
No ano em que o Brasil é o país sede da trigésima Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima, na qual o agro vem buscando se posicionar em um papel-chave, não de vilão, mas de parte da solução climática, o tema foi destaque no Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), que ocorreu nesta semana – dias 22 e 23 –, na capital paulista.
Em sua décima edição, o evento reflete o avanço da participação feminina no setor, mostrando cada vez mais o protagonismo da mulher como tomadora de decisão do segmento agro. Além de conteúdo no formato de seminário sobre a agenda de desafios e oportunidades do agronegócio, o CNMA também apresentou exposição de marcas, entre fabricantes de insumos e maquinários agrícolas, bem como tradings, câmaras de comércio, entidades e assim por diante.
Em painel específico sobre sustentabilidade, nesta quinta-feira (23),a diretora de ESG da Amaggi, gigante brasileira produtora de grãos e fibras, Juliana Lopes, assinalou que o agro brasileiro tem um extenso portfólio de boas práticas agrícolas, que o posiciona como o mais sustentável globalmente. “É o plantio direto, são os cultivos de cobertura de solo, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), os pastos de alto vigor, o crescimento das colheitas e da produção de carne baseado em produtividade, a energia renovável a partir do campo etc.”, listou Juliana.
Segundo a executiva, a COP será uma vitrine para mostrar tudo isso à comunidade internacional. “Nós já fazemos em escala o que o mundo de certo modo nos cobra e almeja fazer”, comentou.
Neste cenário, um dos desafios é a busca por se estabelecer um consenso global acerca de métricas de sustentabilidade – hoje ancoradas somente em critérios de clima temperado –, que possam também reconhecer as particularidades do modelo de agricultura tropical, enfatizou a diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Fernanda Carneiro, mais cedo, ainda nesta quinta, em encontro, também em São Paulo (SP), da Missão Empresarial Agroalimentar da União Europeia no Brasil, chefiada pelo Comissário Europeu para a Agricultura e Alimentação, Christophe Hansen.
“A questão sustentável está dada, é inexorável, mas muitas vezes o tema ambiental é usado como barreira comercial, sem base técnica. Na CNA, estamos dando arranque a um esforço de mostrar na FAO [Organização para Alimentação e Agricultura da ONU], o que é a agricultura tropical, que a forma de se fazer agricultura no Brasil, nos trópicos, é diferente, e que estas especificidades precisam ser consideradas. Aqui, fazemos duas, três, até quatro colheitas por ano, algo que não acontece em nenhum outro lugar”, acentuou Fernanda.
Voltando ao painel no CNMA, a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Paula Packer, pontuou que se não fossem episódios de desmatamento ilegal, que não podem ser relacionados ao agro profissional, o setor seria mais bem reconhecido do ponto de vista da sustentabilidade, embora também falte uma comunicação mais consistente do segmento nesta temática.
“Temos diversas políticas públicas de descarbonização vinculadas ao agro, o RenovaBio, o Combustível do Futuro, o Plano ABC, que precisam ser melhor divulgadas. Estima-se que estes três programas têm potencial de diminuir em 2,4 gigatoneladas de CO2 equivalente as emissões nos próximos dez anos“, finaliza Paula.