Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto (SP), identificaram uma bactéria presente nos solos da Caatinga com potencial para inibir a germinação da buva (Conyza canadensis), uma das plantas daninhas mais resistentes aos herbicidas no Brasil. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de um bioherbicida inédito.
Foto: Fernando Adegas

Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto (SP), identificaram uma bactéria presente nos solos da Caatinga com potencial para inibir a germinação da buva (Conyza canadensis), uma das plantas daninhas mais resistentes aos herbicidas no Brasil. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de um bioherbicida inédito.

Presente em quase todo o país, os agricultores consideram a buva uma de suas principais inimigas. Isso porque a planta apresenta resistência a diferentes tipos de herbicidas, o que aumenta os custos de produção, compromete a produtividade e eleva o risco de impactos ambientais devido ao uso intenso de defensivos.

Impactos da buva na agricultura

A planta daninha afeta culturas como soja, milho, algodão, trigo, café e cana-de-açúcar, outras culturas perenes e pastagens e florestas.

O estudo teve início com a triagem de actinobactérias, um grupo de microrganismos conhecido pela capacidade de produzir compostos bioativos de interesse agrícola e farmacêutico. Os pesquisadores testaram vários isolados de diferentes biomas brasileiros, com objetivo de impedir a ploriferação das plantas daninhas.

Entre os microrganismos analisados está uma cepa isolada da Caatinga, identificada como Streptomyces sp. Caat 7-52.

Bactéria da Caatinga e potencial de uso

“A Caatinga pode ser vista como um laboratório natural. Os microrganismos que vivem nesse ambiente desenvolveram estratégias únicas de sobrevivência e, muitas vezes, produzem moléculas inéditas que podem ser aproveitadas para diferentes aplicações”, explicou o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Itamar Melo.

O estudo também focou na otimização do cultivo da bactéria para aumentar a produção e diversificar os compostos, com foco em aplicações comerciais. Segundo os pesquisadores, ao direcionar o metabolismo microbiano, é possível gerar variantes com diferentes níveis de atividade biológica, ampliando o uso do bioinsumo.

Além disso, testes com o caldo fermentado bruto da bactéria mostraram ação seletiva contra plantas daninhas dicotiledôneas, como buva, caruru e picão-preto, sem a necessidade de purificação química.

A pesquisa ainda está em fase inicial. As próximas etapas incluem testes em condições de campo, avaliação da eficácia em diferentes culturas agrícolas, estudos de ecotoxicologia e o desenvolvimento de formulações comerciais.

O objetivo final consiste em integrar a tecnologia aos programas de Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que reúnem práticas químicas, biológicas e culturais e garantem o controle sustentável das invasoras.