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Produtor rural deve decidir com "pés no chão" diante do cenário de incertezas 

Investir numa boa estratégia de gestão da comercialização da safra é fundamental para que o agricultor faça a travessia de modo mais seguro neste momento

Foto ilustra como investir na estratégia de gestão da comercialização da safra é fundamental para fazer a travessia de modo mais seguro em cenário de incertezas
Foto: Oslo Knappett/Unsplash

O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou uma guerra comercial global, criando um cenário de incerteza geopolítica-econômica, que naturalmente também impacta as principais commodities agrícolas e o comércio internacional como um todo. 

Diante deste cenário, a recomendação para o produtor rural brasileiro, particularmente o de grãos, é de cautela, de “decidir com os pés no chão”. O diagnóstico é de Jefferson Piccini, gerente de soluções da equipe de Cenários Agro e Mitigadores, da diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil

“A economia dos EUA, por exemplo, apresenta um nível de incerteza similar ao que se observou na pandemia da Covid-19”, diz Piccini. Segundo ele, investir numa boa estratégia de gestão da comercialização da safra é fundamental para que o produtor rural faça a travessia de modo mais seguro neste momento. 

“Estamos no pico da colheita de grãos agora, período em que as cotações ficam mais pressionadas, devido à oferta. Por outro lado, a demanda pela soja brasileira pode aumentar com a guerra comercial e elevar os preços. É um vaivém acentuado”, explica. 

Dessa forma, ressalta Piccini, além de manter o patamar tecnológico da lavoura, o produtor rural deve trabalhar cada vez mais com mecanismos de posicionamento de mercado que lhe assegurem a rentabilidade do negócio. 

“É fazer a venda futura em bolsa, travando o seu custo por meio de ferramentas de hedge (proteção). É também fazer a venda física no momento de uma boa cotação. Enfim, é ter um planejamento de comercialização para aproveitar de maneira correta o que cada período pede”, detalha o gerente de soluções. 

O imprescindível, frisa Piccini, é que o produtor busque operações em que consiga, acima de tudo, cobrir os custos e garantir, obviamente, alguma margem de ganho. “É um comportamento que não pode ser pontual, mas corriqueiro”.

Armazenagem 

Contudo, existem desafios, sendo o gargalo da armazenagem da produção um dos mais significativos. Como deixar para vender depois se não há onde estocar a safra? O escoamento até melhorou nos últimos tempos, com novos trechos rodoviários, maior uso de ferrovias e hidrovias, e as exportações pelos portos pelo Arco Norte, mas a disponibilidade de armazéns agrícolas não caminhou no mesmo ritmo. 

Estima-se que a capacidade de armazenamento no Brasil esteja em torno de 62% da safra. Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), lembra Piccini, indicam que um país deve ter condições de estocar cerca de 120% de sua produção agrícola. 

De acordo com o especialista do BB, seriam necessários, hoje, aproximadamente R$ 174 bilhões em recursos para que o Brasil pudesse atender este percentual. “A realidade é que o agro brasileiro continuará crescendo, e a armazenagem não pode ser um problema eterno”.

Mais culturas 

Ademais, como o agro brasileiro, de fato, não é só grãos, Piccini também apresenta um breve registro para outros produtos de peso que compõem a pauta do setor:

  • Citros: observa-se uma nova recuperação da oferta e consequente sinalização de acomodação dos preços futuros;
  • Cana (açúcar e etanol): início da moagem do ciclo 2025/26 no Centro-Sul, com preços em bom patamar. Alerta para as tarifas de Trump e priorização da agenda do presidente dos EUA para os combustíveis fósseis;
  • Algodão: preços registram estabilidade e a guerra tarifária pode ser positiva para a cotonicultura brasileira, com um redirecionamento da demanda chinesa para o Brasil, já que o país asiático é o maior importador global da fibra;
  • Café: expectativa positiva para a nova safra e preços ao produtor se mantendo em alta;
  • Carnes: cenário favorável, com as cotações valorizadas.

Diante de um ambiente global volátil e repleto de incertezas, o produtor rural brasileiro precisa adotar uma postura cada vez mais estratégica e profissional. A combinação de planejamento comercial eficiente, uso de ferramentas de proteção de preços e atenção constante aos movimentos do mercado internacional são medidas indispensáveis para garantir a sustentabilidade do negócio. 

No fim, o caminho mais seguro é aquele guiado pela informação, planejamento e visão de longo prazo — princípios que tornam o produtor mais resiliente diante dos desafios atuais e futuros.