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Revolução do bioinsumo na pecuária: como probióticos e aditivos naturais estão substituindo antibióticos

Produtividade, saúde e exportação: os benefícios que vêm com a nutrição inteligente

A imagem representa como a pecuária pode se beneficiar com o uso de bioinsumos
Foto: Stephan Müller/Pexels

Em meio a um cenário global de preocupação com a saúde pública, bem-estar animal e sustentabilidade, cresce entre os produtores rurais a adoção de práticas mais naturais e eficientes no manejo dos rebanhos. Uma das mudanças mais significativas é a substituição de antibióticos por probióticos, prebióticos e outros aditivos naturais na alimentação e na rotina zootécnica.

Essa revolução dos bioinsumos não é apenas uma resposta às exigências de mercados internacionais por alimentos livres de resíduos químicos. Trata-se de uma abordagem que melhora a saúde animal, aumenta a produtividade dos rebanhos e contribui para a sustentabilidade ambiental. O resultado é uma cadeia produtiva mais equilibrada, segura e eficiente.

Neste artigo, vamos entender o que são esses bioinsumos na pecuária, como atuam no organismo dos animais, quais seus benefícios reais e de que maneira podem ser implementados de forma eficaz nas propriedades pecuárias.

O que são bioinsumos e como eles impactam a pecuária?

Bioinsumos são produtos, tecnologias ou processos de base biológica — sejam de origem vegetal, animal ou microbiana — utilizados para substituir ou complementar insumos químicos tradicionais na produção agropecuária. Eles incluem probióticos, prebióticos, extratos vegetais, biofertilizantes, óleos essenciais e microrganismos benéficos que atuam na nutrição, saúde e bem-estar dos animais.

Na prática, esses insumos naturais promovem o equilíbrio da microbiota intestinal dos animais, fortalecem o sistema imunológico, melhoram a digestão e reduzem a incidência de enfermidades. Com isso, diminui-se a necessidade do uso de antibióticos, vermífugos e outros fármacos sintéticos. Ademais, como não deixam resíduos nos tecidos dos animais, atendem às exigências de mercados internacionais que priorizam alimentos mais saudáveis e seguros para o consumo humano.

O Programa Nacional de Bioinsumos, instituído pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) tem desempenhado papel crucial na promoção dessas tecnologias, incentivando práticas mais sustentáveis e fortalecendo a autonomia dos produtores brasileiros. O programa também busca reduzir a dependência de insumos importados, o que representa um avanço estratégico para o agronegócio nacional.

Por que substituir antibióticos por probióticos e aditivos naturais?

Por décadas, os antibióticos foram amplamente utilizados na pecuária, tanto para tratar infecções quanto como promotores de crescimento. No entanto, seu uso excessivo e indiscriminado gerou uma série de problemas. O mais alarmante é o surgimento de bactérias resistentes, conhecidas como superbactérias, que representam uma ameaça à saúde humana e animal. Além disso, resíduos de antibióticos em carne, leite e ovos podem comprometer a segurança alimentar e dificultar a exportação para países com normas rigorosas.

Nesse contexto, probióticos e aditivos naturais surgem como alternativas eficazes e sustentáveis. Eles não combatem diretamente bactérias patogênicas, mas criam um ambiente intestinal que favorece microrganismos benéficos, dificultando a proliferação de agentes nocivos. A atuação preventiva é o principal diferencial dessas substâncias. Em vez de tratar doenças, elas ajudam a evitá-las, fortalecendo o sistema imunológico e melhorando a saúde geral dos animais.

Além disso, os aditivos naturais apresentam ação anti-inflamatória, antioxidante e moduladora da resposta imune, o que contribui para o desempenho zootécnico dos rebanhos. Com isso, os animais ganham peso com mais eficiência, produzem mais leite ou ovos e apresentam menor índice de mortalidade.

Benefícios dos probióticos e aditivos naturais na nutrição animal

A aplicação dos bioinsumos na pecuária traz uma série de benefícios, que se refletem na saúde dos animais e nos resultados econômicos da propriedade:

  • Melhoria da saúde intestinal: os probióticos colonizam o trato gastrointestinal, competindo com microrganismos patogênicos e estimulando a produção de enzimas digestivas. Isso resulta em maior absorção de nutrientes e menor ocorrência de distúrbios digestivos, como diarreias.
  • Fortalecimento do sistema imunológico: extratos de plantas medicinais, óleos essenciais e prebióticos ativam células de defesa e reduzem processos inflamatórios, preparando o organismo para resistir a agentes infecciosos.
  • Aumento da produtividade: animais saudáveis convertem melhor os alimentos em carne bovina, leite ou ovos. Isso reduz os custos com ração e medicamentos, além de melhorar os índices zootécnicos da propriedade.
  • Redução do estresse: fases críticas como desmame, transporte e mudanças alimentares podem causar estresse nos animais, prejudicando a imunidade. Certos aditivos naturais atuam como moduladores do estresse, garantindo maior estabilidade fisiológica.
  • Melhora no bem-estar animal: a nutrição funcional proporciona conforto e equilíbrio ao metabolismo animal, promovendo uma criação mais ética e alinhada às expectativas dos consumidores modernos.

