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E30 e B15: novos mandatos de mistura de combustíveis impulsionam investimentos, empregos e produção agrícola

Demanda anual por etanol anidro e biodiesel deverá crescer 1,46 bilhão de litros e 670 milhões de litros, respectivamente

O volume de etanol hidratado comercializado pelas usinas de São Paulo cresceu 23,6%, enquanto o preço do etanol recuou 2,12%, fechando abril a R$ 2,7253 por litro
Foto: Engin Akyurt/Unsplash

No final de junho, em sua 2ª reunião extraordinária de 2025, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) — órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia (MME) — aprovou aquilo que já era esperado pelo mercado brasileiro de combustíveis: novos mandatos obrigatórios de mistura de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel

A medida eleva o teor de etanol anidro na gasolina dos atuais 27% para 30% (E30) e de biodiesel no diesel de 14% para 15% (B15), a partir de 1º de agosto deste ano. 

A decisão do CNPE está alinhada ao que determina a Lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro de 2024, que estabelece a base legal para os aumentos graduais nas misturas, visando à redução da dependência de combustíveis fósseis e à diminuição das emissões de gases de efeito estufa

Apesar de aparentemente pequenos, os incrementos devem trazer profundas implicações não só ao setor de combustíveis, mas também reflexos diretos ao campo, especialmente entre os produtores de cana-de-açúcar, milho e soja — principais matérias-primas da bioenergia nacional.

De acordo com a DATAGRO, a adoção do E30 pode levar a uma redução anual no consumo de até 1,36 bilhão de litros de gasolina A e a um incremento de 1,46 bilhão de litros na demanda por etanol anidro. “Com isso, o Brasil deixaria de ser um importador líquido de gasolina, podendo gerar um excedente exportável de até 700 milhões de litros por ano”, aponta a consultoria.

Paralelamente, a partir da implementação do B15, a DATAGRO reajustou sua projeção para a produção de biodiesel neste ano de 9,590 para 10,260 milhões de m³

“A elevação de 1 ponto percentual na mistura obrigatória representa um incremento estimado de 670 milhões de litros no consumo, sendo que aproximadamente 450 mil toneladas a mais de óleo de soja serão necessárias, considerando a atual proporção de utilização do insumo vegetal na composição do biocombustível”, aponta a consultoria.

Com isso, o consumo interno de óleo de soja deve aumentar de 6,505 para 6,990 milhões de toneladas, o que, segundo a consultoria, reduz o potencial de exportações do produto de 1,5 milhão para 1,2 milhão de toneladas.

Já o esmagamento de soja, principal atividade que gera o óleo e o farelo, teve sua previsão elevada de 57,5 para 58,5 milhões de toneladas em 2025. “Este incremento refletirá diretamente na produção de óleo, que deve passar de 11,6 para 11,7 milhões de toneladas, e também no volume de farelo disponível, elevando os estoques finais e pressionando os preços no mercado interno”, conclui.

Investimentos e geração de emprego 

Para além do mercado agrícola e de combustíveis, o governo federal estima que as novas políticas possam atrair R$ 10,14 bilhões em investimentos, sendo R$ 8,45 bilhões voltados à expansão da capacidade industrial e R$ 1,69 bilhão destinados à renovação de máquinas agrícolas

Além disso, a expectativa é a geração de 51,6 mil empregos diretos e indiretos e a redução anual de 3 milhões de toneladas de CO₂ equivalente.

Brasil na vanguarda da transição energética global 

Além de demandar 1,46 bilhão de litros de etanol anidro a mais por ano, a adoção do E30 ampliou a vantagem do Brasil na corrida para a transição energética global.

Um compilado da DATAGRO mostra como se encontra a mistura de etanol na gasolina em outros países do mundo, provando que o Brasil realmente se encontra na vanguarda desse movimento. Os que mais se aproximam do país são o Paraguai e a Índia, onde os mandatos atuais estabelecem misturas obrigatórias de 24% e 20%, respectivamente. Saiba a diferença entre etanol anidro e etanol hidratado

Na América do Norte, Estados Unidos e Canadá possuem mandatos federais de 10,5% e 5%, nesta ordem, com alguns de seus estados, porém, desenvolvendo mandatos e metas próprias, como no caso de Minnesota, nos EUA, que possui como meta uma mistura de 25% de etanol na gasolina. 

Na Europa, metade dos 28 países não possui um mandato de mistura em vigor, sendo o Reino Unido e a Suécia (com 10%) os mais bem posicionados. Na África, destaque para o Zimbábue, que possui um mandato de mistura de etanol na gasolina de 20%. 

No caso dos mandatos de mistura de biodiesel no diesel, o cenário global é mais precário. No entanto, o Brasil fica atrás da Indonésia (40%) e de Minnesota-EUA (20%).