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Muito além do mel: entenda a importância das abelhas e como a polinização ajuda na produção agrícola

Agentes polinizadores garantem mais produtividade, frutos de melhor qualidade e sustentabilidade no campo

As abelhas desempenham um papel fundamental na agricultura
Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA

As abelhas são agentes indispensáveis para a produção de alimentos no Brasil e no mundo. A polinização realizada por esses pequenos insetos garante o desenvolvimento de diversas culturas agrícolas, melhora a qualidade dos frutos e contribui significativamente para o aumento da produtividade nas lavouras.

Com um papel estratégico na segurança alimentar global, proteger as abelhas e outros polinizadores se tornou essencial para a sustentabilidade da agropecuária brasileira.

Neste artigo, você vai entender por que as abelhas são fundamentais para a agricultura, como funciona a polinização, quais culturas mais dependem dela, como proteger esses insetos na propriedade rural e quais os benefícios econômicos de manter esse processo natural ativo no campo.

Por que as abelhas são importantes para a agricultura

As abelhas são consideradas os principais agentes polinizadores da natureza. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), estima-se que cerca de 75% das culturas agrícolas destinadas à alimentação humana dependem, ao menos parcialmente, da polinização por insetos, sendo as abelhas as mais eficientes entre eles.

Ao visitar flores em busca de néctar e pólen, esses insetos transportam grãos de pólen entre as flores, promovendo a fecundação e o desenvolvimento dos frutos e sementes. Sem essa etapa, muitas plantas teriam baixa produtividade ou, em alguns casos, não conseguiriam se reproduzir.

Além das espécies de abelhas silvestres que atuam naturalmente no ambiente, a apicultura e a meliponicultura também têm ganhado espaço como práticas complementares dentro das propriedades agrícolas, beneficiando tanto a biodiversidade quanto os resultados econômicos das lavouras.

Tanto é que, em 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) lançou o programa “Mais Meliponicultura”, que incentiva a criação de abelhas nativas sem ferrão como estratégia para polinização agrícola, geração de renda e conservação ambiental.

A proteção dos insetos também é de grande importância para os agentes governamentais, tanto que se criou o Programa Nacional de Conservação de Polinizadores (Planapol), instituído pelo Ministério do Meio Ambiente, que tem como objetivo promover a conservação e o uso sustentável dos polinizadores, integrando ações de monitoramento, educação ambiental e políticas públicas para a agricultura sustentável.

Como funciona o processo de polinização

A polinização é o transporte do pólen das partes masculinas de uma flor (anteras) para as partes femininas (estigma) da mesma flor ou de outra da mesma espécie. Esse processo é essencial para ocorrer a fecundação e, posteriormente, a formação dos frutos e sementes.

A ação das abelhas nesse processo é feita de forma natural: ao pousarem sobre uma flor para coletar néctar e pólen, parte do pólen gruda em seu corpo. Quando visitam a próxima flor, parte desse pólen é transferido, completando a polinização. Em muitas culturas, as abelhas são responsáveis por realizar a polinização cruzada, o que resulta em frutos maiores, mais uniformes e com melhor qualidade nutricional.

Vale destacar que a eficiência da polinização depende de fatores como:

  • Diversidade e abundância de abelhas;
  • Presença de áreas de refúgio e alimentação próximas às lavouras;
  • Manejo adequado de agroquímicos.

Quais culturas dependem da polinização por abelhas

Embora todas as plantas com flores possam se beneficiar da presença de polinizadores, algumas culturas são particularmente dependentes das abelhas para garantir boa produção e qualidade dos frutos. Veja a seguir algumas das principais culturas agrícolas brasileiras que têm na polinização um fator-chave:

  • Café: apesar de ser autopolinizável, o café arábica tem aumento de produtividade e melhor uniformidade dos frutos quando há polinização cruzada por abelhas;
  • Maçã: depende fortemente da polinização cruzada por abelhas para formar frutos. A ausência de polinizadores pode reduzir drasticamente a produção de maçãs;
  • Melancia e melão: culturas altamente dependentes, com necessidade de visitas múltiplas de abelhas por flor para garantir frutos bem formados;
  • Maracujá: essencialmente polinizada por abelhas grandes, como a mamangava. Sem a presença desses insetos, é comum a necessidade de polinização manual;
  • Soja: embora autopolinizável, pesquisas indicam que a presença de abelhas pode aumentar a produtividade em até 20%, além de melhorar o enchimento das vagens;
  • Cítricos e abacate: respondem positivamente à polinização por abelhas, com melhorias no tamanho, peso e taxa de frutificação.

Esses exemplos mostram que a atuação dos polinizadores impacta diretamente não só o volume da produção, mas também sua qualidade e valor de mercado.

Como proteger os polinizadores na propriedade rural

Garantir um ambiente seguro para as abelhas e outros polinizadores é uma estratégia inteligente para qualquer produtor rural que deseja ter lavouras mais produtivas e sustentáveis. Algumas práticas recomendadas incluem:

1. Uso responsável de defensivos agrícolas

Evite pulverizações durante os horários de maior atividade das abelhas, como as manhãs ensolaradas. Dê preferência a produtos seletivos, respeite as recomendações técnicas e siga as orientações dos fabricantes sobre períodos de carência e horários ideais de aplicação.

2. Preservação de matas nativas e áreas de vegetação

A vegetação nativa é habitat e fonte de alimento para abelhas silvestres. Manter e restaurar áreas de mata ao redor das lavouras contribui diretamente para a presença contínua desses insetos.

3. Instalação de colmeias e caixas de abelhas nativas

Apicultura e meliponicultura podem ser aliadas da agricultura. A introdução controlada de abelhas nas lavouras, com acompanhamento técnico, pode ampliar a taxa de polinização e gerar renda extra com a produção de mel, pólen e própolis.

4. Diversificação de culturas e sistemas agroflorestais

Ambientes agrícolas com diversidade de plantas tendem a atrair maior variedade de polinizadores, fortalecendo o ecossistema local e oferecendo alimento o ano todo para os insetos.

5. Capacitação e sensibilização da equipe

Treinar os trabalhadores da propriedade sobre a importância dos polinizadores e boas práticas de manejo é fundamental para a proteção desses agentes.

A proteção das abelhas como agentes polinizadores tem se tornado tão relevante no Brasil, que eles acabaram ganhando respaldo institucional e legislativo. A Embrapa Meio Ambiente, que coordena pesquisas sobre polinização e manejo de abelhas nativas e exóticas em sistemas agrícolas, criou normas de boas práticas para a convivência entre produção e conservação dos insetos.

Benefícios econômicos da polinização natural

Diversos estudos têm mostrado que o investimento em práticas que favorecem os polinizadores gera retorno direto para os agricultores. De acordo com a FAO, o valor estimado da polinização animal para a agricultura global ultrapassa US$ 235 bilhões por ano.

No Brasil, pesquisa da Embrapa em parceria com universidades brasileiras indica que, para culturas como maracujá, maçã e melancia, a presença de abelhas pode aumentar a produção em até 100%, dependendo das condições locais. Mesmo em culturas menos dependentes, como a soja, ganhos de 10% a 20% em produtividade representam um diferencial competitivo relevante.

Além disso, lavouras bem polinizadas costumam apresentar frutos mais padronizados, o que favorece a comercialização e pode gerar melhor remuneração ao produtor. Outro ponto importante é que os polinizadores reduzem a necessidade de intervenções manuais ou químicas, ajudando a baixar os custos de produção e melhorar a imagem ambiental do negócio.

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