Foto: Wenderson Araújo/Trilux
Foto: Wenderson Araújo/Trilux

O agronegócio brasileiro passa por uma revolução acelerada, com a tecnologia e a sustentabilidade como os novos pilares do setor. Para o pequeno e médio produtor rural, entender as profissões em alta no meio rural é uma necessidade estratégica para garantir a eficiência e a sucessão familiar do negócio. 

O mercado exige profissionais que combinem a experiência de campo com gestão, análise de dados e tecnologia. Este artigo detalha as carreiras que moldam o futuro do agro e as oportunidades relevantes para quem busca modernizar sua produção.

Tendências do mercado de trabalho no agro

A transformação do agronegócio é profunda, exigindo um novo tipo de profissional para atender às demandas do século XXI. As principais tendências que guiam o mercado de trabalho rural apontam para uma parceria entre o campo e a tecnologia.

1. Ascensão da agricultura digital

A agricultura digital é a maior força transformadora. O uso de drones, sensores, Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial (IA) permite que o produtor tome decisões baseadas em dados precisos, maximizando a produtividade e reduzindo os custos. Para o pequeno e médio produtor, isso se traduz em um manejo mais eficiente e econômico de insumos caros, como fertilizantes e defensivos.

O Big Data Agro (dados de máquinas e sensores) exige profissionais de tecnologia e análise. Eles são essenciais para transformar números complexos em decisões práticas no campo (como o ponto exato de irrigação ou o tempo certo da colheita).

2. Sustentabilidade como mandato global

A pressão por práticas agrícolas sustentáveis é uma exigência de mercado. Consumidores e mercados internacionais exigem rastreabilidade, redução de emissões de carbono e uso racional de recursos hídricos. Isso gera uma demanda por profissionais capazes de integrar a produção com a conservação ambiental.

Engenheiros agrônomos, zootecnistas e técnicos que dominam práticas de manejo integrado de pragas (MIP) e recuperação de solo e que conhecem as certificações de ASG (Ambiental, Social e Governança) estão se tornando protagonistas. A sustentabilidade se tornou um ativo econômico, e quem a domina agrega valor real à propriedade.

3. Importância da gestão e do crédito

O agronegócio se consolidou como um setor de negócios sofisticado. Pequenas e médias propriedades, muitas vezes geridas com base na tradição, precisam de gestão profissionalizada. O domínio da gestão financeira, do crédito rural e das estratégias de comercialização (como o Barter) é necessário para a saúde do negócio.

Essa tendência valoriza carreiras que atuam na interface entre o campo e o mercado, ajudando o produtor a se capitalizar e a prevenir riscos. O conhecimento sobre linhas de financiamento, proteção de preços e conformidade fiscal são habilidades de alto valor.

Principais carreiras valorizadas no agronegócio

As profissões em alta no agronegócio se dividem em dois grupos: as técnicas/operacionais, essenciais para a execução no campo; e as estratégicas/gerenciais, vitais para a tomada de decisão e a gestão do negócio.

Carreiras técnicas e de tecnologia

Estas são as profissões que colocam a tecnologia para trabalhar em prol do aumento da produtividade do produtor rural:

1. Técnico em agricultura digital e piloto de drones

Esta é uma das carreiras mais acessíveis e promissoras para quem já está no campo. O técnico em agricultura digital é o profissional que implementa e opera as ferramentas tecnológicas. Isso inclui:

  • Operar drones para mapeamento, contagem de falhas, identificação de pragas ou pulverização localizada (agricultura de precisão).
  • Configurar e monitorar sensores de solo e clima.
  • Utilizar sistemas e aplicativos de gestão de fazenda (como ERPs agrícolas).

Para o pequeno e médio produtor, contratar um serviço ou ter um membro da família capacitado como piloto de drones é um investimento com retorno rápido, pois otimiza o uso de insumos e garante maior precisão no manejo.

2. Cientista de dados agrícolas

O volume de dados gerados em uma propriedade moderna (dados de colheitadeiras, análises de solo, dados climáticos etc.) é imenso. O cientista de dados agrícolas é o especialista em traduzir essa massa de informação em direcionamentos práticos.

  • O que faz: cria modelos preditivos de safra, identifica padrões de produtividade e ajuda a ajustar o manejo para o próximo ciclo.
  • Relevância para o produtor: fornece a base para o gerenciamento de riscos e o planejamento de longo prazo, permitindo que o produtor tome decisões antecipadas e mais assertivas.

3. Engenheiro agrônomo com foco em sustentabilidade

O agrônomo continua sendo uma figura central, mas o seu perfil evoluiu. As empresas e cooperativas buscam o profissional que alia o conhecimento técnico profundo com a capacidade de implementar a sustentabilidade econômica e ambiental.

  • O que faz: desenvolve e implementa planos de manejo conservacionista e sistemas de irrigação eficientes, bem como orienta sobre o uso de biopesticidas e bioinsumos.
  • Relevância para o produtor: ajuda a adequar a propriedade às exigências de mercado (como selos de carbono ou certificações) e a garantir a longevidade e a saúde do solo.

