
Reunidos nesta semana, em painel na Futurecom, na capital paulista, especialistas no segmento de telecomunicações e de tecnologia da informação pontuaram que a infraestrutura de conectividade – que vem avançando no campo, embora ainda esteja distante de uma cobertura satisfatória – precisa chegar acompanhada de serviços e soluções efetivas para o produtor rural.
Na paisagem de negócios dos polos agrícolas, o sinal de internet está via de regra presente nas sedes das fazendas, nos escritórios das propriedades rurais, mas não alcança, de fato, os hectares de produção, comprometendo a conexão de máquinas e implementos em geral com softwares por meio de dispositivos de internet das coisas (Iot).
Daniel Fuchs, diretor de inovação da Arqia, assinalou que a conectividade precisa chegar no campo, trazendo junto serviços e soluções digitais reais e concretas para o produtor, que apresentem entregas relacionadas à redução de custos, ganhos de eficiência e aumento de produtividade.
“Caso contrário, o agricultor vai ter o acesso à internet, mas sem saber ou ter exatamente o que fazer com ele [o sinal]. Será algo estéril – que pode até comprometer o entendimento dos ganhos que a conectividade traz para o agro”, afirmou Fuchs. A ideia foi reforçada pelo analista da TGT, Sidney Nobre, ao salientar que “o tomador de decisão não quer só o dado, o que vale é a informação que pode ser extraída dele”.
De acordo com Fuchs, a expansão da conectividade no interior exige um modelo de negócios diferente do praticado no meio urbano e que, de certo modo, vem ganhando tração.
“Nas cidades, quem paga a conta da conectividade é a alta densidade de pessoas; no campo, não. O que tem vingado são modalidades corporativas, onde um grande grupo faz o investimento em infraestrutura de telecom e internet e viabiliza o sinal”, explicou Fuchs.
Nesta agenda, a presidente da associação ConectarAgro, Paola Campiello, registrou que há também o desafio do “letramento digital“, de ensinar, capacitar a grande massa de produtores a saber usar e aproveitar os benefícios que o acesso à internet pode trazer para o agronegócio. A ConectarAgro é uma entidade que contempla empresas ligadas diretamente ao agro com companhias de telecom e TI, com a proposta de trabalhar institucionalmente para expansão da conectividade no campo.
A associação elaborou um índice de conectividade rural, que mede a cobertura da internet no agro em hectares, cuja mais recente leitura aponta que 34% do campo brasileiro está conectado, contra 19% de 2024. “Os dados da ConectarAgro são validados pela Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] e usados para acompanhar a digitalização nas áreas rurais”, disse.
O presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Fernando Neias, observou, ainda, que a estratégia de comercialização de serviços digitais no agro passa também pelo entendimento de como funciona o calendário do segmento rural, das épocas de plantio e colheita, a fim de abrir negociação com o produtor quando ele estiver com o resultado financeiro da safra no caixa da fazenda.