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Abate de bovinos e produção de carne no Brasil deve cair em 2026

Projeção é da Consultoria DATAGRO e foi apresentada na 5ª edição do Fórum Pecuária Brasil; confira os principais destaques do evento

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Dois bifes de carne bovina representando a oferta da proteína proveniente do Mercosul
Foto: Sergey Kotenev/Unsplash

Em crescimento constante desde 2021, o mercado pecuário brasileiro deve desacelerar em 2026. De acordo com a DATAGRO, o abate de bovinos no Brasil totalizará 37,1 milhões de cabeças no ano que vem, queda de 9,3% ante as 40,8 milhões de cabeças projetadas para 2025, com a participação de fêmeas recuando de 44,6% neste ano para 41,1% em 2026.

Os números foram apresentados na 5ª edição do Fórum Pecuária Brasil, evento organizado pela própria consultoria, que ocorreu nesta semana em São Paulo, reunindo mais de 620 pessoas, entre pecuaristas, representantes da indústria, fornecedores de insumos e agentes do setor financeiro.  

Segundo o analista da DATAGRO, Guilherme Jank, a projeção de queda no número de abates é reflexo do processo de retenção de fêmeas, típico da virada de ciclo pecuário. “O setor está em um processo heterogêneo de transição, com as praças pecuárias da região Norte do país com uma trajetória de alta mais acentuada quando comparado com as praças do Sul do país”, afirmou Jank.

“São todas praças de fêmeas, de cria, e quando isso começa a aparecer numa trajetória mais longa é porque tem alguma coisa por trás dizendo que já tem uma restrição de oferta querendo se materializar”, explicou o analista.

Ainda segundo a consultoria, a produção brasileira de carne bovina deve alcançar 9,749 milhões de toneladas equivalentes de carcaça em 2026, queda de 6,8% em relação às 10,464 milhões de toneladas esperadas para 2025. No mesmo período, as exportações nacionais devem cair 1,9%, para 3,847 milhões de toneladas; e o consumo doméstico diminuir 9,4%, para 5,865 milhões de toneladas

Driblando as tarifas dos Estados Unidos 

Outro assunto em alta no evento foi a recente tarifa de importação imposta pelos Estados Unidos sobre a carne bovina brasileira, o que tornou os embarques da proteína inviáveis para aquele país. 

Nessa linha, executivos de frigoríficos brasileiros, acompanhados do presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, destacaram o potencial da carne bovina brasileira para acessar novos mercados internacionais, tanto na linha de proteína commodity quanto de cortes mais nobres.

“Hoje, nossa carne bovina chega a mais de 150 países, mas temos orgulho de que nosso principal mercado é o doméstico, que consome 70% da produção nacional”, assinalou Perosa.

De acordo com o CEO do frigorífico Estrela, Pedro Bordon, além da China, que é o principal destino da carne bovina brasileira, o Sudeste Asiático como um todo vem se apresentando com enorme potencial consumidor. “São países como Indonésia, Malásia, Singapura, Filipinas, Vietnã, entre outros”, assinalou o executivo. Além deles, o Brasil negocia e espera a abertura de novos mercados ainda neste ano, como o japonês, o turco e o sul-coreano

Já a executiva comercial do grupo Ramax, Mariana Inocente, citou as oportunidades para a carne brasileira no Oriente Médio e na África. “Ambas as regiões são clientes em potencial para itens de volume, como, por exemplo, miúdos e cortes básicos, mas também para carnes premium”, afirmou Mariana. 

Mudanças na relação entre pecuarista e indústria 

Segundo o diretor de compra de gado da Minerva Foods, Fabiano Tito Rosa, toda essa recente internacionalização da carne bovina brasileira mudou o jogo da originação no Brasil: antes, quando a produção de carne bovina era voltada totalmente para o mercado interno, o ponto mais importante para os frigoríficos era o preço; com a entrada desse mercado internacional, o foco da indústria passou a ser quem oferece o melhor desmonte.

“A gente tem que colocar cada parte do boi no mercado que melhor remunera. A compra de gado ficou mais técnica“, afirmou Rosa.

Eduardo Pedroso, diretor de originação da Friboi-JBS, destacou que a China, ao impor a restrição de compras de animais até 30 meses, forçou uma integração entre indústria e produtor que antes eram vistos como “lados rivais”. “Um passou a depender do outro, numa relação extremamente profissional. Sem Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) e sem nutrição animal, o animal não chega no peso ideal nessa idade”, afirmou Pedroso.

Para que isso aconteça, aponta o diretor de originação da Friboi, hoje, o pecuarista necessita realizar cria e recria intensiva, além de promover o melhoramento genético.

Os executivos concordaram que não existe operação de frigorífico de grande porte sem relações de parceria com produtores estrategicamente localizados. “O produtor tem entendido cada vez mais a necessidade de aprimorar a produção”, comentou Pedroso.

Além disso, Rosa apontou o Indicador do Boi DATAGRO – o oficial da Bolsa Brasileira para liquidar contratos futuros – como o “lastro que traz segurança” para ambas as partes (indústria e produtor) criarem parceria e relações comerciais cada vez melhores.