
O mercado global de carne bovina começa a enfrentar uma situação muito interessante em 2025: o estoque global de gado caminha para uma escassez estrutural de oferta de pouco mais de 600 milhões de cabeças, o menor volume da série histórica, iniciada em 1968.
Na visão da consultoria DATAGRO, esse cenário é reflexo da combinação entre secas severas em importantes regiões produtoras, aumento nos custos de produção e uma desaceleração cíclica e sincronizada nos abates.
Com os principais exportadores globais de carne bovina desenvolvidos lidando com gargalos internos, a demanda global se volta com ainda mais força para países que conseguem manter excedentes consistentes de produção. Nesse contexto, o Mercosul ganha destaque estrutural, tanto pela escala quanto pelo perfil orientado à exportação.
Das 607 milhões de cabeças de gado projetadas para os estoques globais neste ano, 260 milhões estão na América do Sul – sendo 182 milhões no Brasil, 53 milhões na Argentina, 13 milhões no Paraguai e 12 milhões no Uruguai – e 114 milhões na América do Norte.
“Isso abre muitas oportunidades: não só para o Mercosul estar enviando mais carnes para os Estados Unidos, mas também para o México, o Canadá e outros destinos que normalmente os EUA ocupavam”, projeta a DATAGRO.
Atual cenário já é positivo
Apesar do cenário de mais otimismo num futuro próximo, o atual momento é bom. O bloco sul-americano já se consolidou como o principal fornecedor global de carne bovina, impulsionado por um saldo positivo entre produção e consumo. Enquanto economias desenvolvidas enfrentam forte disputa interna por seus estoques, os países do Mercosul operam com excedentes robustos.
Em 2025, o Brasil deve registrar um superávit superior a 3,7 milhões de toneladas em sua balança comercial de carne bovina, seguido por Argentina, Paraguai e Uruguai, que também devem manter volumes exportáveis relevantes, mesmo em cenários produtivos mais desafiadores. “A força exportadora do bloco reside nessa capacidade de gerar excedentes — algo cada vez mais escasso no cenário atual”, destaca a DATAGRO.
Além dos volumes, a estrutura produtiva da região favorece as exportações, impulsionada por mercados internos com menor capacidade de absorção, devido a limitações de renda. Em 2024, os países do Mercosul embarcaram pouco mais de 4 milhões de toneladas de carne bovina in natura, alta de cerca de 17% frente ao ano anterior.
Brasil lidera o Mercosul
No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o Brasil respondeu por 62,2% das exportações do Mercosul. Ao todo, foram mais de 586 mil toneladas embarcadas — aumento de mais de 10% em relação ao mesmo intervalo de 2024. O desempenho reforça a liderança do país na oferta global.
“A produção brasileira se apoia em um rebanho numeroso, ampla disponibilidade de pastagens e uma indústria frigorífica de grande escala. O país segue diversificando seus destinos, com destaque para Emirados Árabes, Indonésia, Coreia do Sul e Estados Unidos, reduzindo a dependência da China”, avalia a consultoria.
A visão dos nossos vizinhos
Por outro lado, o segundo maior exportador do bloco, a Argentina, enfrenta um momento adverso. A seca prolongada, combinada à instabilidade político-econômica, resultou na redução do rebanho bovino — o menor dos últimos 15 anos.
A liquidação de fêmeas e as dificuldades na reposição agravaram o quadro, somado a políticas cambiais, controles de preços e restrições às exportações que minaram a confiança do setor. Como resultado, a participação argentina nas exportações do Mercosul encolheu, assim como sua competitividade no mercado internacional.
O Uruguai, por sua vez, manteve seu papel relevante, embora com volumes mais modestos. A China permaneceu como principal destino, absorvendo mais de 60% das exportações em 2024. Ao mesmo tempo, o país busca ampliar a presença em mercados premium, como União Europeia, Japão e Coreia do Sul. Apesar dos impactos climáticos e de greves no setor, a expectativa é de recuperação em 2025.
Com custos de produção competitivos e frigoríficos em expansão, o Paraguai tem avançado no comércio sul-americano e em mercados da Ásia, África e Oriente Médio. A demanda de países como Chile, Brasil e Taiwan deve impulsionar as exportações em 2025. Apesar das limitações de acesso a mercados mais exigentes, o país trabalha para diversificar seus destinos e reduzir a dependência de poucos parceiros.
Diante desse cenário de reconfiguração da oferta e demanda global, o protagonismo do Mercosul tende a se consolidar ainda mais nos próximos anos. A combinação entre rebanhos numerosos, capacidade produtiva eficiente, estrutura exportadora sólida e mercados internos com menor absorção garante aos países do bloco, especialmente ao Brasil, uma posição estratégica no comércio internacional de carne bovina.
Além disso, a diversificação de destinos e o fortalecimento de parcerias comerciais indicam uma maturidade crescente do setor, que se mostra cada vez mais resiliente às oscilações externas e aos desafios climáticos e políticos. Entretanto, para sustentar esse protagonismo, será fundamental que os membros do Mercosul invistam em melhorias contínuas na rastreabilidade, sanidade animal e sustentabilidade da cadeia produtiva, exigências cada vez mais relevantes nos mercados premium.