Pecuária

Estudo da Embrapa revela desafios e oportunidades para modernização da criação de bezerros no Acre

Mais de 80% dos produtores são de base familiar e enfrentam desafios para adotar tecnologias, apesar do bom manejo das pastagens

bezerro
Foto: Vítor Macedo/Embrapa

Um diagnóstico inédito realizado pela Embrapa Acre em 246 fazendas de cria, distribuídas por 12 municípios do estado, revelou um retrato detalhado da pecuária bovina local. O levantamento mostra que 82% dos pecuaristas acreanos são de base familiar e que 71% criam bezerros com baixa adoção de tecnologias, principalmente por falta de infraestrutura e acesso a informações.

Apesar dos desafios, o estudo também identificou pontos positivos. Um deles é a qualidade das pastagens: 75,4% das propriedades apresentaram pasto bem manejado, graças ao uso de gramíneas adaptadas ao clima e solo da região. Essa estratégia tem ajudado a reduzir custos com reformas e evitar a abertura de novas áreas.

A pecuária de corte é a principal atividade econômica do Acre, responsável por 60% do valor bruto da produção agropecuária estadual. A criação de bezerros, base da cadeia, gera emprego e renda para mais de 10 mil produtores e abastece propriedades de recria e engorda em várias regiões do país.

Mesmo com o potencial, os gargalos são expressivos. A maioria dos produtores desconhece tecnologias disponíveis e de baixo custo, como o consórcio de gramíneas com leguminosas e o plantio direto de forrageiras a lanço, técnica ideal para pequenos produtores que não possuem tratores.

O levantamento também mostrou que 71% dos produtores têm acesso à internet via celular, o que representa uma oportunidade de disseminar informações por meio de aplicativos e redes sociais. Para o pesquisador Carlos Maurício Andrade, coordenador do estudo, o primeiro passo para transformar o setor é entender o perfil dos produtores. “A partir desse conhecimento, é possível direcionar políticas públicas, pesquisas e ações de capacitação que atendam à realidade local”, afirma.

Outro dado preocupante é o excesso de lotação: a média de 2,49 cabeças por hectare são quase 28% maior do que a média estadual. Isso causa superpastejo, degrada as pastagens e prejudica o desempenho do rebanho. Já em relação à genética, 80% dos produtores usam touros de origem desconhecida, o que compromete a qualidade dos bezerros.

Os resultados serão debatidos nos dias 25 e 26 de junho, durante o 1º Simpósio Acreano de Pecuária de Cria, em Rio Branco. O evento pretende reunir especialistas, produtores, técnicos e gestores para propor soluções e fortalecer o segmento no estado.

“Modernizar não significa adotar tecnologias caras, mas elevar gradualmente o padrão técnico das propriedades, com ações integradas e adaptadas à realidade do produtor familiar”, resume o pesquisador Vitor Macedo, um dos autores do estudo.