A crescente demanda por carne ovina no Brasil abre espaço para uma nova alternativa de produção no Pantanal: a criação do Ovino Pantaneiro. Estudos liderados pela Embrapa Pantanal (MS) indicam que essa variedade, adaptada ao bioma há séculos, pode impulsionar a ovinocultura na região sem causar impacto ambiental significativo. Os trabalhos se dão no âmbito do projeto “Estratégias para o desenvolvimento de soluções genéticas para sistemas de produção de carne de ovinos no Brasil”, coordenado pela Embrapa Caprinos e Ovinos (CE).
A principal aposta da pesquisa é o melhoramento genético dos rebanhos, selecionando animais mais resistentes a doenças e com características favoráveis à produção de carne. “As pesquisas em desenvolvimento têm como objetivo caracterizar os Núcleos Pantaneiros a fim de fornecer um painel detalhado da diversidade genética em Mato Grosso do Sul. Com isso, pretendemos fornecer subsídios para os programas de manejo e melhoramento genético”, explica a pesquisadora Adriana Mello.
Os trabalhos incluem a caracterização genética da espécie e a busca por marcadores que favoreçam rusticidade, prolificidade e resistência a verminoses. Estratégias para aprimorar a nutrição e o manejo sanitário dos rebanhos também estão em teste. “O Ovino Pantaneiro já possui alta adaptação, mas queremos garantir que ele tenha desempenho produtivo superior sem perder essas características naturais”, acrescenta Mello.
Apesar do potencial produtivo, desafios impedem o crescimento da atividade. A falta de estrutura para abate e comercialização é um dos principais entraves. “Corumbá, que concentra o maior rebanho ovino de Mato Grosso do Sul, não tem abatedouro próprio. Isso dificulta a formação de uma cadeia produtiva organizada”, conta Mello.
Outro problema é o manejo sanitário, que ainda carece de padrões técnicos. Muitos produtores realizam vermifugação sem critério, o que pode gerar resistência parasitária e comprometer a produtividade. O calendário vacinal também precisa de padronização. Para enfrentar essas questões, pesquisadores desenvolvem protocolos sanitários específicos, com alternativas naturais para o controle de verminoses e doenças tropicais.
Segundo Márcio Henrique Boza, gestor da cadeia de ovinocultura do estado, o principal desafio agora é organizar os produtores para atender às demandas da indústria e consumidores. Ele relata que o Governo do Estado lançou o programa Proape Ovinos, que oferece apoio financeiro e logístico, além da criação das Propriedades de Descanso de Ovinos para Abate (PDOA), que viabilizam abates coletivos e organizam a formação de lotes comerciais.
O impacto socioeconômico pode ser expressivo. Pequenos produtores relatam aumento de renda e maior estabilidade financeira. “A carne ovina tem valor de mercado superior à bovina, e os custos de produção são menores. Com incentivos adequados, a ovinocultura pode se tornar uma excelente fonte de renda para famílias pantaneiras”, afirma João Pedro Rocha, produtor com rebanho de 200 cabeças.
A produção nacional de carne ovina ainda não atende à demanda, especialmente no Centro-Oeste, onde cerca de 50% do consumo é suprido por outros estados ou países vizinhos. “Isso mostra a oportunidade que temos para expandir a criação e consolidar a produção local”, avalia o produtor Carlos Henrique Evangelista.
A carne do Ovino Pantaneiro também desperta interesse de nichos de mercado voltados à sustentabilidade e rastreabilidade. “O conceito de carne de terroir tem atraído chefs e restaurantes especializados, o que pode agregar valor à produção regional”, aponta Mello.
O futuro da ovinocultura no Pantanal depende da consolidação da raça e da estruturação da cadeia produtiva. A pesquisa continua para garantir que o Ovino Pantaneiro se torne um diferencial competitivo. Com potencial produtivo e adaptação ao bioma, a raça pode ser uma alternativa sustentável para a pecuária pantaneira e uma solução para fortalecer a oferta de carne ovina no Brasil.
Características do Ovino Pantaneiro
Segundo Adriana Mello, a adaptação desses animais ao ambiente moldou características únicas, como a distribuição da lã no corpo — com pouca ou nenhuma lã nas pernas, barriga e pescoço, facilitando a locomoção em áreas alagadas.
De porte médio, os ovinos têm menor exigência alimentar e alta mobilidade. A aparência magra é típica da raça, reflexo de baixa exigência calórica e menor acúmulo de gordura.
Tanto machos quanto fêmeas são precoces e não têm sazonalidade reprodutiva, permitindo controle dos nascimentos durante todo o ano. Os cordeiros nascem com cerca de três quilos e, após desmama entre 70 e 84 dias, podem ser abatidos aos cinco meses, com peso entre 30 kg e 35 kg em sistemas intensivos.