
Os fertilizantes são insumos essenciais para a agricultura, responsáveis por cerca de 50% da produção global de alimentos. No Brasil, sua importância é ainda maior: o país é o quarto maior consumidor mundial e depende de importações para suprir 80% da demanda interna.
Somente em 2024, o Brasil registrou a entrada de 45,61 milhões de toneladas de insumos, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Em agosto de 2025, as importações bateram recorde histórico, com 5,24 milhões de toneladas, acumulando 29,44 milhões no ano até aquele mês — um crescimento de 8,5% sobre 2024. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e analisados pela DATAGRO Consultoria, os principais fornecedores foram Rússia, China e Canadá.
Apesar da relevância, o setor sofre com desafios estruturais: preços formados fora do país, custos elevados de logística interna e forte dependência cambial. Nesse cenário, ter informação de qualidade e acesso rápido aos preços é fundamental para que o produtor consiga planejar melhor sua compra e garantir margens mais seguras.
É assim que surge a LeveAgro, plataforma de inteligência de mercado para fertilizantes com mais de 100 mil cotações processadas, mais de 70 tipos de fertilizantes implementados em seu sistema e que já ajudou uma centena de grupos e produtores rurais a economizar mais de R$ 8 milhões.
A trajetória de Eduardo Nunes até a LeveAgro
À frente da LeveAgro está Eduardo Castro Pereira Nunes, 42 anos, administrador de empresas. Com passagem pela Louis Dreyfus, onde atuou em açúcar, etanol e fertilizantes, ele percebeu a falta de transparência do mercado em comparação a outras commodities negociadas em bolsas.
“Na cana-de-açúcar, por exemplo, os produtores tinham referências de preço em Londres ou Nova York. Já os fertilizantes eram um mercado obscuro, sem base clara de comparação”, relembra.
Em 2014, Eduardo fundou a NPK Soluções, empresa que inicialmente oferecia consultoria a grandes compradores, como usinas e misturadoras. Com o tempo, o negócio se transformou em trading, chegando a movimentar dezenas de milhões de reais em fertilizantes no Brasil e no Uruguai.
Durante a pandemia, a operação migrou para a tecnologia: digitalização da precificação, análise de crédito e registro de CPRs de forma automática. Em 2023, após a venda de parte da empresa, Eduardo deu início à LeveAgro, com foco exclusivo em inteligência de mercado e transparência de preços.
Como funciona a plataforma
A LeveAgro reúne dados de preços de mais de 70 produtos – entre matérias-primas e formulações NPK – em tempo real e em qualquer região do Brasil. O diferencial, explica Eduardo, é mostrar o valor CIF direto na fazenda, não apenas no porto.
“Outros provedores oferecem preços no porto. O produtor quer saber o valor na fazenda dele, já com frete incluso, para comparar com as propostas que recebe. É isso que entregamos: rapidez, qualidade e precisão”, resume.
A coleta de informações é feita por uma rede de 50 a 80 representantes espalhados pelo país. “Nem todos os preços conseguimos atualizar diariamente, mas temos uma base ampla e, em períodos de maior oscilação, intensificamos a checagem”, complementa.
Atualmente, a LeveAgro não compra nem vende insumos. Seu modelo é exclusivamente de venda de informação, funcionando de maneira semelhante a consultorias de mercado.
Valor ao produtor: informação que gera margem
Para o produtor, o benefício vai além da simples consulta de preços. A plataforma oferece alertas personalizados, que avisam quando o fertilizante atinge a faixa de preço desejada para garantir a margem da safra.
“Muitos produtores ainda não perceberam o valor disso. Eles não querem ver preço todo dia, mas querem ser avisados quando surge a oportunidade certa de compra. É informação que dá segurança e melhora o planejamento”, afirma Eduardo.
Segundo ele, o desafio está em educar o produtor rural sobre os ganhos da informação de mercado. “O Banco do Brasil e o Broto são grandes aliados, porque quanto mais margem o produtor tiver, menor o risco de inadimplência para o banco”, avalia.
Produção nacional e cenário futuro
A dependência externa segue como o grande gargalo do setor. “Precisamos de mais incentivos à produção nacional. A Petrobras tem histórico de idas e vindas, mas o investimento privado pode ser um caminho mais sólido. Fertilizantes são responsáveis por metade da comida no mundo; sem eles, a fome aumentaria”, pontua Eduardo, citando dados da International Fertilizer Association (IFA).
Ao mesmo tempo, ele defende que a transparência nos preços é uma solução imediata: “Se o produtor sabe o preço real, ele consegue negociar melhor com fornecedores, independentemente de governo ou política.”
Parceria com o Clube Broto
A LeveAgro integra o Clube Broto, clube de assinaturas que seleciona soluções inovadoras e as disponibiliza aos produtores rurais com condições diferenciadas. Segundo Eduardo, a parceria surgiu a partir de chamadas abertas para novos parceiros.
“Mostramos o produto, passamos por todas as etapas de avaliação e fomos aprovados. Ainda é o início, mas acreditamos muito no potencial dessa parceria, porque é um produto acessível e que traz benefícios para toda a cadeia”, afirma.
Perspectivas da LeveAgro
No futuro, a empresa pretende investir em estatística e inteligência artificial para projetar preços no médio prazo, oferecendo cenários de expectativa ao produtor.
“Antes, queremos consolidar a base atual, ampliar o alcance e garantir que os produtores entendam e aproveitem o valor do produto. Só depois fará sentido integrar outros insumos”, finaliza Eduardo.