Todos os meses, cerca de 17 a 25 toneladas de resíduos orgânicos — principalmente frutas e hortaliças impróprias para o consumo — são descartadas na Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa-CE), com custo mensal de aproximadamente R$ 230 mil para transporte até o aterro sanitário.
Para transformar esse passivo em energia renovável e redução de impacto ambiental, pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram o Sistema Integrado de Reatores Anaeróbios, que pode gerar biogás suficiente para abastecer até 100% da demanda da central nos horários de pico.
Tecnologia aumenta produção de biogás e reduz custos operacionais
O sistema desenvolvido pela equipe liderada pelo pesquisador Renato Leitão (Embrapa) representa uma alternativa sustentável ao descarte convencional, e supera os limites do modelo tradicional de biodigestão.
Como funciona o novo sistema:
- Pré-tratamento da biomassa com trituração e prensagem, separando os resíduos em duas frações:
- Líquida → direcionada a reatores UASB (manta de lodo), ideais para alta carga orgânica e grande rendimento de metano;
- Sólida → destinada à compostagem (produção de fertilizante) ou a reatores de metanização seca (ainda em testes).
Esse processo modular permite maior eficiência energética, menor área ocupada, redução de emissões de GEE e ainda gera fertilizantes de alta qualidade como subproduto.
Impacto energético e ambiental na Ceasa do Ceará
Com o uso da nova tecnologia, o biogás gerado pode atender:
- 100% da demanda elétrica da Ceasa-CE nos horários de ponta;
- Mais 20% da energia consumida fora desses horários;
- Possibilidade de venda como biometano, após tratamento adequado.
Além disso, o sistema proporciona:
- Redução de custos logísticos com transporte e aterramento de resíduos;
- Eliminação de toneladas de gases de efeito estufa (GEE);
- Estímulo à economia circular e à geração de empregos verdes.
“É uma solução que une energia limpa, economia e impacto ambiental positivo”, afirma Renato Leitão.
Potencial de replicação nacional em outras centrais de abastecimento
Atualmente, o Brasil possui 57 centrais de abastecimento públicas, e o modelo criado na Ceasa-CE pode ser replicado em todo o país.
Segundo o professor André dos Santos, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC:
“O impacto pode ser enorme: energia limpa, menos resíduos, mais empregos e economia circular na prática.”
O próximo passo será a construção de uma unidade-piloto em escala ampliada, que permitirá ajustes técnicos e preparação para a adoção em larga escala.