
A polinização das abelhas é um dos processos ecológicos mais importantes para a agricultura. Além de garantir a formação de frutos e sementes, ela influencia diretamente a produtividade e a qualidade dos alimentos. Em um cenário de mudanças climáticas e perda de biodiversidade, entender o papel dos polinizadores e promover sua conservação é fundamental para o futuro do setor agrícola.
Neste artigo, vamos explorar como a polinização contribui para os sistemas agrícolas, os principais polinizadores envolvidos, os riscos da redução da biodiversidade e as estratégias para manter esse serviço ecológico essencial.
O que é polinização e como funciona na agricultura
Biologicamente falando, a polinização é o processo de transferência de grãos de pólen das partes masculinas para as partes femininas das flores, possibilitando a reprodução das plantas.
Esse mecanismo pode ocorrer de forma abiótica (pelo vento ou água) ou biótica, quando animais – principalmente insetos – realizam a transferência do pólen enquanto se alimentam do néctar floral.
Na agricultura, a polinização desempenha papel central em culturas como:
- Frutas (maçã, melancia, morango, manga);
- Oleaginosas (girassol, canola);
- Hortaliças (abóbora, pepino, berinjela).
Em muitos desses cultivos, a produção depende diretamente da visita de polinizadores, principalmente abelhas.
A importância e os benefícios dos polinizadores para os cultivos
Os polinizadores são responsáveis por cerca de 75% das principais culturas alimentares do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Eles contribuem não apenas para o volume da produção, mas também para sua qualidade, uniformidade e valor de mercado.
Principais benefícios da polinização:
- Aumento da produtividade: plantas bem polinizadas produzem mais frutos e sementes.
- Melhor qualidade: frutas mais simétricas, saborosas e com melhor textura.
- Resiliência agrícola: sistemas com diversidade de polinizadores são mais estáveis diante de mudanças ambientais.
- Serviço ecossistêmico gratuito: o trabalho realizado por abelhas e outros insetos representa bilhões de dólares em economia para o setor agrícola mundial.
Abelhas e outros polinizadores: aliados invisíveis da produção
As abelhas são, de longe, os agentes mais eficientes do planeta. Isso se deve a características únicas, como:
- Corpos peludos, que retêm facilmente os grãos de pólen;
- Fidelidade floral, ou seja, tendem a visitar a mesma espécie de planta em um voo;
- Comportamento social, com colmeias bem organizadas e comunicação eficaz sobre fontes de alimento;
- Capacidade de voo preciso, cobrindo grandes áreas em busca de néctar e pólen.
Essas qualidades tornam as abelhas fundamentais para cultivos que exigem polinização cruzada, como maçã, café, melão, maracujá, amêndoas e diversas hortaliças.
Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as abelhas contribuem com a produtividade de pelo menos 60% das espécies cultivadas no Brasil.
Além disso, o Brasil conta com cerca de 350 espécies de abelhas nativas catalogadas, como as abelhas sem ferrão (Meliponíneos), essenciais para ecossistemas tropicais.
Essas espécies são manejadas por agricultores familiares e meliponicultores para serviços de polinização e produção de mel com alto valor agregado.
Outros importantes polinizadores são:
- Borboletas;
- Vespas;
- Besouros;
- Moscas;
- Morcegos e pássaros, em algumas regiões tropicais.
A diversidade garante que diferentes culturas, em diferentes estágios de florescimento e condições ambientais, recebam polinização adequada.
Desafios: perda de biodiversidade e riscos para a agricultura
A redução da biodiversidade, impulsionada por práticas agrícolas intensivas, desmatamento, uso excessivo de defensivos agrícolas e mudanças climáticas, representa uma ameaça direta à polinização e, consequentemente, à produção agrícola.
Principais fatores de risco:
- Uso excessivo de pesticidas: afeta diretamente a saúde e a navegação dos polinizadores.
- Perda de habitat natural: monoculturas e desmatamento eliminam áreas de alimentação e nidificação.
- Crise climática: altera o comportamento e o ciclo de vida de polinizadores, dessincronizando o florescimento das plantas.
- Espécies invasoras e doenças: colocam em risco colônias inteiras de abelhas.
O declínio desses agentes compromete a segurança alimentar global e aumenta os custos de produção, já que a polinização manual ou artificial é cara e muitas vezes ineficiente.
Estratégias de conservação para garantir a polinização
Proteger e restaurar os polinizadores exige ações coordenadas entre agricultores, pesquisadores, governos e a sociedade civil. Algumas das principais estratégias incluem:
1. Criação de corredores ecológicos
Corredores ecológicos são faixas de vegetação nativa que conectam fragmentos de mata, permitindo o deslocamento seguro de polinizadores e outros animais silvestres. Um desses exemplos está presente na região do Cerrado Mineiro, onde produtores de café certificados pela Rainforest Alliance mantêm faixas de vegetação entre as lavouras.
2. Implantação de cultivos diversificados
Sistemas agrícolas que integram diferentes espécies vegetais oferecem flores em diferentes épocas do ano, alimento contínuo para polinizadores e maior resiliência ecológica. No Sul da Bahia, por exemplo, os produtores agroecológicos adotam consórcios de banana, cacau e hortaliças, o que aumenta a diversidade floral e atrai diferentes tipos de abelhas e vespas polinizadoras.
3. Redução do uso de agrotóxicos
Priorizar o manejo integrado de pragas e o uso de produtos seletivos, aplicados fora do horário de visitação dos polinizadores. Em propriedades de melão no Rio Grande do Norte, empresas exportadoras adotaram o manejo integrado de pragas com monitoramento por armadilhas e controle biológico para reduzir o uso de inseticidas, reduzindo possíveis danos para abelhas polinizadoras na região.
4. Instalação de colmeias e caixas-isca
Prática comum com abelhas africanizadas e nativas, potencializando a polinização em cultivos dependentes. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), para o cultivo de maçã em Santa Catarina, é comum instalar de 5 a 8 colmeias por hectare durante o período de floração. Essa técnica aumenta a frutificação, melhora a simetria dos frutos e eleva os índices de exportação da safra.
5. Educação e capacitação rural
Conscientizar os produtores sobre o valor das abelhas para a lavoura é essencial para mudanças de manejo. É o caso da atuação dos agricultores familiares que produzem maracujá no Espírito Santo, que necessitam da abelha mamangava para a polinização. O cuidado e o manejo dessa espécie é essencial para garantir o desenvolvimento da fruta na região.
Biodiversidade como chave para o futuro agrícola
A conservação da biodiversidade é um investimento direto na resiliência e na sustentabilidade da agricultura. Sistemas agrícolas mais diversos – com maior variedade de cultivos, maior cobertura vegetal e práticas menos agressivas ao meio ambiente – favorecem a presença e o desempenho dos polinizadores.
Além disso, iniciativas de agricultura regenerativa e agroecologia valorizam o papel dos serviços ecossistêmicos como a polinização, trazendo também benefícios comerciais e de imagem para os produtores.
Proteger os polinizadores é proteger a produtividade, a segurança alimentar e o equilíbrio dos ecossistemas. Acesse o Broto e encontre serviços em polinização assistida que podem aumentar sua produtividade e proteger seus cultivos.