Risco fitossanitário

Campo Grande (MS) aprova proibição da murta de cheiro para conter avanço do greening nos cítricos

Projeto ainda precisa de sanção da prefeita e prevê multa para quem cultivar a planta, que abriga inseto transmissor da doença

murta de cheiro
Foto: Divulgação/Semadesc

Na última sexta-feira (27), a Câmara Municipal de Campo Grande (MS) aprovou um projeto de lei que proíbe a produção, comercialização e transporte da planta Murraya paniculata, conhecida como murta de cheiro ou “dama da noite”. A planta é considerada a principal hospedeira do psilídeo-da-laranja, inseto transmissor do greening, a mais devastadora doença da citricultura.

A proposta é de autoria do vereador Veterinário Francisco e ainda precisa ser sancionada pela prefeita Adriane Lopes para entrar em vigor. O texto também prevê a aplicação de multa de R$ 1 mil, atualizada pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), a quem for flagrado cultivando, transportando ou vendendo mudas da planta. Em caso de reincidência, a penalidade será dobrada.

Além da proibição, o projeto obriga a prefeitura a criar um plano de erradicação progressiva da murta, começando por áreas públicas como calçadas, canteiros centrais, praças e parques, e avançando depois para propriedades privadas.

Segundo estimativas da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Campo Grande é hoje a capital brasileira com maior concentração da espécie, elevando o risco de disseminação do greening.

Para o secretário estadual da Semadesc, Jaime Verruck, a aprovação do projeto representa um passo importante no controle sanitário da citricultura regional. A medida já vigora em municípios como Três Lagoas e Dois Irmãos do Buriti, e outras cidades sul-mato-grossenses também discutem legislações semelhantes.

A coordenadora de citricultura da Semadesc, Karla Nadai, explica que a murta, embora ornamental, abriga o psilídeo e representa ameaça constante: “Mesmo distante dos laranjais, o risco é iminente. O inseto pode voar até cinco quilômetros, e, com ajuda do vento, pode percorrer até 20 km”, alertou.

A ameaça não é pequena: o greening já comprometeu mais de 50% dos pomares de São Paulo, maior produtor nacional, e destruiu lavouras nos Estados Unidos. Diante desse cenário, Mato Grosso do Sul, que já soma 20 mil hectares de pomares cítricos e projeta chegar a 30 mil até o fim do ano, adota medidas pioneiras. Além da erradicação da murta, o Estado também exige a destruição de plantas cítricas infectadas.

A murta, de origem mediterrânea, era amplamente usada na arborização urbana por suas flores perfumadas e folhagem ornamental. No entanto, o risco fitossanitário se sobrepôs à estética. Agora, a eliminação da espécie se mostra uma condição essencial para consolidar o estado como polo competitivo e livre do greening.