízes e resíduos orgânicos estimulam microrganismos benéficos, que ajudam na decomposição e no equilíbrio do solo.
  • Fixação biológica de nitrogênio: espécies leguminosas captam o nitrogênio do ar e o transformam em nutrientes disponíveis, diminuindo a necessidade de adubação química.

Em sistemas de plantio direto, a cobertura vegetal é essencial para manter o solo sempre protegido, funcionando como base para uma agricultura mais resiliente e produtiva.

Espécies recomendadas por finalidade

A escolha da planta de cobertura depende do tipo de solo, clima e cultura principal. Em linhas gerais, recomenda-se o uso de espécies que melhor se adaptem às condições locais e aos objetivos do produtor.

Leguminosas (feijão guandu, crotalária)

As leguminosas são ideais para fixar nitrogênio e melhorar a fertilidade natural do solo.

  • Feijão guandu (Cajanus cajan): de crescimento rápido e raiz profunda, é eficiente em solos degradados e serve de alimento para o gado quando manejado corretamente.
  • Crotalária (Crotalaria juncea): muito usada na recuperação de áreas cansadas, contribui para o controle de nematoides e produção de matéria seca.

Essas espécies são indicadas para alternar com culturas como milho, soja e algodão, reduzindo a dependência de adubos nitrogenados.

Gramíneas (milheto, aveia, braquiária)

As gramíneas destacam-se pelo volume de palhada e pela proteção física do solo.

  • Milheto (Pennisetum glaucum): excelente para solos arenosos e regiões quentes; tem alta produção de massa verde e raízes profundas.
  • Aveia preta (Avena strigosa): comum no Sul, ajuda no controle de plantas daninhas e aumenta a matéria orgânica.
  • Braquiária (Brachiaria spp.): muito usada em consórcio com milho e soja, melhora a estrutura do solo e favorece o sistema radicular das culturas seguintes.

Essas espécies também são úteis na integração lavoura-pecuária, permitindo pastejo controlado e melhoria do solo ao mesmo tempo.

Misturas e consórcios

A mistura de leguminosas e gramíneas é uma estratégia que potencializa os efeitos positivos de cada grupo. A combinação de milheto com crotalária, por exemplo, une a fixação de nitrogênio ao alto volume de palhada, resultando em maior cobertura e equilíbrio nutricional.

Consórcios bem planejados podem reduzir pragas, aumentar a diversidade biológica e melhorar a eficiência do uso da água, fatores essenciais para a sustentabilidade da produção.

Como implementar e realizar um bom manejo das plantas de cobertura

O primeiro passo é definir o objetivo agronômico: melhorar a fertilidade, controlar a erosão ou aumentar a palhada para o plantio direto. A partir daí, a escolha da espécie e do momento de plantio deve ser ajustada à época das chuvas e à cultura principal.

  1. Planejamento e análise de solo: a escolha da planta de cobertura deve considerar pH, textura e histórico da área.
  2. Época de semeadura: geralmente feita após a colheita da cultura comercial, aproveitando a umidade residual.
  3. Densidade e profundidade de semeadura: variam conforme a espécie; o ideal é seguir recomendações técnicas de profissionais.
  4. Manejo da cobertura: o corte ou o rolo-faca devem ser feitos antes do florescimento completo, para evitar rebrota excessiva.
  5. Plantio direto sobre palhada: após o manejo, a cultura seguinte é semeada diretamente, aproveitando os benefícios do solo protegido.

O manejo correto evita competição com a cultura principal e maximiza os ganhos em produtividade.

Indicadores de sucesso e riscos

O sucesso do uso de plantas de cobertura pode ser observado em solos mais férteis, estruturados e com maior retenção de água. Outros indicadores incluem o aumento da biomassa radicular, redução da erosão e melhor rendimento das safras seguintes.

No entanto, há riscos que exigem atenção:

  • Escolher espécies inadequadas ao clima local pode comprometer o manejo.
  • O excesso de palhada pode dificultar a semeadura mecanizada.
  • A falta de rotação de culturas adequada pode favorecer o aparecimento de pragas e doenças específicas.

Por isso, o acompanhamento técnico é fundamental. A orientação de engenheiros agrônomos e extensionistas rurais garante que o sistema funcione de forma equilibrada e traga retorno econômico ao produtor.

As plantas de cobertura são um investimento de médio e longo prazo que transforma o solo em um ativo mais produtivo e sustentável. Para o pequeno e médio produtor, representam baixo custo, alta eficiência e uma forma inteligente de proteger o solo e o futuro da lavoura.

Elas são uma ferramenta essencial para enfrentar as mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar no campo brasileiro. Para se aprofundar no assunto, leia este outro artigo que conta como o Cerrado brasileiro virou um exemplo global de produção com conservação do seu ecossistema.