Agricultura de precisão

Embrapa cria método inovador para detectar pesticidas no pólen da laranjeira

Nova técnica reduz custos e resíduos, exige 100 vezes menos amostra e pode proteger abelhas e consumidores

Método detecta resíduos de pesticidas no pólen da laranjeira com alta precisão, menor impacto ambiental e custo reduzido
Foto: Gabriela Almeida/Embrapa

A Embrapa Meio Ambiente, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveu um novo método para detectar resíduos de pesticidas no pólen da laranjeira com alta precisão, menor impacto ambiental e custo reduzido. A técnica representa um avanço significativo frente aos procedimentos tradicionais, ao exigir 100 vezes menos amostra e utilizar até 10 vezes menos reagentes e solventes — o que torna a análise mais acessível e sustentável.

Segundo os pesquisadores Robson Barizon e Sonia Queiroz, responsáveis pelo estudo, a inovação é estratégica diante do cenário atual da citricultura brasileira. O Brasil lidera a produção mundial de laranja, com 17,6 milhões de toneladas colhidas em 2023, segundo o IBGE. Entretanto, o uso intensivo de pesticidas, em especial os neonicotinóides, levanta preocupações sobre os impactos à saúde humana e à biodiversidade — especialmente às abelhas, essenciais à polinização.

A metodologia desenvolvida emprega uma versão miniaturizada do método QuEChERS, baseada em microextração. Com apenas 100 miligramas de pólen, os pesquisadores conseguiram detectar resíduos de substâncias como imidacloprido, clotianidina, tiametoxam, abamectina, azoxistrobina e carbendazim, com alta sensibilidade. A análise foi feita em amostras coletadas em áreas experimentais de produção de laranja.

Além da eficiência técnica, o novo procedimento está alinhado aos princípios da química verde — abordagem que busca restringir ou eliminar o uso de substâncias tóxicas no ambiente. “A contaminação por neonicotinóides tem sido associada a efeitos comportamentais e fisiológicos nas abelhas, como desorientação e intoxicação. Esse método permite monitorar esse risco com mais precisão e menor custo”, explica Barizon.

A aplicação da técnica também ganha força por utilizar equipamentos já comuns em laboratórios de resíduos de defensivos agrícolas, como o cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de massas. Isso amplia a possibilidade de adoção da metodologia por instituições públicas e privadas em todo o país.

O estudo reforça a importância de monitorar compostos prejudiciais em matrizes pouco exploradas, como o pólen, e amplia o debate sobre o uso de defensivos agrícolas no Brasil — um dos maiores consumidores desses produtos no mundo. Para os cientistas, tornar esse tipo de análise mais acessível é um passo decisivo para garantir a segurança alimentar, proteger polinizadores e promover uma agricultura mais sustentável.