Cacauicultura

PolinizaCacau revela papel dos maruins na produtividade do cacau em Tomé-Açu

Iniciativa da Embrapa mostra que insetos minúsculos, antes combatidos pelos agricultores, são essenciais para a polinização do cacaueiro

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Fonte: Embrapa
Fonte: Embrapa

Agricultores familiares de Tomé-Açu (PA) participaram, nos dias 8 e 9 de setembro, de um curso técnico promovido pela Embrapa, com apoio do CNPq, MCTI e Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (Abelha), dentro do projeto PolinizaCacau.

O objetivo: apresentar os primeiros resultados da pesquisa que estuda os insetos polinizadores do cacaueiro na Amazônia.

Pequenos, mas fundamentais: maruins são os principais polinizadores do cacaueiro

De acordo com a pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, os principais polinizadores do cacaueiro são insetos minúsculos, com destaque para os maruins (família Ceratopogonidae).

Apesar de frequentemente combatidos nas lavouras por causarem incômodo aos humanos, os maruins são essenciais para a formação dos frutos do cacau, especialmente por sua capacidade de acessar a flor pequena e complexa do cacaueiro — o que insetos maiores, como abelhas, não conseguem.

“O maruim incomoda e a gente acaba combatendo, acha ruim. E saber que ele tem uma importância primordial na polinização e no aumento da produtividade foi surpreendente”, relata o agricultor Ernesto Suzuki.

Projeto PolinizaCacau avalia diferentes sistemas de cultivo no Pará e Amazonas

O PolinizaCacau analisa há dois anos a presença de polinizadores em diferentes sistemas de cultivo — desde monoculturas a pleno sol até Sistemas Agroflorestais (SAFs) biodiversos, em municípios do Pará e do Amazonas.

“As áreas com maior diversidade de plantas, como os SAFs com consórcios de açaí e cacau, apresentaram maior variedade de insetos visitantes florais”, explica Maués.

As análises demonstram que os sistemas mais simples (como monoculturas) têm menor diversidade de polinizadores, o que impacta diretamente a produção de frutos.

Já os SAFs, por estimularem a biodiversidade, favorecem os polinizadores e, por consequência, a produtividade do cacau.

Déficit de polinização limita produtividade e pode ser corrigido com técnica manual

Apesar da presença de polinizadores, o cacau sofre com déficit de polinização, segundo os pesquisadores da Embrapa.

A alternativa, apresentada no curso, é a polinização cruzada manual — técnica que pode multiplicar por até seis vezes a quantidade de frutos produzidos, se comparada à polinização natural.

“É um trabalho que exige paciência e técnica, mas que pode trazer resultados incríveis para os pequenos produtores”, diz o agricultor Nildson Monteiro da Silva.

Educação, ciência e agricultura familiar unidas pela valorização da biodiversidade

O curso realizado em Tomé-Açu reuniu 30 agricultores familiares parceiros do projeto, que puderam aprender na prática sobre:

  • Biologia floral do cacaueiro
  • Identificação dos polinizadores naturais
  • Boas práticas para conservar a biodiversidade
  • Técnicas de polinização cruzada manual
  • Vantagens dos Sistemas Agroflorestais

Para o secretário municipal de Agricultura, Alírio Tavares, o projeto fortalece a economia local e coloca Tomé-Açu como um pólo estratégico na cadeia do cacau na Amazônia.

Estima-se que o município produza cerca de 3 mil toneladas de cacau/ano, em aproximadamente 100 hectares cultivados