A reportagem do Broto conversou, com exclusividade, com Paulo Hora, superintendente executivo de resseguro, negócios e soluções rurais da Brasilseg, uma empresa BB Seguros, sobre os desafios e oportunidades do seguro rural no Brasil.
Na entrevista abaixo, Hora discorre sobre os pilares do seguro rural no país — em particular a subvenção ao prêmio —; aborda as modalidades existentes, com destaque para as coberturas de clima e renda, bem como novidades como produtos paramétricos; e assinala como tecnologias digitais estão transformando para melhor a gestão de riscos no campo. Confira:
Broto: O seguro rural, ancorado na subvenção, é peça-chave da política agrícola. Como você observa a evolução do segmento nos últimos anos?
Hora: A modalidade de seguro rural, em especial os ramos de seguro que protegem a produção, como o seguro agrícola, pecuário, florestal e aquícola, normalmente estão inseridos em algum Programa de Política Agrícola nos países.
No Brasil, o programa público-privado que gere esses ramos é o Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural (PSR), tendo, dentre outros fatores de sucesso, a subvenção ao prêmio como principal alavanca para fomento à contratação do mitigador pelos produtores rurais.
O recurso orçamentário federal destinado a esse subsídio vem girando em torno de R$ 1 bilhão desde 2020, com riscos constantes de contingenciamentos e cortes desses recursos, e ainda uma dificuldade grande em se ampliar aportes para o programa, priorizando essa política, dentre outras, na discussão orçamentária para o setor, dado que a necessidade do mercado para que a subvenção ao prêmio atenda todos os produtores que buscam seguro é bem maior que o atualmente ofertado.
Broto: Como funciona o seguro de clima para as lavouras?
Hora: Existem basicamente 4 modelos de cobertura de seguro agrícola para perdas decorrentes de eventos climáticos:
i. O seguro de custeio que tem na composição do seu limite máximo garantido o valor do custo de produção do agricultor e tem sua indenização garantida em percentual desse valor conforme percentual da perda de produção a partir da produtividade garantida na apólice de seguro. Essa produtividade garantida é uma fração da produtividade esperada do produtor, e normalmente varia entre 65% e 80% dessa produção, que é denominado nível de cobertura da produtividade. Cada nível escolhido possui sua taxa correspondente, e perdas abaixo desse “gatilho” geram indenizações.
ii. O seguro no modelo de produtividade tem o mesmo objetivo do seguro de custeio, ou seja, indenizar perdas de produtividade fruto de eventos climáticos. Porém, normalmente indeniza o custo de produção mais uma margem, dado que a composição do limite máximo garantido é a quantidade de sacas seguradas vezes um preço de comercialização da saca por hectare. Esse preço é fixado na contratação e será o mesmo a ser utilizado na indenização. Quando o número de sacas colhidas ficar abaixo das sacas garantidas no contrato de seguro (nível de cobertura), será indenizado a diferença de sacas vezes o mesmo preço da contratação por hectare.
iii. Há também, em alguns países, em especial nos Estados Unidos, um produto de receita. Que além da cobertura de produtividade, inclui como componente da cobertura a variação do preço da commodity.
iv. Por fim, há a possibilidade de ofertar seguros paramétricos como cobertura frente a eventos climáticos definidos no contrato de seguro. Esse seguro paramétrico será sempre baseado em um índice que, quando tiver seu gatilho de cobertura atingido, irá gerar uma indenização. Os índices podem ser diversos, tais quais milímetros de chuva em determinado período, temperatura mínima ou máxima, ventos, combinação de índices, entre outros. Essa cobertura, para ser acionada e a indenização executada, não precisa de avaliação de perdas in loco, uma vez que não é verificado se de fato a perda ocorreu, e sim se o parâmetro determinado na cobertura foi atingido, o que é feito de forma remota.
Broto: Pode citar também exemplos de seguro de renda? Existem exemplos ligados a cooperativas?
Hora: Conforme comentado nos diversos modelos de seguro na pergunta anterior, o seguro de renda está incorporado tanto no seguro de produtividade (que define um preço de comercialização da saca, dando cobertura, de forma geral, a uma margem acima do custo de produção) quanto no seguro de receita, no qual esse preço, caso tenha variação, também pode gerar indenização. Esse último normalmente indexado a um referenciado em preço futuro em bolsa.