Como implementar bioinsumos na rotina da propriedade?

A adoção de bioinsumos deve ser planejada e acompanhada tecnicamente para garantir sua eficácia. Veja as principais etapas desse processo:

  1. Diagnóstico inicial: é fundamental conhecer as condições sanitárias e nutricionais do rebanho, identificar os desafios específicos da propriedade e traçar objetivos claros com o uso de bioinsumos.
  2. Seleção de produtos: a escolha dos insumos deve considerar a espécie animal (bovinos, suínos, aves, ovinos etc.), a fase de produção (cria, recria, terminação e lactação) e os problemas enfrentados (diarreias, estresse térmico, baixa imunidade etc.).
  3. Acompanhamento técnico: trabalhar com veterinários, zootecnistas e agrônomos especializados é essencial para monitorar os resultados, ajustar doses e validar a eficácia dos produtos.
  4. Capacitação da equipe: funcionários e técnicos da propriedade devem ser treinados para aplicar corretamente os bioinsumos, compreender sua função e acompanhar os efeitos nos animais.
  5. Registro e avaliação de resultados: é recomendável manter um controle zootécnico rigoroso, registrando os indicadores de desempenho antes e depois da implementação dos bioinsumos.

Principais bioinsumos utilizados na pecuária

A diversidade de produtos disponíveis no mercado vem crescendo com o avanço da pesquisa científica. Conhecer os principais insumos e suas funções é essencial para uma escolha assertiva, adequada às necessidades da propriedade. Veja a seguir os grupos mais utilizados na alimentação e manejo dos animais:

Probióticos mais comuns

  • Lactobacillus spp. – melhora a digestão e inibe microrganismos patogênicos.
  • Bacillus subtilis – alta resistência ao calor e ao pH gástrico; produz enzimas digestivas e estimula a imunidade.
  • Enterococcus faecium – compete com bactérias patogênicas, ajudando a prevenir diarreias.
  • Saccharomyces cerevisiae (levedura viva) – estabiliza o ambiente ruminal em ruminantes e melhora a fermentação.

Prebióticos mais utilizados

  • Mananoligossacarídeos (MOS) – capturam patógenos no trato intestinal, impedindo sua fixação.
  • Frutooligossacarídeos (FOS) – estimulam o crescimento de bifidobactérias e lactobacilos.
  • Inulina – fibra solúvel que melhora a absorção de minerais e regula a microbiota.
  • Beta-glucanas – moduladores do sistema imunológico, derivados de leveduras.

Aditivos naturais e fitoterápicos

  • Óleos essenciais (orégano, tomilho, alho, eucalipto, canela) – ação antimicrobiana, modulam a microbiota intestinal e reduzem o estresse oxidativo.
  • Taninos – presentes em plantas como a acácia e o quebracho, reduzem a carga parasitária e promovem saúde ruminal.
  • Saponinas – extraídas de plantas como a Yucca schidigera, reduzem gases entéricos e melhoram a digestibilidade.
  • Leveduras inativas (parede celular de levedura) – ligam-se a toxinas e patógenos, melhorando a imunidade e a saúde digestiva.

O papel da tecnologia e da inovação na pecuária sustentável

A biotecnologia tem desempenhado papel crucial no avanço da pecuária moderna. Uma das inovações mais promissoras é a instalação de biofábricas nas próprias fazendas, que permitem a multiplicação de microrganismos benéficos em escala local. Isso reduz os custos com aquisição de insumos e aumenta a autonomia do produtor.

Além disso, a pesquisa científica vem aprimorando a formulação dos bioinsumos, tornando-os mais estáveis, eficazes e específicos. Hoje, já é possível encontrar produtos adaptados a diferentes tipos de criação e ambientes, com comprovação de eficácia por meio de estudos clínicos e testes de campo.

O uso de ferramentas digitais também tem contribuído para o sucesso dos bioinsumos. Softwares de gestão zootécnica, sensores de saúde animal e análise de dados ajudam os produtores a identificar rapidamente os efeitos positivos dos bioinsumos, facilitando a tomada de decisões baseada em evidências.