
Uma pesquisa da Embrapa Instrumentação, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desenvolveu sachês biodegradáveis de amido capazes de substituir polímeros usados em fertilizantes agrícolas. Os recipientes armazenam nutrientes em pó e se degradam no solo, liberando os insumos de forma mais sustentável.
O químico João Otávio Donizette Malafatti explica que há nutrientes essenciais e insubstituíveis para as plantas, como o trio nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), geralmente aplicado no solo na forma de um composto altamente solúvel, o sal cloreto de potássio.
De acordo com Malafatti, o agricultor costuma aplicar no campo uma quantidade elevada para garantir a absorção. No entanto, a planta não consegue absorver de imediato todo esse fertilizante. Esse excesso representa perda econômica e pode contaminar o ambiente ao redor.
Os sachês foram desenvolvidos para controlar a liberação dos nutrientes e permitir que as plantas sejam alimentadas de forma gradual. Para isso, diferentes modelos foram formulados de acordo com o tipo de nutriente a ser incorporado.
O pesquisador afirma que ainda há obstáculos a superar no uso de polímeros biodegradáveis e matrizes de amido, já que materiais derivados do petróleo continuam oferecendo melhor resistência mecânica e maior estabilidade ao longo do tempo. A pesquisa busca criar formulações que aprimorem essas propriedades.
No estudo, a equipe testou diversas concentrações de zeólita e identificou um limite máximo de 3 por cento em relação ao amido, nível que proporcionou ganho significativo de resistência mecânica. Acima desse percentual, as partículas tendem a se aglomerar, tornando o filme mais frágil. A zeólita, além de liberar nutrientes, também pode reter água em períodos de seca.
Custos, materiais e potencial de mercado
No campo dos custos e da customização, os esforços atuais se concentram em tornar processos e materiais mais acessíveis para sistemas de liberação prolongada de fertilizantes.
A pesquisadora da Embrapa Instrumentação Elaine Cristina Paris explica que o amido é uma matéria-prima promissora, embora a adição de componentes extras possa impactar o custo final do material. Ela destaca que, no trabalho realizado, foi utilizado amido comercial e que, para a fertilização do solo, não é necessário um amido de alta pureza como o empregado na indústria alimentícia.
O objetivo é reduzir ao máximo o custo para facilitar a incorporação pela agroindústria. Dessa forma, os sachês têm maior potencial de inserção no mercado e contribuem para o avanço de tecnologias na agricultura.
Outra vantagem, segundo Malafatti, é que o fertilizante incluído no interior dos sachês não interfere no processamento, na formulação ou no formato do produto. Ele ressalta que qualquer fertilizante granulado ou particulado pode ser inserido no sachê, o que representa outro ponto positivo para a adoção pela indústria. Além disso, observa que o uso dos sachês evita a manipulação direta dos fertilizantes em partículas pelos trabalhadores do campo.