Carreiras estratégicas e gerenciais

Essas posições são focadas na gestão do negócio e na relação com o mercado, necessárias para a saúde financeira e o crescimento da propriedade:

4. Gerente de crédito e barter (troca)

O financiamento é vital para o agronegócio. O profissional especializado em crédito e barter é o elo entre o produtor e o mercado financeiro.

  • O que faz: analisa o perfil de crédito da propriedade, negocia com bancos e tradings e estrutura operações de Barter (troca de commodities por insumos, como soja por fertilizante).
  • Relevância para o produtor: garante que a propriedade tenha acesso a capital e insumos nas melhores condições financeiras, otimizando o fluxo de caixa e reduzindo a exposição a juros altos.

5. Representante técnico de vendas (RTV)

O RTV é a ponte entre as empresas de insumos (sementes, defensivos, máquinas) e o produtor. É uma carreira que exige conhecimento técnico e forte habilidade de comunicação e relacionamento.

  • O que faz: oferece consultoria técnica sobre o uso correto de produtos, realiza demonstrações no campo e negocia a venda.
  • Relevância para o produtor: um bom RTV não é apenas um vendedor, mas um consultor de confiança que ajuda o produtor a escolher a melhor tecnologia para sua realidade, otimizando o investimento em insumos.

6. Médico veterinário com especialização em gestão animal

Na pecuária, o veterinário que apenas cuida da saúde animal não é mais suficiente. O mercado busca o profissional que também tenha visão de gestão, zootecnia e nutrição.

  • O que faz: gerencia grandes rebanhos, focando na sanidade, bem-estar, genética e, principalmente, na eficiência produtiva e rentabilidade da carne ou do leite.
  • Relevância para o produtor: aumenta o índice de natalidade, reduz a mortalidade e o tempo de abate, transformando o rebanho em um negócio mais lucrativo e sustentável.

Perfil do profissional do futuro no agro

Independentemente da função, o agronegócio do futuro valorizará profissionais com um conjunto de habilidades que vão além da formação técnica tradicional. O foco está no profissional híbrido, que combina o conhecimento do campo com a mentalidade de negócios e tecnologia.

Habilidades técnicas essenciais

  1. Domínio de tecnologia e dados: conhecimento em sistemas de gestão (ERP) e  de geoprocessamento, além de familiaridade com a interpretação de grandes volumes de dados (planilhas avançadas e painéis de controle).
  2. Conhecimento em finanças e compliance: capacidade de fazer análise de custos, orçamento, gestão de riscos e entender a legislação fiscal e as regras de crédito rural.
  3. Sustentabilidade e certificações: conhecimento em protocolos ambientais, técnicas de baixo carbono e exigências de rastreabilidade do mercado.

Habilidades comportamentais mais demandadas

  1. Comunicação e relacionamento: a capacidade de explicar o valor de uma nova tecnologia para um produtor ou de negociar com tradings e bancos é fundamental. O RTV e o gerente de crédito são exemplos claros disso.
  2. Visão de gestão e liderança: habilidade de liderar equipes no campo, delegar tarefas e gerenciar o tempo e os recursos com eficiência.
  3. Adaptabilidade e aprendizado contínuo: o agro muda rapidamente. O profissional precisa estar disposto a aprender sobre novas sementes, máquinas, tecnologias e regulamentações constantemente.

Para o pequeno e médio produtor, é essencial que os membros da família ou colaboradores-chave desenvolvam esse perfil. A digitalização e a gestão são a chave para a sucessão familiar e a continuidade do negócio com sucesso.

Oportunidades de especialização para o produtor

Existem diversas formas de o produtor ou seus filhos se especializarem nas carreiras mais quentes do agro.

1. Cursos técnicos e tecnólogos

Programas de formação rápida e focada em áreas específicas têm alta demanda.

  • Técnico em agronegócio: focado em gestão e comercialização, ajuda a entender o mercado e a minimizar riscos.
  • Tecnólogo em agricultura de precisão: ensinam a operar e manter equipamentos tecnológicos, como drones e sensores.

2. Cursos de curta duração e certificações

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e outras instituições oferecem cursos modulares e rápidos focados em gestão financeira rural, crédito rural ou conformidade ambiental. As certificações em operação de drones agrícolas ou análise de dados com planilhas são um diferencial imediato e prático. Vale dar uma olhada também no Broto Cursos, que oferece capacitações desenvolvidas em parceria com a Unesp e outras entidades.

3. Parcerias com agtechs 

Muitas agtechs (startups de agronegócio) oferecem consultoria e treinamento como parte do serviço de venda de seus sistemas e equipamentos. Ao adotar uma nova tecnologia (como um sistema de gestão), o produtor recebe o treinamento necessário para dominar a ferramenta de forma prática.

4. Consultoria especializada e associações

Buscar consultores para a propriedade pode ser uma forma de “importar” o conhecimento e aplicá-lo de forma imediata. Além disso, participar de cooperativas e associações permite ao produtor compartilhar custos de tecnologia e treinamento, aumentando o seu poder de mercado e acesso a informações valiosas.O futuro do agronegócio é promissor e exige um novo olhar. Investir em conhecimento é a forma mais poderosa de aumentar a eficiência e garantir que a sua produção continue competitiva, sustentável e, acima de tudo, lucrativa.