
A adoção de sistemas integrados de produção, especialmente a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), é a estratégia mais eficiente para promover a sustentabilidade da produção de grãos no Matopiba, região que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A conclusão vem de um estudo conduzido pela Embrapa Meio-Norte (PI), que avaliou o impacto de diferentes sistemas de manejo sobre o estoque de carbono e nitrogênio no solo, elementos essenciais para a fertilidade e sustentabilidade agrícola.
A pesquisa comparou cinco cenários de uso do solo: vegetação nativa do Cerrado, pastagem, ILP sob plantio direto, ILP com aração recente do solo e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Os melhores resultados foram observados nos sistemas de ILP e nas áreas de pastagem bem manejadas, que apresentaram os maiores estoques de carbono e nitrogênio em todas as profundidades avaliadas.
“Seja um pecuarista com pastagem bem conduzida ou um agricultor com sistema de lavoura e pecuária estruturado, ambos contribuem para estocar mais carbono no solo e aumentar sua fertilidade”, explica o pesquisador Edvaldo Sagrilo, da Embrapa.
Além de benefícios agronômicos, como maior retenção de água, nutrientes e atividade microbiana, os sistemas integrados também têm impacto ambiental. Estocar carbono no solo reduz as emissões de gases de efeito estufa e pode, no futuro, gerar créditos de carbono aos produtores rurais com a regulamentação desse mercado.
A pesquisa foi realizada em áreas com histórico de adoção prolongada desses sistemas no município de São Raimundo das Mangabeiras (MA). Foram avaliadas propriedades com até 16 anos de ILP, consorciando milho com braquiária e soja com milheto, além de pastagens com capim Urochloa brizantha, em comparação com áreas de Cerrado nativo.
O resultado surpreendeu: os estoques de carbono nas áreas de ILP com plantio direto aumentaram em 84%, com aração recente, 108%, e nas pastagens, 66%. Já as áreas com vegetação nativa e ILPF apresentaram os menores níveis, indicando menor acúmulo de matéria orgânica.
O agricultor Fernando Devicari, de Brejo (MA), é exemplo prático dos resultados. Após 15 anos com ILP e nove com ILPF, ele relata melhora significativa na qualidade do solo. “Dobrei a matéria orgânica nas áreas de ILP e hoje colho quase 8 sacas de soja a mais por hectare”, conta.
Para os pesquisadores da Embrapa, os sistemas integrados são a chave para aliar produtividade e preservação. E embora os dados sejam específicos do Matopiba, os conceitos podem ser replicados para outras regiões do Cerrado e do país.
“Estudos similares vêm mostrando que a adoção de sistemas integrados melhora os indicadores de sustentabilidade quando comparados aos modelos convencionais”, conclui Sagrilo.