
Um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP) em parceria com a Bayer revelou que o uso de técnicas a laser é capaz de medir com precisão os níveis de carbono no solo em áreas agrícolas do Cerrado, Mata Atlântica e Pampa.
Mais do que mensurar, os cientistas identificaram aumento de até 50% no estoque de carbono nos solos do Cerrado em propriedades privadas que adotam práticas conservacionistas, como o plantio direto, em comparação a áreas de vegetação nativa.
Como foi feito o estudo
O levantamento foi realizado no modelo on-farm, em 11 fazendas comerciais que cultivam soja, milho e algodão sob plantio direto, ao longo de cinco anos.
Duas tecnologias a laser foram empregadas:
- LIBS (espectroscopia de plasma induzido por laser), para quantificar o carbono;
- LIFS (espectroscopia de fluorescência induzida por laser), para analisar a origem e estabilidade do material orgânico do solo.
Segundo o pesquisador Ladislau Martin Neto, a variação média foi de 250 toneladas de carbono por hectare em áreas agrícolas do Cerrado, contra 155 toneladas em vegetação nativa.
Na Mata Atlântica, houve perda de carbono devido à mudança no uso da terra, enquanto no Pampa os níveis permaneceram estáveis.
Implicações para o agro e o clima
O trabalho tem potencial direto para:
- Combate às mudanças climáticas, ao evidenciar a contribuição do manejo conservacionista no sequestro de carbono;
- Fortalecimento do mercado de créditos de carbono, ao oferecer métricas confiáveis e de baixo custo para quantificação;
- Apoio a políticas públicas e programas, como o Plano ABC+ e o PRO Carbono da Bayer, voltados a estimular práticas agrícolas regenerativas.
Segundo Adriano Anselmi, líder técnico da Bayer para carbono na América Latina, é essencial não só medir, mas também monitorar, reportar e verificar (MMRV) os resultados, garantindo transparência e rastreabilidade via plataformas como Connecta Procarbono e Climate FieldView.
Avanços científicos e produtivos
O estudo destacou ainda que a matéria orgânica do solo (MOS), composta por cerca de 50% de carbono, ganha estabilidade química em áreas sob manejo sustentável, aumentando as chances de retenção do carbono a longo prazo. Isso implica em:
- maior fertilidade e saúde do solo;
- melhor retenção de água, essencial em sistemas agrícolas de sequeiro (90% da produção brasileira);
- aumento da resiliência da agricultura frente aos efeitos das mudanças climáticas.
Para Martin Neto, a pesquisa mostra que restaurar e estabilizar a MOS em áreas agrícolas pode reverter processos de degradação e impulsionar a produtividade com sustentabilidade:
“Os resultados reforçam o papel do produtor rural como agente-chave no enfrentamento das mudanças climáticas, com ganhos ambientais e econômicos.”