Broto: Mesmo com avanços, a área agrícola segurada no país é baixa. Como expandir este mercado, contemplando os interesses legítimos de todos os agentes [produtor, seguradora e resseguradoras]?
Hora: Apesar dos avanços recentes, a área agrícola segurada no Brasil ainda é modesta diante do potencial do setor. Para ampliar esse mercado de forma estruturada e equilibrada entre produtores, seguradoras e resseguradoras, é necessário atuar em quatro frentes principais.
A primeira envolve o fortalecimento da demanda por meio de subsídios públicos bem direcionados. O papel da administração pública — em nível federal, estadual e, eventualmente, municipal — é central, especialmente quando há recursos consistentes que viabilizam a contratação do seguro com menor custo ao produtor. A distribuição estratégica desses subsídios, considerando diferentes culturas, regiões e perfis de risco, é essencial para garantir capilaridade e inclusão.
Na vertente da oferta, a combinação entre resseguro privado e fundos de estabilização é fundamental. Esses fundos exercem papel complementar ao absorver perdas severas, mais raras, mas de grande impacto — como os chamados eventos de cauda. Eles também ajudam a viabilizar produtos com menor atratividade comercial, mas alta relevância para determinados públicos ou regiões, criando um ambiente mais previsível e atrativo para as seguradoras.
O terceiro ponto é a necessidade de estruturas técnicas permanentes nos órgãos responsáveis pela gestão dos programas. Unidades especializadas em análise de risco, modelagem atuarial e uso de dados são indispensáveis para dar robustez ao sistema e garantir maior eficácia na implementação das políticas públicas.
Por fim, a padronização de procedimentos e a formação contínua de profissionais — especialmente peritos e técnicos envolvidos na regulação de sinistros — são pilares para garantir transparência, agilidade nas indenizações e confiança de todos os envolvidos. Isso inclui também uma fiscalização eficiente, capaz de assegurar a integridade do sistema como um todo.
Broto: O ministro Carlos Fávaro [Agricultura] registra em várias ocasiões a busca por um modelo de cobertura paramétrica como um formato que possa encaixar bem no agro brasileiro. Pode nos explicar como esta modalidade funciona e o que ela difere da atual?
Hora: Seguro paramétrico será sempre baseado em um índice que, quando tiver seu gatilho de cobertura atingido, irá gerar uma indenização. Os índices podem ser diversos, tais quais milímetros de chuva em determinado período, temperatura mínima ou máxima, ventos, combinação de índices, entre outros. Essa cobertura, para ser acionada e a indenização executada, não precisa de avaliação de perdas in loco, uma vez que não é verificado se de fato a perda ocorreu, e sim se o parâmetro determinado na cobertura foi atingido, o que é feito de forma remota.
Ele tem sua função para determinadas situações, porém, para que se estabeleça como uma opção adicional em uma escala maior, alguns fatores ainda precisam evoluir no Brasil, em especial banco de dados oficial com a granularidade e segurança para ser fonte confiável dos modelos. Não vemos como um substituto ao modelo tradicional no Brasil, e sim como mais uma opção de produto a ser desenvolvido e evoluído, com bom potencial para alguns públicos.
Broto: As ferramentas digitais contribuem para identificar de maneira mais refinada o perfil do produtor e da propriedade, e assim podem endereçar o desenho de apólices customizadas, com efeitos positivos em baratear o valor do prêmio?
Hora: Sem dúvida! Entendo que esse será o grande fator de sucesso para melhores precificações e coberturas de seguro em um futuro próximo. Porém, ainda há um bom caminho a ser percorrido para que as informações, com a granularidade e confiabilidade necessárias, estejam disponíveis com um olhar mais continental. Quanto mais se trabalhar formação de banco de dados, em especial dos ambientes solo, planta e atmosfera, calibrados com os níveis de manejo de cada talhão agrícola e conectividade, mais haverá possibilidade de quantificar e qualificar o risco, aspecto imprescindível para a customização de apólices de seguro a um nível mais individual. Para isso, as ferramentas digitais são um caminho sem volta, bem como a ciência de dados e modelagem.
Diante dos avanços tecnológicos, das novas modalidades de cobertura e da crescente importância da gestão de riscos no campo, o seguro rural se consolida como uma ferramenta indispensável para a sustentabilidade e a competitividade do agronegócio brasileiro.
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