
Resumo da notícia
- As abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 90% dos pomares de maçã no Brasil.
- A combinação entre abelhas com ferrão (Apis mellifera) e espécies nativas sem ferrão tem mostrado bons resultados, ampliando a fecundação das flores e tornando a colheita mais uniforme.
- Durante a floração, produtores alugam colmeias para assegurar polinização eficiente, prática que fortalece a parceria entre apicultores e fruticultores.
- O uso de defensivos é controlado para proteger as abelhas, e há uma crescente conscientização de que sem elas a produção não acontece.
- A integração entre apicultura e fruticultura se consolida como modelo de produção sustentável, que preserva polinizadores, aumenta a eficiência dos pomares e fortalece a segurança alimentar.
A safra brasileira de maçãs 2024/25 deve crescer cerca de 10%, alcançando 915 mil toneladas, impulsionada pelo clima favorável e marcada por frutos de melhor qualidade, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM).
Por trás desse desempenho está um aliado muitas vezes invisível: as abelhas. Responsáveis pela polinização de mais de 90% dos pomares do país, elas garantem não apenas o volume da colheita, mas também a simetria, o tamanho e o valor comercial dos frutos.
Estudos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) indicam que a integração entre apicultura e produção de maçã pode elevar a produtividade em até 4 toneladas por hectare, além de fortalecer práticas sustentáveis no campo.
É o que explica André Sezerino, pesquisador da Estação Experimental de Caçador, da Epagri: “A cultura da maçã tem uma dependência genética das abelhas. Para que uma flor de uma variedade vire fruto, é preciso que o pólen venha de outra variedade e a polinize. Esse processo é o que chamamos de polinização cruzada”.
Polinização que garante o pomar
No Brasil, segundo a ABPM, cerca de 95% das áreas plantadas concentram-se nas variedades Gala e Fuji, cultivadas em proporções semelhantes. A transferência de pólen entre elas, fundamental para garantir frutos de tamanho e formato adequados, é realizada quase integralmente pelas abelhas. “O vento não tem participação nesse processo. São as abelhas que fazem esse trabalho com excelência”, reforça Sezerino.
Sem a presença delas, a produtividade dos pomares poderia cair em torno de 90%. E mais do que quantidade, a polinização afeta diretamente a qualidade do fruto, determinando se ele será comercialmente viável. “O produtor ganha dinheiro com o fruto perfeito. Flores mal polinizadas formam frutos tortos, que perdem valor comercial”, observa o pesquisador.
Abelhas nativas elevam a produtividade
A principal espécie utilizada nos pomares é a Apis mellifera, abelha com ferrão trazida da Ásia e Europa ao Brasil há décadas e amplamente manejada por apicultores. No entanto, estudos da Epagri mostram que a combinação com abelhas nativas sem ferrão pode potencializar ainda mais os resultados.
“Quando usamos abelhas nativas junto às abelhas com ferrão, conseguimos aumentar a produtividade em quase quatro toneladas por hectare”, afirma Sezerino.
O Brasil abriga mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão, e cerca de 30 delas podem ser manejadas com segurança em Santa Catarina. Essas espécies complementam a polinização, ampliando a fecundação das flores e contribuindo para uma colheita mais uniforme.
Mercado de aluguel de colmeias cresce no Sul
Durante o período de floração, que ocorre entre o início e a primeira quinzena de outubro, dependendo da variedade, os produtores costumam recorrer ao aluguel de colmeias para garantir polinização eficiente. A prática, conhecida como apicultura migratória, vem crescendo no Sul do Brasil e já movimenta um mercado consolidado.
“O aluguel de colmeias é uma ferramenta essencial. Empresas maiores até mantêm apiários próprios, mas ainda assim precisam contratar apicultores para atender à demanda”, explica Sezerino.
A florada das macieiras dura de 15 a 30 dias; após esse período, as colmeias são removidas para evitar contaminação por defensivos agrícolas. A relação entre fruticultores e apicultores, segundo o pesquisador, tem se tornado mais colaborativa.
Sustentabilidade e cuidados com defensivos
Apesar dos avanços, o uso de defensivos ainda é um desafio. “A maioria dos produtos é tóxico para as abelhas, mas já existe uma consciência muito grande dos produtores. Eles sabem que, se não cuidarem das abelhas, a produção não acontece”, ressalta Sezerino.
Durante a floração, a aplicação de inseticidas é evitada e, quando necessário, é limitada ao uso de fungicidas de menor impacto. Essa mudança de postura tem sido decisiva para garantir abelhas saudáveis e pomares produtivos.
Além de reduzir perdas, a integração entre apicultura e fruticultura tem se mostrado uma prática sustentável, contribuindo para a preservação de polinizadores e o equilíbrio ambiental.
Desafios e futuro da integração
O transporte de colmeias e a mecanização da apicultura ainda são gargalos no Brasil. “Carregar e descarregar colmeias ainda é um trabalho manual e arriscado. Nos Estados Unidos, tudo é feito com paletes e equipamentos mecanizados. É um modelo em que precisamos evoluir”, afirma André.
Mesmo com esses entraves, a integração entre abelhas e macieiras avança. Além de impulsionar a produção, o sistema contribui para a diversificação de renda rural, pois permite que apicultores e fruticultores compartilhem benefícios econômicos.
Mais do que mel
O impacto econômico da polinização vai muito além da produção de mel, que movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cultura da maçã, depende quase integralmente das abelhas, movimenta cerca de R$ 7 bilhões anuais, segundo estimativas do setor.
“O papel das abelhas na produção de alimentos é muito maior do que na produção de mel. Elas são responsáveis por grande parte do valor gerado na fruticultura”, destaca Sezerino.
Mais do que produtoras de mel, as abelhas são agentes-chave da segurança alimentar e da sustentabilidade da fruticultura. A integração entre apicultura e pomares de maçã representa um modelo de parceria que beneficia o meio ambiente, aumenta a eficiência produtiva e ajuda a garantir o futuro da agricultura. “É uma relação que beneficia todos: as abelhas, os produtores e os consumidores”, conclui Sezerino.
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