A pecuária inicia um momento decisivo. Produtores mantêm animais pesados no pasto, prontos para engorda, mas relutam no confinamento, o que deve afetar na reposição do rebanho em 2026
Foto: MFG Agropecuária

Às vésperas de 2026, a pecuária de ciclo longo entra em um momento decisivo. Em muitas regiões do país, produtores mantêm animais pesados nas pastagens, já prontos para engorda, mas ainda relutam em enviá-los ao confinamento

Esse atraso, porém, contrasta com uma oportunidade estratégica: liberar a área de pasto agora, recompor o rebanho na virada das águas e reorganizar o fluxo produtivo antes que o mercado consolide uma valorização mais ampla da reposição.

“Mover esse gado pesado para o confinamento seria a grande jogada no tabuleiro do 1Jogo da Reposição1 de 2026. Ao fazer isso agora, o produtor não estará apenas terminando os animais, fará o seu primeiro movimento para destravar todo o ciclo produtivo da fazenda”, analisa Vanderlei Finger, gerente corporativo de Originação da MFG Agropecuária

Analistas avaliam que o descompasso atual entre boi gordo e bezerro abre uma janela rara. Após um 2024 marcado por preços deprimidos, o boi gordo encontrou estabilidade e sinaliza tendência de alta, enquanto a reposição ainda reage de forma tímida

Como o país saiu recentemente de um ciclo de abate intenso de fêmeas, o cenário sugere menor oferta de bezerros adiante, o que tende a pressionar os preços nos próximos trimestres. 

A antecipação da engorda através de confinamento, portanto, deixa de ser apenas uma etapa final e passa a funcionar como peça de gestão que permite ao produtor liberar pasto, adquirir reposição ainda em um patamar mais favorável e recriar os animais no auge das águas, criando o alinhamento que se torna o grande diferencial para 2026.

A estratégia completa-se no início do próximo ano, quando os animais recriados chegam ao peso ideal e podem ser novamente direcionados ao confinamento antes que as pastagens sintam a redução das chuvas. 

Esse arranjo libera área para a entrada da safra de bezerros de 2026, acelera o giro e eleva a taxa de desfrute da fazenda, criando um sistema menos dependente das oscilações climáticas e com maior previsibilidade produtiva.

A execução desse movimento exige atenção ao capital de giro e à proteção de margem. O uso de operações de trava de preço no mercado futuro reduz a exposição à volatilidade e ajuda a assegurar rentabilidade. 

Recursos provenientes de linhas de crédito tradicionais, operações estruturadas ou títulos como a Nota Promissória Rural têm sido utilizados para viabilizar a compra antecipada de animais, o que permite ao produtor implementar o giro sem afetar o caixa operacional.

Com indicações claras de que a reposição deve se valorizar conforme o ciclo pecuário avança, a discussão central passa a ser o momento de agir. Para especialistas, o confinamento, quando usado como ferramenta de organização do sistema produtivo, pode permitir que o pecuarista assuma o controle do chamado “jogo da reposição” e chegue a 2026 com competitividade ampliada e maior eficiência no uso das áreas disponíveis.