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Experiência no campo: turismo rural ganha cada vez mais espaço no Brasil e vira alternativa de renda para produtores

Com o suporte de capacitação técnica, milhares de agricultores se preparam para abrir as porteiras e transformar suas propriedades em polos turísticos

turismo rural
Foto: Divulgação/MAPA

Em meio às transformações no campo e à necessidade crescente de diversificação da renda, o turismo rural tem se consolidado como uma alternativa estratégica e sustentável para pequenos e médios produtores brasileiros. Mais do que uma simples atividade turística, o setor vem se tornando um vetor de desenvolvimento regional, ao promover experiências autênticas, gerar emprego e valorizar o modo de vida rural.

Conhecido também como agroturismo, o turismo rural oferece aos visitantes vivências que vão além do lazer. Trata-se de uma imersão no cotidiano da roça – da lida no campo às tradições culturais, passando pela gastronomia típica, paisagens naturais e hospitalidade das famílias agricultoras.

Ao abrirem suas porteiras, os produtores transformam suas propriedades em destinos turísticos, criando um elo entre campo e cidade, que fortalece a economia local e promove o reconhecimento da agricultura familiar como um pilar cultural e social do Brasil.

De acordo com dados da Organização Mundial do Turismo, esse segmento tem apresentado um crescimento global de cerca de 6% ao ano – superior à média do setor turístico como um todo. Estima-se que ao menos 3% dos turistas no mundo priorizam destinos rurais, buscando cada vez mais ser protagonistas de experiências genuínas, e não meros espectadores.

Na visão do Instituto Brasil Rural, o turismo rural é aquele “com cheiro de terra”, baseado nos recursos culturais e ambientais do território. Roda de viola, festas tradicionais, trilhas ecológicas, cavalgadas e hospedagens em ambiente familiar fazem parte desse universo. “Os princípios que norteiam o setor são claros: valorização territorial, preservação das raízes, autenticidade das experiências, sustentabilidade e envolvimento da comunidade local”, aponta o instituto.

Origem e expansão 

Embora as raízes do turismo rural no mundo remontem ao começo do século passado – inicialmente na Europa –, no Brasil, esse movimento começou de forma amadora por volta de 1950.

Um marco importante ocorreu no município de Lages (SC), onde surgiram os primeiros empreendimentos turísticos do gênero. Tanto é que a cidade recebeu o título de “Capital Nacional do Turismo Rural” e foi o berço da Associação Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR), hoje integrante do Conselho Nacional de Turismo.

A expansão foi rápida. Nos anos 1980, a região de Mococa (SP) organizou a primeira rota rural nacional, reunindo propriedades com cavalgadas, hospedagem e gastronomia típica. A década de 1990 consolidou o segmento em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outros estados, fazendo com que o turismo rural se disseminasse por todo o país no início do século XXI.

Hoje, o Brasil conta com mais de 10 mil empreendimentos voltados ao turismo rural, espalhados por pelo menos 16 estados brasileiros.

Segundo o Instituto Brasil Rural, o turismo rural brasileiro vem ampliando as fronteiras turísticas do país, ao conectar-se com outros segmentos já consolidados e criar novas rotas e atrativos. No entanto, para garantir crescimento estruturado, são necessárias políticas públicas eficazes de fomento, promoção e comercialização dos produtos turísticos rurais.

Cursos e seminários de capacitação 

Com esse objetivo em mente, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade vinculada à Confederação Nacional da Agricultura (CNA), já promoveu, em todo o país, mais de 80 cursos e seminários, tanto online quanto presenciais, para capacitar profissionais para atuar na área.

O turismo rural é uma estratégia de diversificação de renda no meio rural, com potencial para agregar valor à propriedade, ampliar a permanência das famílias no campo e estimular o empreendedorismo”, comenta a diretora de Educação Profissional do Senar, Fabíola Bomtempo, em entrevista exclusiva ao Broto.

Segundo Fabíola, as capacitações oferecidas pelo Senar dão o suporte necessário para que os produtores rurais desenvolvam essa atividade, criando experiências que unam produção agropecuária, cultura e hospitalidade.

O turismo rural se fortalece ao se integrar com outras atividades do agronegócio, gerando valor agregado, experiência ao visitante, criando novas oportunidades de mercado e incrementando a renda do produtor”, completa a diretora.

Perfil dos participantes

Dados acessados pelo Broto mostram que a maior parte do público que realizou os cursos e seminários de turismo rural do Senar são mulheres – porcentagem que varia entre 51% e 60% dependendo do curso. Quanto à faixa etária, pessoas entre 25 e 45 anos são a grande maioria.

Em relação ao perfil dos participantes, destacam-se:

  • Filhos(as) de produtores rurais são os mais frequentes;
  • Seguidos por interessados no setor rural;
  • Produtores que moram no campo;
  • Produtores rurais urbanos;
  • E estudantes de áreas relacionadas ao meio rural.

A maior parte das pessoas que participam das capacitações são do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, dependendo do curso/seminário. Em seguida, também aparecem bastante pessoas da Bahia, do Paraná, do Mato Grosso e do Rio de Janeiro.