Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um conjunto de 17 metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, dentro da chamada Agenda 2030.
A proposta é orientar governos, empresas e a sociedade rumo a um projeto que une o crescimento econômico, a justiça social e a preservação ambiental.
Essas metas abrangem temas diversos, como erradicação da pobreza, segurança alimentar, energia limpa, ações contra as mudanças climáticas e proteção da biodiversidade.
No contexto da agropecuária, os ODS assumem uma importância estratégica, já que a rotina no campo está diretamente ligada a questões como produção de alimentos, uso dos recursos naturais e inclusão social.
A pecuária, em especial, aparece muitas vezes no centro das discussões sobre sustentabilidade, principalmente por ser um setor de alta produtividade. Contudo, quando alinhada aos princípios dos ODS, a atividade pode se transformar em parte essencial da solução, contribuindo de maneira significativa para as metas globais serem cumpridas.
Como a pecuária pode contribuir para os ODS
A pecuária sustentável é um modelo que considera a eficiência produtiva, a redução de emissões de gases de efeito estufa, a valorização das comunidades rurais e a preservação da biodiversidade.
Entre as formas de contribuição aos ODS destacam-se:
- ODS 2 (Fome zero e agricultura sustentável): a pecuária desempenha papel-chave no fornecimento de proteína animal para combater a fome e a desnutrição, especialmente em populações mais vulneráveis.
- ODS 12 (Consumo e produção responsáveis): práticas de manejo racional, como a rotação de pastagens e o uso eficiente da água, tornam a produção mais equilibrada e menos intensiva em recursos naturais.
- ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima): a adoção de técnicas que reduzem a emissão de metano entérico e aumentam a fixação de carbono no solo posicionam a pecuária como parte da solução climática.
- ODS 15 (Vida terrestre): o manejo sustentável contribui para evitar o desmatamento e promover a recuperação de áreas degradadas.
Práticas sustentáveis na pecuária que apoiam os ODS
A implementação de boas práticas na pecuária sustentável é o ponto de partida para alinhar o setor à agenda da ONU. Algumas ações já consolidadas incluem:
- Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): sistema produtivo que combina pecuária com agricultura e florestas, promovendo maior aproveitamento do solo, diversificação de renda e sequestro de carbono.
- Manejo rotacionado de pastagens: permite a recuperação do solo, melhora a qualidade da forragem e aumenta a capacidade de suporte das áreas.
- Bem-estar animal: práticas que garantem conforto, saúde e nutrição adequada reduzem o estresse e melhoram a produtividade, além de responderem à demanda de consumidores mais conscientes.
- Uso racional da água: tecnologias como bebedouros automatizados e sistemas de irrigação de pastagens otimizam o consumo hídrico.
- Gestão de resíduos e bioenergia: o aproveitamento de dejetos animais para produção de biogás reduz impactos ambientais e gera energia limpa.
- Genética e nutrição de precisão: técnicas que aumentam o ganho de peso e reduzem o tempo de abate ajudam a diminuir a emissão de gases por animal.
Essas práticas, quando aplicadas em larga escala, têm potencial para transformar a relação entre a pecuária e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável agro.
Exemplos de iniciativas que alinham a pecuária aos ODS
Diversas iniciativas em andamento já demonstram que é possível conciliar produção pecuária com sustentabilidade:
- Programa ABC+ (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono): criado pelo governo federal, incentiva práticas como ILPF, recuperação de pastagens e manejo de dejetos animais. O objetivo é reduzir emissões e aumentar a produtividade de forma sustentável.
- Carne Carbono Neutro (CCN) e Carne Baixo Carbono (CBC): certificações brasileiras que garantem que a carne bovina foi produzida em sistemas capazes de neutralizar ou reduzir emissões de gases de efeito estufa.
- Parcerias com cooperativas e organizações internacionais: projetos em regiões pecuárias que promovem capacitação de produtores e acesso a mercados diferenciados, valorizando a produção sustentável.
- Ações privadas de grandes frigoríficos e laticínios: empresas do setor têm desenvolvido políticas de rastreabilidade e transparência, alinhando sua cadeia de valor aos ODS na agropecuária.
Esses exemplos reforçam que a transformação já está em andamento e que os consumidores, cada vez mais atentos, têm papel fundamental em incentivar modelos de produção sustentáveis.
Desafios e oportunidades para acelerar o papel da pecuária na Agenda 2030
Apesar dos avanços, há desafios estruturais que precisam ser enfrentados:
- Adesão desigual entre produtores: enquanto grandes propriedades já implementam tecnologias sustentáveis, pequenos e médios ainda enfrentam barreiras de acesso a crédito e assistência técnica.
- Custo de investimento: práticas como ILPF e sistemas de bioenergia exigem investimentos iniciais elevados, que podem ser desafiadores sem políticas públicas adequadas.
- Pressões externas e imagem pública: a pecuária ainda é associada ao desmatamento ilegal e à emissão de gases, exigindo mais comunicação e transparência do setor.
Ao mesmo tempo, existem oportunidades promissoras:
- Mercado internacional mais exigente: países importadores estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis.
- Acesso a linhas de crédito verde: programas específicos oferecem condições financeiras atrativas para produtores que adotam práticas sustentáveis.
- Inovação tecnológica: startups e universidades desenvolvem soluções digitais para monitoramento de emissões, gestão de pastagens e rastreabilidade.
Assim, a pecuária tem diante de si um caminho de transição sustentável que pode reforçar sua relevância econômica e social.
A integração da pecuária aos ODS não é uma tendência passageira, mas um compromisso global para garantir alimentação de qualidade, preservação dos recursos naturais e valorização das comunidades rurais. O setor já mostra capacidade de se reinventar por meio de inovação, políticas públicas e parcerias estratégicas, consolidando-se como protagonista de uma nova fase da produção de alimentos.
Para aprofundar o debate sustentável no setor, recomendamos que você leia também nosso artigo sobre pecuária regenerativa e o sequestro de carbono: mito ou realidade?