Sustentabilidade

Estudo da Unesp destaca papel central da Caatinga na captura de carbono no Brasil

Entre 2015 e 2022, bioma nordestino respondeu por quase 50% do sequestro de carbono do país, mesmo ocupando apenas 10% do território nacional

Foto: Leonardo Dourado/Pexels
Foto: Leonardo Dourado/Pexels

Um novo estudo da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp revela que a Caatinga, bioma característico do Nordeste brasileiro, teve papel central na captura de carbono no Brasil entre os anos de 2015 e 2022. Apesar de ocupar aproximadamente 10% do território nacional, a Caatinga foi responsável, em alguns anos, por quase 50% de todo o sequestro de carbono realizado no país.

A pesquisa foi conduzida pelo pesquisador Luís Miguel da Costa, em parceria com o professor Newton La Scala Jr., e publicada na revista científica Science of the Total Environment. O levantamento comprova que, em termos de remoção de CO₂ da atmosfera, a Caatinga superou até mesmo biomas amplamente reconhecidos por seus serviços ambientais, como a Amazônia e o Cerrado.

Caatinga: um sumidouro altamente responsivo

O estudo utilizou dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), coordenado por instituições brasileiras como o Observatório do Clima, e do Climate TRACE, consórcio internacional que emprega imagens de satélite e inteligência artificial para monitorar as emissões em escala global. Também foram incorporados dados sobre precipitação e fluorescência da clorofila (SIF), um indicador direto da atividade fotossintética da vegetação — quanto maior o SIF, maior o sequestro de carbono.

De acordo com os pesquisadores, a resposta rápida da vegetação da Caatinga à disponibilidade hídrica é o principal diferencial do bioma. “Na Amazônia, há praticamente um platô da atividade fotossintética. Já na Caatinga, observamos um crescimento expressivo do SIF em anos com chuvas acima da média, indicando forte capacidade de sequestro de carbono nesses períodos”, explica Luís Miguel da Costa.

Potencial estratégico para políticas ambientais

A rebrotagem rápida das plantas logo após o início da estação chuvosa torna a Caatinga um sumidouro expressivo de carbono — mesmo em intervalos curtos de melhora climática. Estudos anteriores indicam que o bioma chega a responder por cerca de 40% das remoções de CO₂ do país. Para Newton La Scala Jr., os resultados reforçam a necessidade de reconhecimento e valorização do bioma, que historicamente recebe menos atenção nas políticas ambientais nacionais.

“São características diferentes, mas igualmente importantes. A Amazônia permanece como um grande reservatório de carbono, cuja preservação é fundamental. Já a Caatinga mostra uma notável capacidade de capturar carbono com agilidade, sobretudo em resposta a fatores como o aumento das chuvas”, afirma o professor da Unesp de Jaboticabal.

Implicações para o combate às mudanças climáticas

O levantamento destaca que a preservação e restauração da vegetação nativa da Caatinga podem desempenhar um papel crucial nas estratégias brasileiras de mitigação das mudanças climáticas. A vegetação seca e adaptada às variações climáticas extremas possui um potencial ainda pouco explorado, especialmente diante da crescente demanda por soluções naturais de sequestro de carbono.

Além de reforçar o valor ecológico da Caatinga, o estudo também aponta caminhos para o desenvolvimento de políticas públicas de conservação e manejo sustentável do bioma, que abriga milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social e climática.