A agricultura brasileira cresceu, em média, 2,59% ao ano entre 1985 e 2017, segundo dados apresentados pelo pesquisador Steven Helfand, da Universidade da Califórnia, durante o seminário Mundo Agro, realizado na última terça-feira (29), na Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS). Esse crescimento ocorreu com um uso proporcionalmente menor de insumos, que aumentaram apenas 0,97% ao ano, indicando ganhos reais de produtividade.
O levantamento mostrou que o desempenho da agricultura variou significativamente entre os biomas brasileiros. No Cerrado, por exemplo, a produtividade cresceu 2,43% ao ano, enquanto na Caatinga esse índice foi praticamente nulo. A Amazônia apresentou 1% de crescimento e a Mata Atlântica, 1,25%. Esses dados reforçam que o avanço agrícola está diretamente ligado aos investimentos em pesquisa agropecuária e educação no campo.
A pesquisa também analisou o avanço da educação rural nos diferentes biomas, utilizando uma escala de 0 a 5. O Cerrado novamente liderou, com pontuação média de 0,30, seguido pela Mata Atlântica (0,27), Amazônia (0,17) e Caatinga (0,16). Essa correlação entre escolaridade e produtividade reforça a importância de políticas públicas voltadas para a capacitação do produtor rural.
Segundo Helfand, os investimentos em pesquisa começam a gerar impacto após 4 anos, atingem o pico aos 12 anos e seguem influenciando o setor por até 22 anos. Ou seja, o planejamento de longo prazo é fundamental para o desenvolvimento sustentável da agricultura.
Para o pesquisador Antônio Buainain, da Unicamp, o caso do Cerrado brasileiro é emblemático: o crescimento da agricultura na região não foi espontâneo, mas resultado de ações coordenadas pela Embrapa e apoio do Estado brasileiro nas décadas anteriores.
Ele também mencionou casos regionais de sucesso, como a produção de maçãs no Sul e de flores no Sudeste, mas frisou que nenhuma dessas iniciativas alcançou a escala econômica e territorial do agronegócio no Cerrado.
Mesmo com os avanços, a desigualdade na produção agrícola persiste. Estima-se que 10% dos produtores concentram 85% da produção nacional. Isso significa que grande parte do crescimento do setor vem de uma minoria de produtores altamente produtivos, enquanto a agricultura familiar e cultivos de subsistência, especialmente na América Latina, enfrenta sérias dificuldades.
“Estamos assistindo a uma crise na agricultura familiar que se reproduz em muitos países, inclusive nos Estados Unidos. Mas é na agricultura de subsistência dos países latino-americanos que está acontecendo com mais intensidade. Além do baixo acesso a políticas públicas e à educação, a agricultura familiar é a que mais sofre com os efeitos do clima”, conta Buainain.
O seminário também reforçou a importância de políticas públicas contínuas e do papel estratégico das instituições de pesquisa. Segundo os especialistas, é preciso ampliar o alcance das inovações agrícolas para além dos grandes produtores e garantir que as soluções cheguem aos pequenos agricultores, especialmente em regiões menos favorecidas.