
A cada safra que se passa, fica cada vez mais claro para todos que o campo é o berço das transformações tecnológicas que encontramos no Brasil. Ao olhar de perto, impressiona a quantidade de tecnologia embarcada nas grandes máquinas e tratores que ocupam as lavouras brasileiras. No entanto, nos últimos anos, começou a ganhar destaque por aqui uma inovação invisível aos olhos: a nanotecnologia.
Aplicada ao agronegócio, a nanotecnologia já vem viabilizando soluções inovadoras para o dia a dia do produtor rural, com foco em redução de custos, ganhos de eficiência e aumento de produtividade, destaca Leonardo Fraceto, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro) – um consórcio nacional que reúne várias instituições públicas e privadas de pesquisa, incluindo universidades, centros tecnológicos e empresas.
Um levantamento da Data Bridge Market Research estima que o mercado global de nanotecnologia no agronegócio movimentou cerca de US$ 398,5 bilhões em 2024, com expectativa de atingir US$ 965,8 bilhões até 2032. Já a consultoria InsightAce Analytic projeta um crescimento ainda mais expressivo: de US$ 389,9 bilhões em 2024 para US$ 1,422 trilhão em 2034.
“Esses números demonstram não apenas o potencial econômico da nanotecnologia no agro, mas também a confiança de investidores, empresas e governos na viabilidade e escalabilidade dessas soluções”, afirma Fraceto. “O mercado está, sim, preparado — e em muitos casos, já operando com tecnologias baseadas em nanotecnologia, inclusive no Brasil“, completa.
O que é a nanotecnologia?
A nanotecnologia é um campo da ciência que estuda e manipula materiais em escala nanométrica, ou seja, milhões de vezes menores que um grão de areia. Nessa escala, as propriedades dos materiais mudam significativamente, possibilitando o desenvolvimento de soluções com maior eficiência, reatividade e controle.
Fraceto explica, então, que a nanotecnologia no agro consiste na aplicação dessas estruturas em escala nanométrica para potencializar a eficiência agrícola, seja por meio de fertilizantes, defensivos, sensores ou embalagens inteligentes. “Ela permite que moléculas ativas sejam liberadas de forma controlada e precisa, reduzindo perdas, contaminações e aumentando a produtividade com menos insumos”, ressalta.
Os nanoprodutos
Em entrevista exclusiva ao Broto, Fraceto lista alguns dos chamados nanoprodutos, com destaque para:
- Nanofertilizantes: liberação gradual de nutrientes com menor lixiviação;
- Nanopesticidas: maior eficácia contra pragas e menor toxicidade ambiental;
- Nanobioestimulantes: promoção mais efetiva do crescimento vegetal e da tolerância a estresses ambientais;
- Embalagens inteligentes: detectam deterioração ou prolongam a vida útil de alimentos;
- Sensores nanoestruturados: monitoram umidade, pH e doenças no solo ou planta; e
- Filmes e coberturas de solo (mulching): com propriedades antimicrobianas ou reguladoras térmicas.
O coordenador do INCT NanoAgro pontua que alguns destes produtos estão em etapa de validação agronômica e outros já disponíveis comercialmente.
O que vem por aí?
Fraceto adianta que a nova fronteira da nanotecnologia aplicada ao agro mira produtos como:
- Bioestimulantes nanoestruturados, que ativam defesas naturais das plantas;
- Nanocarregadores para RNA interferente, uma alternativa aos defensivos convencionais;
- Sistemas de entrega dupla (nutriente + defensivo) em uma única aplicação; e
- Aplicação das nanotecnologias também para o setor florestal e de restauração ecológica
Recente pesquisa do PwC Agtech Innovation menciona a expansão do interesse e investimentos do agro em tecnologias dedicadas à agricultura de precisão e inteligência digital, o que inclui a nanotecnologia.Batizado de “Termômetro da Inovação Aberta”, o estudo revela uma clara tendência de digitalização e aplicação de tecnologias avançadas em todas as etapas do processo agrícola, desde a preparação do solo e o plantio até a colheita e distribuição, com um crescente enfoque em sustentabilidade, eficiência operacional e produtividade.