
Caso, de fato, entre em vigor a partir de primeiro de agosto, o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as exportações brasileiras vai atingir em cheio o agronegócio brasileiro, em particular as cadeias produtivas da carne bovina, café, produtos florestais e de suco de laranja. Contudo, como o agro é cada vez mais integrado, os efeitos podem se espalhar para outros segmentos, como, por exemplo, os grãos, utilizados na alimentação animal.
Nesta espiral, os impactos diretos serão sentidos, primeiramente pelo elo das agroindústrias exportadoras, mas com reflexos que, certamente, mais cedo ou mais tarde também chegarão aos produtores rurais. Soma-se a este quadro de incertezas, a conjuntura de pré-safra verão 2025/26, que naturalmente já exige planejamento do agricultor quanto aos custos relacionados à aquisição de insumos, mão de obra, maquinário, serviços de manejo para a lavoura e também de receita vinculados a estratégias de venda, comercialização e fechamento de contratos.
Neste contexto, especialistas consultados pela reportagem do Broto salientam que uma gestão financeira eficiente se faz essencial para mitigar riscos e garantir a sustentabilidade da atividade agropecuária.
“Ainda é comum encontrar fazendas operando sem um planejamento financeiro estratégico estruturado. Em muitas delas, especialmente nas de perfil familiar, os controles ainda são informais, e decisões são tomadas mais com base na experiência do que em dados. Isso dificulta o acesso a crédito, compromete a previsibilidade do caixa e limita a capacidade de investir com segurança”, alerta o vice-presidente da unidade de negócios especializada em Agronegócio da consultoria Falconi, Andre Paranhos.
Segundo o executivo, para mudar este comportamento, o produtor precisa de cautela e gestão no agro. “É justamente a gestão financeira que apoia o agricultor a enfrentar os desafios internos. Quando bem endereçada, essa gestão pode fazer toda a diferença”, afirma.
Para o advogado tributarista e especialista em agronegócio, Eduardo Berbigier, membro dos Comitês Jurídico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e presidente da Berbigier Sociedade de Advogados, boa parte dos erros do produtor rural na gestão vem da falta de informação.
“Sem uma análise adequada, o agricultor pode assumir compromissos que não cabem no seu fluxo de caixa, comprometendo toda a operação”, observa, acrescentando que o agro já é um mercado marcado pela volatilidade, que aumenta em momentos de incerteza. “Então, a recomendação inicial de gestão financeira para o produtor é evitar decisões precipitadas baseadas no medo, pois essas tendem a causar prejuízos”, diz.
Paranhos orienta ainda para a necessidade de avaliações periódicas de fluxo de caixa, margens de lucratividade e estrutura de custos. Além disso, segundo o executivo, também é recomendável integrar a gestão financeira à estratégia do negócio, buscando compreender onde estão as oportunidades reais de investimento e quais riscos precisam ser mitigados.
Fabiano Jantalia, sócio-fundador do Jantalia Advogados e especialista em direito econômico, chama a atenção ainda para uma particularidade da agenda do agro, sobretudo no elo primário da produção dentro das fazendas.
“O ponto de partida para qualquer administração de empresa rural familiar é a total segregação entre o caixa da empresa e o da família. Não se pode jamais misturar essas duas coisas”, afirma. Por fim, Jantalia salienta que, sempre que possível, deve-se criar uma estrutura de governança profissional, contratando executivos ou, no mínimo, consultores independentes, para apoiar a empresa na tomada de decisão de gestão e planejamento.