No Rio Grande do Sul, pesquisadores de instituições brasileiras e alemãs analisaram como práticas produtivas e de manejo de dejetos podem reduzir o consumo de água na produção de leite e mitigar os efeitos das mudanças climáticas sobre a pegada hídrica do setor.
Foto: Gisele Rosso/Embrapa

No Rio Grande do Sul, pesquisadores de instituições brasileiras e alemãs analisaram como práticas produtivas e de manejo de dejetos podem reduzir o consumo de água na produção de leite e mitigar os efeitos das mudanças climáticas sobre a pegada hídrica do setor. O estudo, publicado na revista Science of The Total Environment, avaliou 67 fazendas leiteiras e testou 192 combinações entre boas práticas e cenários climáticos, gerando dados que auxiliam na orientação de ações voltadas à sustentabilidade da atividade.

As propriedades avaliadas estão localizadas em Lajeado Tacongava, na região nordeste do estado. Do total, 57 são baseadas em pastagem, sete são semiconfinadas e três confinadas, todas voltadas à produção de leite.

A pegada hídrica corresponde à quantidade de água consumida direta e indiretamente durante o ciclo de produção. No caso do leite, o cálculo seguiu as diretrizes do Manual de Avaliação da Pegada Hídrica. O estudo considerou o uso direto de água nas propriedades e também o consumo associado ao cultivo de alimentos utilizados na dieta animal, abrangendo as categorias de água verde, azul e cinza.

A água verde inclui o consumo na produção dos componentes da dieta dos animais, considerando a evapotranspiração (perda de água do solo e das plantas para a atmosfera) das culturas forrageiras e o teor de água nos alimentos.

A água azul refere-se àquela captada de fontes superficiais e subterrâneas, utilizada na dessedentação dos animais, na lavagem da sala de ordenha e no resfriamento das instalações.

Já a água cinza é estimada com base na quantidade total necessária para diluir o nitrato que escoa para os corpos hídricos quando o efluente da sala de ordenha é usado como fertilizante.

Segundo o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste, integrante da equipe do estudo, fatores como o aumento da produtividade das culturas de milho e soja (utilizadas na alimentação dos bovinos), a redução do uso de água na limpeza da sala de ordenha, o crescimento da produção de leite e o tratamento adequado dos efluentes contribuem para diminuir a pegada hídrica. Por outro lado, o aquecimento global tende a elevá-la, tanto na fração azul quanto na verde, devido ao maior consumo de água pelos animais e à redução no rendimento do milho.

O estudo conclui que a maior eficiência hídrica na pecuária leiteira está associada ao aumento da produtividade agrícola, à otimização do uso de água e ao manejo adequado dos dejetos. Já os cenários climáticos adversos, como a elevação da temperatura média e a queda na produtividade das lavouras, reduzem essa eficiência.

De modo geral, o uso racional da água, o melhor desempenho produtivo dos animais, a otimização do rebanho e a seleção de gado mais eficiente são fatores-chave para diminuir a pegada hídrica verde, azul e cinza. Palhares destaca que práticas que garantam a eficiência na lavagem da sala de ordenha e o tratamento correto dos efluentes são essenciais para tornar os sistemas de produção mais sustentáveis.